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Novas tecnologias aproximam as mães dos filhos mas faltam os abraços e beijos

Viagens para os países onde vivem os filhos foram canceladas e as saudades aumentam.

No Dia da Mãe fomos ao encontro de três progenitoras que matam saudades dos filhos, ausentes noutros países, através de vídeochamadas. A Internet atenua as saudades mas todas dizem que nada substitui a presença, o toque, um abraço.

Gina Morais, do Sardoal, viu a filha Neuza partir para Inglaterra há oito anos e vive com o coração “apertado”. As saudades são imensas, ainda mais desde que a neta, Sofia, nasceu há dois anos e meio. A família não está junta desde o final do ano passado. As saudades são atenuadas com videochamadas diárias durante as quais os avós se “derretem” porque a neta já pede para falar com eles.
Gina e o marido Fernando não estavam à espera da decisão da filha de emigrar, mas devido à falta de trabalho pensaram que seria uma oportunidade a não perder. Eles próprios emigraram para o Canadá quando a filha tinha quatro anos e regressaram ao Sardoal quando ela fez oito.
O casal vai três a quatro vezes por ano a Inglaterra mas este ano foi diferente. A viagem que estava marcada para 22 de Março, em que se assinala o Dia da Mãe naquele país, teve que ser cancelada devido à pandemia da Covid-19.
Em Santarém, Rosa Fernandes tem o filho David em França. Já lá vão quatro anos. A partida de David foi algo que a “mãe galinha”, como a própria se apelida, não viu com naturalidade. Rosa passa a vida a pensar nos reencontros com o filho e o que lhe vai valendo são as novas tecnologias. Quando O MIRANTE falou com ela, o pacote de dados móveis do mês de Abril já tinha sido largamente ultrapassado porque, principalmente nesta altura, fala com o filho mais de três ou quatro vezes por dia e diz que, se pudesse, estava em videochamada o dia inteiro.
Para além de ver o filho vê também os netos, o mais novo dos quais nasceu no dia 20 de Abril. “Estou com o coração apertadinho”, diz em lágrimas. “Isto é muito difícil em situação normal, mas agora com a questão de não poder ir abraçar o meu filho e o meu neto, por causa da Covid, estou a dar em doida”, confessa.
David já tinha comprado os bilhetes de avião para os pais irem conhecer o neto. A viagem estava marcada para 28 de Abril, mas os planos tiveram que ser abortados e não sabe quando irá voltar a ver a família.
Também há quatro anos, Beatriz partiu para a Irlanda e deixou a mãe, Paula Medinas, na Chamusca. A partida foi vista com naturalidade. Beatriz aspirava a mais e a mãe nunca pensou impedi-la. “Eles ganham asas e temos que os deixar voar. Claro que há sempre receio, mas aprendi a lidar com isso” adianta Paula, uma mãe que se diz “atípica” porque considera o Dia da Mãe “uma questão de marketing” que não lhe transmite nenhum carinho especial.
Para Paula a emigração hoje é diferente. As ausências que antes eram mais marcadas são agora atenuadas com as novas tecnologias. “Falamos diariamente por Whatsapp ou Skype. Vejo-a todos os dias e vê-la bem e feliz ajuda a ultrapassar a distância”, garante.
A filha de Natércia Valério partiu há cinco anos de Benavente para a Suíça à procura de melhores condições de vida. Desde essa altura mãe e filha tentam minimizar as saudades através de um ecrã. “Tive de aprender a trabalhar com as redes sociais para poder falar com ela”, conta, confessando que não foi tarefa fácil e que só aprendeu depois de muitas lições dadas pela filha mais nova que vive em Portugal.
Nos primeiros anos, Susana Teixeira, a mais velha de três irmãos, vinha a Portugal com frequência. Depois deixou de vir e a mãe, que nunca se habitua às saudades, conta os dias para a voltar a ver. “Sei que pergunto vezes a mais se já marcou férias e se o destino é Portugal”, reconhece, acrescentado que sonha com o regresso definitivo da filha.

Com o fado da emigração no ADN

Segundo um relatório do Gabinete de Estatísticas da União Europeia, Eurostat, cerca de 70% dos jovens desempregados portugueses, entre os 20 e os 34 anos, estão mais predispostos do que qualquer outro jovem da União Europeia a mudar de cidade ou de país para procurar emprego. Um valor bem superior à média europeia que é de cerca de 50%.
Talvez tenha ficado no ADN destes jovens o fado da emigração que em décadas passadas levou milhares de portugueses a aventurarem-se pelo mundo. Primeiro para o Brasil, no final do século XIX início do século XX, depois para França, nas décadas de 50 e 60 do século passado, e, agora, no que os especialistas apelidam de uma terceira vaga, um pouco para toda a Europa e África.
Esta nova vaga, onde se incluem os filhos das mães entrevistadas por O MIRANTE difere das anteriores. Trata-se de jovens qualificados, enfermeiros e engenheiros, que não encontraram mercado de trabalho em Portugal e tiveram a necessidade de sair do país.

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