Dezenas de pessoas encheram sala do julgamento do caso da morte do triatleta Luís Grilo
Muita gente quis assistir à primeira sessão do julgamento de Rosa Grilo e António Joaquim, acusados de matarem o triatleta de Vila Franca de Xira Luís Grilo, a 15 de Julho de 2018. A viúva e acusada de homicídio quis prestar declarações e passou o dia em contradições.
Dezenas de populares de Vila Franca de Xira encheram a sala de audiências do Tribunal de Loures, na primeira sessão do julgamento de Rosa Grilo e António Joaquim, acusados de matarem o triatleta e empresário Luís Grilo. Ainda não eram 09h00 de terça-feira, 10 de Setembro, e já havia pessoas à porta do tribunal à espera de poderem entrar para o julgamento.
O primeiro a entrar na sala foi António Joaquim, de algemas nos pulsos, visivelmente mais magro e abatido, mas de barba aparada, sapato engraxado e fato azul. Nessa altura já não cabia mais gente na sala, onde estavam treze jornalistas. O habitante de Alverca, Fernando Correia, que queria assistir à sessão, ficou desiludido por ter ficado sem lugar e lamentava o facto de terem escolhido uma sala pequena e com poucos lugares para um caso tão importante.
Rosa Grilo entra segundos depois, maquilhada, sandália rasa e vestido cor-de-rosa. Os arguidos recebem indicações dos seus advogados e sentam-se lado a lado, com duas cadeiras de intervalo. Rosa olha duas vezes para o amante. O tribunal abre a audiência, com meia hora de atraso. Rosa, que como arguida pode ficar em silêncio, aceita prestar declarações.
Durante o dia inteiro em que prestou declarações ao tribunal, Rosa acabou por se contradizer, deixar muitas pontas soltas no seu discurso pouco convicto, o que deixou a juíza perplexa e o público a reagir com expressões de espanto às primeiras palavras da arguida. Houve até quem soltasse gargalhadas devido às suas incongruências.
Um dos pontos que Rosa Grilo não soube explicar foi o porquê de lhe chamarem a atenção as quatro encomendas em “caixas pequenas” - onde estariam os supostos diamantes - que Luís Grilo recebia de “seis em seis meses”, no escritório, em Alverca. Entre tantas outras que o triatleta recebia, apenas disse que as caixas lhe chamaram a atenção, “pela pressa de [Luís] ir à porta”. Esta teoria visa justificar a tese da arguida de que foram angolanos que mataram o marido.
A arguida diz que o questionou várias vezes sobre o conteúdo daquelas caixas e que este lhe começou por dizer que era “gel” (para usar nas provas de triatlo) e só mais tarde disse que eram diamantes e que “tinha feito um disparate nessas entregas”. Qual disparate? “Não me disse”, respondeu à juíza.
O público na sala manteve-se horas a ouvir as declarações, até porque a presidente do colectivo de juízes ordenou que quem saísse da sala já não podia entrar enquanto decorresse a audiência.
Contradiz resultado da autópsia
Durante a sessão, a juíza repetiu várias vezes à viúva para se concentrar e respeitar o tribunal, uma vez que apresentou várias incongruências temporais. Também lhe pediu dezenas de vezes para falar num tom audível. Rosa manteve quase sempre a voz baixa e continuou no rol de contradições, afirmando que o marido foi baleado duas vezes na cabeça, na nuca e na têmpora e não morto com um disparo, como revela o resultado da autópsia.
A arguida referiu ainda que trocou de roupa depois de o suposto assassino ter morto o marido e de ter limpo o sangue, a mando deste. Pormenor que levantou mais uma contradição, uma vez que no primeiro interrogatório a arguida respondeu: “sujou um bocadinho” mas “limpei logo aí nessa altura”, não referindo em momento algum que tinha trocado de roupa, lembrou a juíza.
Júri de olhos postos em Rosa Grilo
Um empresário, uma desempregada, uma recepcionista e uma assistente operacional que compõem o quarteto de júris efectivos suscitam curiosidade sobre o funcionamento da justiça feita por um tribunal com recurso a júri (ver texto na página 6). Nesta primeira sessão de julgamento, os júris sentaram-se atrás da defesa dos dois arguidos. O empresário foi escrevendo apontamentos na folha da acusação e duas das mulheres não tiraram os olhos de Rosa, enquanto esta apresentava a sua versão dos acontecimentos. Os quatro elementos suplentes também assistiram à audiência.
Deixa o filho à mercê do assassino
O colectivo de juízes formado por três mulheres esmiuçou cada pormenor do último depoimento da arguida. Perguntaram porque é que Rosa saiu da sua casa, nas Cachoeiras, no dia 16 de Julho, às 20h00, para participar o desaparecimento de Luís Grilo - já morto - e só regressou à meia-noite. A arguida respondeu que “os amigos do Luís começaram a chegar ao posto” e que “todos [a] questionavam”. Portanto, em vez de os deixar sem resposta, preferiu deixar “o filho em casa com um assassino”, durante quatro horas, concluiu Ana Clara Baptista. Rosa diz que tinha medo e não pensou.