O voluntariado está em vias de extinção nos bombeiros
Iniciativa do Partido Socialista de VFX juntou Corporações em Vialonga com o secretário de Estado da Protecção Civil. Associações de bombeiros dizem que não vale a pena meter paninhos quentes no problema: há cada vez menos voluntários e gente para assumir a gestão das corporações. E é também necessário renovar as frotas de socorro.
O voluntariado nos corpos de bombeiros e nas direcções dessas associações é cada vez mais reduzido e se não forem tomadas medidas de incentivo e apoio corre-se o risco de, na próxima década, acabar. O alerta foi deixado na tarde de dia 4 de Setembro no quartel dos Bombeiros de Vialonga por vários dirigentes e comandantes de corporações da região.
Os dirigentes eternizam-se nos cargos por falta de quem queira assumir responsabilidades nas associações e ao nível operacional os comandantes não têm mais sorte, com cada vez menos gente a querer servir a causa. A culpa, dizem, é não só da mudança de mentalidades mas também dos sucessivos governos que nunca clarificaram se querem bombeiros profissionais ou voluntários e nunca meteram em prática regalias efectivas que possam motivar mais gente, seja descontos no pagamento de impostos ou outros bens, como água, luz, creches ou saúde.
Os recados foram deixados a Artur Neves, secretário de Estado da Protecção Civil, numa sessão pública organizada pela concelhia vilafranquense do PS onde, além dos presidentes das câmaras de Vila Franca de Xira e Azambuja, participou também a deputada Maria da Luz Rosinha.
“Além das viaturas e dos equipamentos o grande problema é a falta de pessoas. Os bombeiros podem ter os melhores quartéis do mundo mas sem pessoas não dá e os fogos não são apenas das 09h00 às 17h00”, lamentou Luís Coimbra, presidente dos Bombeiros de Alverca que continua à espera que apareça uma lista para lhe suceder no cargo, onde está há 22 anos.
Carlos Fernandes, dos corpos sociais dos Bombeiros de Vila Franca de Xira, partilha da ideia e defende que é preciso profissionalizar o socorro. “As coisas não podem continuar assim”, avisou. Bruna Almeida, vice-presidente dos Bombeiros de Castanheira do Ribatejo, reforçou: “Sou responsável por peças de museu com quatro rodas e tenho mais responsabilidades do que retornos. Além disso, se as coisas correrem mal, vou parar a tribunal. Por vezes esquecem-se que sem bombeiros os quartéis ainda vão estando abertos, mas sem dirigentes as casas fecham portas e entregam-se as chaves”, notou.
Veículos de socorro com 30 anos
Um dos relatos mais emocionados coube a Ricardo Correia, comandante dos Bombeiros de Azambuja, que disse ao secretário de Estado o que lhe vai na alma. “Combato incêndios com dois carros com 30 anos. Gostava de saber quantos nesta sala andam com carros dessa idade. Há um abandono de décadas nos bombeiros. Estou muito preocupado com a segurança dos meus homens, nunca sei se poderão chegar ao destino”, avisou.
Lembrando que na próxima década será “escasso” o voluntariado, lamentou que seja hoje “muito difícil agarrar a juventude”, criticou que os benefícios prometidos aos voluntários nunca tenham passado de promessas.
Secretário de Estado não sabia da falta de voluntários
Artur Neves confessou ser “uma novidade” e estar a ouvir pela primeira vez os desabafos dos problemas da falta de voluntários nas corporações. “Nunca ninguém me tinha falado desse problema”, confessou, lembrando que os restantes problemas são conhecidos do governo. “O que queremos é ter associações valorizadas, com uma forte componente profissional mas sem descurar os voluntários”, notou, sem dar uma palavra sobre possíveis incentivos futuros.
Defendeu uma alteração da lei de financiamento das corporações e disse esperar que no novo quadro comunitário de apoio que está a ser negociado com Bruxelas seja possível incluir apoios à aquisição de material de protecção para os bombeiros.