uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Em tempos de 25 de Abril na varanda há que lutar por uma telescola mais sexy 


Resguardado Manuel Serra d’Aire
Fazes muito bem em jogar à defesa nestes tempos de pandemia e resistires à tentação de ires jogar à bisca lambida para o jardim com os parceiros aí do bairro. Nos tempos que correm arriscas-te não só a seres adoptado por um grupo de voluntariosos jovens ávidos por esbanjar afecto intergeracional para publicar no Instagram, como bem referiste no teu último escrito, como te podem acontecer coisas bem piores. Por exemplo ser corrido para casa à sarrafada por alguma milícia informal de zeladores da saúde pública. A não ser que compres um cão. Aí ficas com salvo-conduto garantido.
Se há coisa a que a nossa sociedade tem respeito é aos animais; não aos animais bípedes que passeiam os animais quadrúpedes mas sim a estes últimos. Nesse caso, e se o teu exemplar for vistoso e de apurada estirpe, até te arriscas a arranjar uma boa agenda de contactos para futuras folias quando a pandemia acabar. Porque os donos de cães são altamente corporativistas (uma espécie de sociedade secreta que ajuda a estrumar os jardins) e muito dados ao sentimento. Quem os vê, embevecidos, a falar das habilidades e diabruras dos seus lulus não imagina que podem ali estar trogloditas acabados como nós, que chamamos nomes aos árbitros e às senhoras suas mães, que atravessamos a estrada fora da passadeira e damos traques no cinema aproveitando o ruído de fundo das cenas mais sonoras. Não te deixes enganar pelas aparências, Manel.
Outra boa opção para andares na boavaiela sem teres problemas com as autoridades é vestires um fato de treino, se é que ainda tens algum que te sirva, e calçares umas sapatilhas, de preferência de marca, para seres levado a sério. A justificação do exercício físico é também bem recebida pelos fiscalizadores de serviço e talvez seja por isso que Portugal neste momento está transformado num país de corredores, caminhantes e passeantes de cães. Os sacrifícios que a malta faz só para poder sair de casa...
Assisti com agrado e alguma nostalgia ao regresso da Telescola, que passa agora na RTP Memória, o que faz todo o sentido. Já não é a preto e branco e as professoras e professores de hoje têm um ar menos austero do que noutros tempos. Ainda bem que assim é, até para não assustar as audiências, embora eu ache que aquele trabalho devia ser feito por quem está habituado a estar à frente das câmaras. Adorava ver a Carolina Loureiro a dar aulas de Educação Física ou a Soraia Chaves a dar Moral e Religião. Se tivesse tido professoras com esses atributos, garanto-te, nunca teria chumbado por faltas.
Este ano as comemorações do 25 de Abril vão ser à porta fechada. Lá se vão as almoçaradas e jantaradas, os convívios populares, as manifestações e os discursos da praxe. Esta coisa de celebrar o Dia da Liberdade trancado em casa dá que pensar. Lá teremos que ir para a varanda cantar o “Grândola, Vila Morena” em jeito de agradecimento aos Capitães de Abril, a não ser que também nos obriguem a calar o bico. Não te esqueças de pôr o cravo vermelho ao peito e a máscara no rosto, não vão os perdigotos de algum vizinho ganhar asas.
Um bacalhau telecomandado do
Serafim das Neves

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido