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Como vai a saúde para além da pandemia?
José Vaz Teixeira, Teresa Pinto Correia, Manuel Oliveira, Rosário Saramago e João Pita Soares

Como vai a saúde para além da pandemia?

Como estão de saúde as várias especialidades médicas nestes tempos de pandemia? A questão serve de mote para O MIRANTE falar com médicos da região de especialidades como ortopedia, gastroenterologia, estomatologia, ginecologia ou medicina familiar. Cinco especialistas contam-nos o que está para além da Covid-19.


As clínicas dentárias não precisaram de esperar pelo estado de emergência para ter a rotina alterada, conta-nos Rosário Saramago, médica dentista na clínica com o mesmo nome, no Entroncamento. A 15 de Março saiu uma portaria que determinou o encerramento obrigatório de todas as clínicas dentárias, exceptuando apenas os casos urgentes e inadiáveis. Mas contam-se pelos dedos de uma mão os casos que Rosário atendeu desde o início do isolamento social.
Surgiram alguns casos de pessoas que partiram dentes ou que estão com dores que já não passam com medicamento, mas de uma forma geral as pessoas estão a resguardar-se, têm medo. “A partir do momento que ouvem na televisão que um dos locais onde podem ser contagiadas mais facilmente é no dentista, só se estiverem mesmo a morrer é que lá vão”, confessa a médica, lamentando a difícil situação económica que se avizinha. “Estamos sem trabalhar e não temos rendimentos. Há contas para pagar e não há garantia de que quando isto acabar o trabalho volte.
Não é que não haja necessidade de ir ao dentista, mas as pessoas provavelmente não vão ter possibilidades financeiras para cuidar da saúde oral”, afirma Rosário Saramago adivinhando que, com a perda de rendimentos, a ida ao dentista vai ser protelada para depois das necessidades básicas como a habitação e a alimentação.
Médico ortopedista no Hospital da CUF em Santarém e na Clínica de Reabilitação do Nabão, em Tomar, Manuel Oliveira diz que as consultas de rotina foram suspensas e a actividade está reduzida a 80%. “Normalmente os doentes de ortopedia são doentes já com alguma idade e esta é também uma maneira de os protegermos”, afirma o clínico.
Nas cirurgias fazem-se apenas as urgentes. Todas as que estavam programadas ficaram sem efeito. Continua, contudo, a atender urgências relacionadas com sinistrados enviados por companhias de seguros. No Centro de Reabilitação do Nabão estão a fazer fisioterapia apenas os doentes em pós-operatório. “São tempos complicados, mas temos que continuar a assumir os compromissos com os funcionários”, confessa Manuel Oliveira, reforçando o apelo a que as pessoas fiquem em casa, mas que tenham cuidado e não caiam para não haver fracturas de ossos.
José Vaz Teixeira, médico gastroenterologista, nos Consultórios Médicos Associados de Torres Novas, cancelou voluntariamente todas as consultas e passou a fazer atendimento telefónico para orientar os pacientes. Um tipo de consulta que, diz, serve para os doentes que já tiveram várias consultas presenciais e que, por norma, necessitam de reformular uma terapêutica ou ouvir uma opinião sobre um novo sintoma. “Os que insistirem em ter consultas não o nego”, afirma o médico acrescentando que no consultório foram tomadas as medidas necessárias como a placa acrílica no balcão de atendimento e os equipamentos de protecção individual para clínicos e administrativos.
Os doentes estão a fugir de ir às urgências do hospital com medo de serem contaminados, diz Vaz Teixeira, corroborando a ideia com dados da Direcção-Geral de Saúde que referem que o número de óbitos por doenças que não têm nada a ver com o novo coronavírus tem aumentado porque as pessoas refugiam-se em casa e não saem. “A pandemia está a ser um terramoto na vida das pessoas, a todos os níveis, da saúde à economia”, remata o clínico.
Teresa Pinto Correia, ginecologista e obstetra no Hospital CUF de Santarém e Torres Vedras, confessa que os hospitais privados não estavam preparados para a pandemia.
Não havia material disponível para protecção ou desinfecção como nos hospitais públicos e os profissionais de saúde tiveram logo uma reacção de desmarcar as consultas enquanto não fossem asseguradas as condições de segurança. “Assim que a situação piorou foram suspensas as consultas mantendo-se apenas as dos grupos de risco e grávidas. Desde então realizei três cirurgias ginecológicas urgentes”, conta a médica reforçando a importância do uso da máscara.
Seria impossível conciliar o trabalho normal com os casos de Covid-19
Mas se algumas especialidades ficaram a meio gás desde o início da pandemia, outras vêem-se a braços com um aumento exponencial de trabalho e não é preciso ir aos hospitais dedicados à Covid-19 para as encontrar. Para João Pita Soares, médico de família e director da Unidade de Saúde Familiar Almeida Garrett, em Santarém, o novo coronavírus inundou toda a azáfama do dia-a-dia no centro. “A afluência reduziu bastante, mas isto não quer dizer que tenha reduzido o volume de trabalho. As pessoas que estão no domicílio em vigilância activa são seguidas por nós. Temos que telefonar e saber como estão esses pacientes. Depois desse seguimento diário temos que preencher o historial clínico de cada doente e esse tipo de trabalho ocupa muito tempo”, revela o clínico.
Neste momento, no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) da Lezíria do Tejo há cerca de 1.020 pessoas em vigilância activa e sobreactiva (aqueles que têm sintomas, fizeram testes ou estão a guardar para fazer teste). “Se tivéssemos a normal afluência de pacientes mais as novas funções por causa da Covid-19 seria impossível”, diz-nos o médico, confessando que mesmo assim ainda tem que levar trabalho para casa. “Tivemos dois médicos da USF em casa de quarentena, por contacto directo com infectados com o novo coronavírus. Regressaram na última semana e foram logo para a guerra, não há tréguas”, remata Pita Soares.

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