“Gosto de pessoas que sabem sonhar e vão atrás de objectivos”
Cláudia Azevedo fundou a “Accounting Advantage” há dez anos em Alverca
É casada, mãe de três filhos e mulher de negócios num país que ainda não cumpre a igualdade de género. Cláudia Azevedo tem 39 anos, é sócia gerente da Accountig Advantage, empresa de gestão e contabilidade, sediada em Alverca. Acredita que se fosse homem já teria chegado mais longe em termos profissionais mas diz que gosta de ser quem é. A sua equipa é constituída por cinco mulheres.
Alverca já foi um dormitório para mim mas agora é onde faço toda a minha vida. Nasci em Lisboa e aos nove anos vim morar para Alverca mas continuei a estudar na capital e era lá que tinha os meus amigos. Licenciei-me em Gestão de Empresas e comecei por trabalhar por conta de outrem em Lisboa.
Enquanto trabalhava em Lisboa vim morar para Alverca. Deixar a capital significou ter mais qualidade de vida. Mais tarde achei que trabalhar em Lisboa não era o meu caminho e decidi trabalhar em Alverca. Para mim fazia todo o sentido ter um negócio próprio e estar perto da zona onde resido. É uma mais-valia e uma motivação.
No tecido empresarial português houve uma espécie de selecção natural e só os melhores e mais fortes resistiram. Quando fundei a Accounting Advantage, em 2008, Portugal enfrentava uma crise financeira. Nessa altura todas as empresas que andavam a definhar e a fazer maus trabalhos desapareceram. É um dos resultados das crises.
Sinto que nos últimos anos tem havido uma mudança para melhor no tecido empresarial. As empresas tornaram-se mais dinâmicas, mais profissionais e com vontade de quererem fazer mais e melhor. Dessa forma, a Accounting Advantage cresceu e as empresas, nossas clientes, cresceram connosco.
Vivemos um tempo em que há quase mais empresas do que pessoas. É interessante iniciar uma nova actividade mas é preciso saber o que se vai fazer ou procurar quem saiba. Noto um crescimento do número de empresas ainda mais acentuado desde 2013, quando a crise levantou. Agora poderemos ter algum tempo de crescimento, mas voltaremos ao decréscimo uma vez que é esse o ciclo natural.
Considero-me uma pessoa exigente e começo por ser exigente comigo própria e só depois com os outros. Tenho que fazer bem para mostrar aos outros como se faz. De outra forma não faz sentido liderar uma equipa.
Ter uma equipa só com elementos femininos exige muito jogo de cintura. Na Accounting Advantage, para além de mim, trabalham mais cinco mulheres. Por vezes não é fácil, mas acho que tenho muita sorte com as pessoas que tenho a meu lado, que entraram no espírito da empresa. Um espírito de luta e sacrifício, capaz de gerar muitas conquistas.
As pessoas que pensam que sabem tudo e na verdade não sabem deixam-me louca. Só mesmo a ignorância convencida para me tirar do sério. Gosto de pessoas com sonhos, objectivos definidos, capacidade de projectar algo e de alcançar o que pretendem.
A Accounting Advantage foi o meu primeiro filho por isso quem aqui trabalha pertence àquilo a que chamo a minha família empresarial. Quem me acompanhou sabe que os primeiros anos foram muito difíceis, a trabalhar de domingo a domingo. Mas sempre tive a certeza de que ia conseguir chegar onde estou hoje. Claro que ainda sonho ir mais longe embora a sociedade continue a olhar para as mulheres como as donas de casa.
Ainda não é permitido às mulheres ter muito sucesso a nível empresarial. Acho que se fosse homem já tinha chegado mais longe, mas adoro ser mulher e se pudesse escolher não prescindia de o ser. Mas confesso que não é fácil organizar uma casa e uma empresa. No entanto, acho que assim as conquistas têm mais sabor.
A minha vida social resume-se ao relacionamento com a família. Não tenho tempos livres. Tenho três filhos em casa por isso os momentos em família são passados em parques infantis, festas de aniversários. Felizmente tenho um marido que divide as tarefas comigo. Quando os filhos crescerem julgo que vou conseguir retomar algumas coisas que gosto de fazer, como dança e ginástica.