O Estado não paga, não paga, não paga
As cativações são o sistema mais perverso que o Estado português inventou para baixar a dívida pública. Foi com este tipo de esquemas que o ministro Centeno ficou conhecido como o Ronaldo das Finanças.
A malta do Estado, que governa o dinheiro do Estado, bem pode atravessar pandemias e épocas trágicas de fogos, cheias do Tejo, tempestades de granizo e outras catástrofes, que não muda nem que a vaca tussa. A situação que atravessamos, com a crise provocada pelo coronavírus, alterou a nossa vida individual e colectiva de maneira abrupta e, nalguns casos, extrema ao ponto de nunca mais voltar a ser como era. Ninguém sabe o que nos espera ainda. O Estado, e a malta que trabalha nos organismos do Estado, está na mesma como a lesma, nomeadamente nas relações com os contribuintes, com as empresas e os empresários. Do cimo do altar em que vivem todos os dias, na segurança dos deuses do poder e do dinheiro dos contribuintes, e dos impostos que pagamos automaticamente como pagamos com a vida os erros que cometemos, ignoram as dívidas e os compromissos daqueles que, no mercado livre e concorrencial, arriscam, apostam, investem e entregam-se ao trabalho como gente grande, e civilizada, que não acredita no milagre de Fátima mas respeita quem acredita.
Na passada semana demos visibilidade à divida milionária do Estado a uma empresa da área dos transportes públicos que trabalha na nossa região e que precisa do dinheiro que o Estado lhe deve para poder continuar a trabalhar e pagar vencimentos. Mas esta é apenas uma situação, entre milhares, em que o Estado, pela voz dos políticos diz uma coisa, e depois na acção dos burocratas faz outra completamente diferente. Há organismos do Estado que, por causa das célebres cativações dos governos de António Costa, não pagam o que devem; não pagam, não pagam, não pagam, e ainda respondem de forma descarada aos que vão atrás do dinheiro, argumentando que o país atravessa momentos difíceis e que, nesta altura, não é fácil resolver problemas.
António Costa, em nome do Governo socialista que lidera, tem passado uma imagem de serenidade e seriedade que não se ajusta a esta política de calotice, quase criminosa, que corrói e destrói a vida e a honra de muita gente que confiou no Estado. Provavelmente não foi ele que inventou este esquema das cativações, mas é com esta forma trapaceira de governar que o ministro Mário Centeno é conhecido como o Ronaldo das Finanças; e foi assim que o Governo conseguiu apresentar para 2020 um Orçamento de Estado considerado histórico, porque previa um excedente orçamental, coisa inédita em Portugal desde que vivemos em democracia. Coisa que um vírus, com o tamanho e a magnitude de uma perversidade como as cativações, vai transformar provavelmente no maior défice orçamental desde 1974. JAE.