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Há mais turistas mas museus da região têm menos procura
Região tem uma grande oferta de museus mas a procura tem caído, com excepção do Entroncamento, Tomar e Vila Franca de Xira

Há mais turistas mas museus da região têm menos procura

Os museus do Ribatejo perderam visitantes nos últimos anos segundo dados estatísticos oficiais. Apesar de pertencermos à região onde existe um dos mais visitados santuários do mundo, Fátima, poucos ganham com isso, com excepção de Tomar e do seu Convento de Cristo.

O MIRANTE foi à procura de dados da Pordata e do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre a realidade museológica no Ribatejo e verificou que no conjunto dos 23 concelhos da área de abrangência deste jornal existem cerca de 30 museus municipais para um universo de 600 mil habitantes. A grande maioria perdeu visitantes nos últimos seis anos apesar do aumento do turismo em Portugal.
No ano de 2012, na Lezíria do Tejo, cerca de 88 mil pessoas visitaram os museus dos 11 municípios dessa zona do Ribatejo. Em 2018, e apesar de existir mais um museu aberto ao público (Almeirim), o número de visitantes baixou para cerca de 65 mil. Uma diferença que pode revelar desinvestimento nesta área da cultura.
As razões para estes números poderão estar na falta de promoção dos museus da região em pontos estratégicos do país, mas principalmente na falta de oferta de uma boa programação cultural que atraia não só os turistas, nacionais e estrangeiros, mas também a população local.
A capital de distrito, Santarém, tem uma história muito relevante. Almeida Garrett descreve a cidade como “um livro de pedra em que a mais interessante das nossas crónicas está escrita”. São muitos os monumentos que Santarém tem para visitar, mas os números revelam que nem por isso a afluência é significativa (média de 30 mil visitantes por ano), quando comparada com outras cidades da região.
A O MIRANTE, o presidente do município, Ricardo Gonçalves, diz que metade das dormidas contabilizadas no conjunto dos 11 concelhos que compõem a Lezíria do Tejo, pertencem a Santarém. “A ideia é fazer com que as pessoas venham para visitar a cidade e não só para dormir. Por isso estamos numa fase de implementação de um plano turístico diversificado que também contempla terminar o projecto do Museu do 25 de Abril e dos Valores Universais, que acreditamos irá ter muito impacto na região e no país”, diz o autarca.
A Golegã, que tem abertos ao público três museus, Casa-Estúdio Carlos Relvas, Museu Municipal Martins Correia e o Museu Municipal da Máquina de Escrever, perdeu cerca de quatro mil visitantes num intervalo de seis anos. Estes números podem justificar-se por a Casa-Estúdio Carlos Relvas ter estado fechada durante um ano, mas a falta de programação e de uma oferta diversificada não ajuda. “Neste momento vivemos principalmente de visitas escolares. No entanto, estamos a finalizar um Plano Cultural para todo o concelho com diversas actividades para atrair turistas e a população em geral”, afirma Elsa Lourenço, chefe de Divisão de Intervenção Social da Câmara da Golegã.
O Museu Rural e do Vinho é o único museu e o ex-libris da cidade do Cartaxo. No ano de 2012 teve cerca de 24 mil visitas registadas. Em 2018 registou apenas 5.769 visitas. Contactado por O MIRANTE, o presidente da câmara, Pedro Ribeiro, justifica esta diferença devido a uma alteração na forma como a classificação dos museus passou a ser feita. “Antigamente uma conferência ou uma recepção que lotasse o auditório era considerada como visita quando as pessoas nem sequer chegavam a entrar no museu. Isso para mim era desonesto”, refere. Percebendo a discrepância nos números, o autarca conclui dizendo que “já nos caíram várias vezes em cima por causa deste assunto, mas antes de apontarem o dedo deviam saber do que falam”.
A Casa Museu dos Patudos, em Alpiarça, é considerado por muitos especialistas um dos mais importantes museus municipais do país. Recebe em média 12 mil visitantes por ano, mas a tendência é para os números irem baixando. O presidente do município, Mário Pereira, desabafa que “é muito difícil promover e comunicar com o exterior sobre o museu de forma a levar as pessoas a visitá-lo”. O Museu dos Patudos é outro dos casos em que grande parte da sua afluência vem de visitas escolares ou de eventos realizados no auditório principal.

Médio Tejo com mais procura
A zona do Médio Tejo é a que apresenta os melhores números, mesmo sem os milhões de visitantes de Fátima (ver caixa). Em 2018 recebeu cerca de 700 mil visitantes com o Entroncamento a contribuir com uma parcela de 47 mil visitas devido ao Museu Nacional Ferroviário. Torres Novas e Tomar, duas cidades históricas da região, não apresentam qualquer indicador na Pordata, o que prova que nestes concelhos há pouca preocupação no respeito pelos números e pela informação. O Convento de Cristo, em Tomar, considerado o melhor cartão de visita do distrito, teve cerca de 350 mil visitantes em 2018, a confiar nos números não oficiais.
O Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, é uma referência na região e no país. E um contributo fundamental para os cerca de 60 mil visitantes que o concelho teve em 2018, mais 23 mil do que em 2012. As razões são evidentes. Para além da proximidade que tem com um grande centro urbano (Lisboa), tem uma oferta muito diversificada, que vai desde a literatura à arte, e que agrada a um público mais vasto.

Museu do Tramagal dá nas vistas

O Museu da Metalúrgica Duarte Ferreira, em Tramagal, tem uma história com mais de um século e pretende preservar a memória e o património legado pela metalurgia do séc. XX em Portugal. Considerado Museu do Ano em 2018, irá representar Portugal na conferência mundial “Best Heritage”, a realizar na Croácia, destinada aos melhores museus do mundo.

Fátima é caso único no mundo

Fátima, no concelho de Ourém, é um caso único no mundo. Há quem afirme que é o santuário mais visitado do mundo. Em 2018 recebeu cerca de sete milhões de visitantes, cerca de 2/3 da população total portuguesa. Se recuarmos ao ano anterior, ano de visita do Papa Francisco, bateu o recorde com 9,4 milhões de visitantes. No que diz respeito a peregrinações organizadas, em 2018, visitaram a cidade 2.785 grupos estrangeiros provenientes de 26 países dos cinco Continentes. Os grupos portugueses foram na ordem dos 1.600, num total de cerca de 600 mil participantes em peregrinações organizadas.

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