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Bombeiros para todo o serviço e o drama dos carteiristas

Enclausurado Manuel Serra d’Aire

Parece que está na moda chamar os bombeiros para irem cantar os “Parabéns a você” a crianças ou outras pessoas aniversariantes que vivem em isolamento. É mais uma daquelas lamechices da moda por que se pelam os telejornais e as redes sociais que me deixa embasbacado. A coisa chegou a tal ponto que os Bombeiros Voluntários de Vialonga tiveram que emitir um comunicado a informar que é impossível atender aos pedidos que lhes têm chegado nesse sentido. Não só porque andam assoberbados com o trabalho que têm como pelas medidas de segurança que têm que cumprir nestes tempos de pandemia.
Esta foi uma das situações mais extravagantes que observei nestes tempo de pandemia e que pode estar directamente relacionada com a proximidade de Vialonga a uma das principais fábricas de cerveja do país. Será que os vapores etílicos emanados pela unidade industrial podem estar a causar efeitos secundários na população que a leve ao ponto de confundir os bombeiros voluntários com o coro de Santo Amaro de Oeiras?
O slogan “Vamos ficar todos bem”, curiosamente importado de Itália, onde o descalabro causado pela pandemia de Covid-19 foi até agora mais evidente, parece-me manifestamente exagerado. Se fosse qualquer coisa do género “Vamos ficar todos mais pobres” ou “Vamos ficar todos mais badochas (ou mais esquálidos)” parecer-me-ia mais ajustado à realidade, embora a generalização seja sempre abusiva. Assim, parece-me apenas uma frase inócua e sem sentido, adoptada por muitos que, não acreditando em Deus ou não sabendo rezar, julgam que essa sentença ou cartazes com arco-íris à janela produzem milagres. Esqueçam lá isso!
Quando ouço alguém dizer que vamos ficar todos bem lembro-me logo daquele patusco ministro da propaganda de Saddam Hussein que, perante o avanço imparável das tropas americanas na Guerra do Golfo, proferia grandes discursos motivadores aos iraquianos garantindo que os infiéis invasores estavam à beira de ser derrotados estrondosamente. Depois, foi o que se viu... E é o que se vê e se vai ver agora por todo o mundo... Não, não vai ficar tudo bem, mesmo que as injecções de desinfectante anulassem o vírus, como outro alucinado estadista sugeriu.
Perante a carestia que vai alastrando não há sector de actividade que não reclame ajudas do Governo. Tudo quer mamar na teta do orçamento. Daí sublinhar a excepção à regra protagonizada por uma classe das mais afectadas pela crise da pandemia. Falo da classe dos carteiristas que, com o fim dos ajuntamentos humanos, do turismo de massas e da redução drástica dos transportes públicos, ficou sem ganha-pão. O 13 de Maio em Fátima, uma das épocas altas da actividade, este ano não vai ter multidões, os festivais de Verão foram para o galheiro, o futebol de estádios cheios idem e os transportes têm de andar com meia lotação.
O ecossistema onde essa espécie nada como peixe na água deixou de existir, pelo menos por uns tempos. E que fez o Governo, os sindicatos ou as instituições de solidariedade por essa gente? Nada! Uma tristeza! Diria mesmo: uma inconstitucionalidade! Porque o sol quando nasce é para todos, carteiristas incluídos...
Saudações proletárias do
Serafim das Neves

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