Edmundo Rivotti não consegue estar parado e aproveita todas as oportunidades para trabalhar e ganhar novas experiências. Foi jornalista durante 12 anos, depois de uma passagem pela rádio e pela produção de televisão. Aventurou-se no cinema, onde participou na montagem, produção e pós-produção de um filme para Guimarães Capital Europeia da Cultura. “3X3D”, realizado por Peter Greenway, Jean-Luc Godard e Edgar Pêra, que chegou a passar na sessão de encerramento do Festival de Cannes em 2014.
Há cinco anos decidiu procurar novas aventuras e maior estabilidade financeira. Aterrou em Edimburgo (Escócia), onde viveu dois anos. Em 2017 mudou-se para Dublin, onde, conta, lavou muitos pratos até chegar a chef sénior do Finnstown Castle Hotel, considerado um dos hotéis mais carismáticos da capital irlandesa. Está em casa desde 20 de Março, dia em que a sua empresa entrou em lay-off devido à pandemia provocada pela Covid-19. Este descanso forçado permitiu-lhe concluir um projecto que estava adiado há cerca de quatro anos. “Trabalhava 10 horas por dia e quando chegava a casa queria era descansar por isso tinha muitos projectos por terminar”, conta a O MIRANTE em entrevista realizada por videochamada.
Rivotti sempre foi um apaixonado por música. Nos anos 90 do século passado estudou na Canto Firme, de Tomar, e integrou várias bandas de Tomar, que chegaram a abrir os concertos dos Xutos&Pontapés ou Ritual Tejo. Aos 45 anos lançou o seu primeiro single a solo que tem mais de 50 mil visualizações no youtube e está disponível em todas as plataformas digitais de música. “Outer Space (I don’t believe it) contou com a participação de Paulo Bizarro (baixo) e Cató Calado (guitarra acústica), ambos membros da banda de Tomar Quinta do Bill. Gonçalo Gato, compositor residente da Casa da Música em 2019, também participou no single tocando guitarra eléctrica.
Edmundo Rivotti explica que a letra da música é autobiográfica e que o videoclip está gravado desde 2016. A canção ficou concluída este ano. “Quando a letra reflecte as minhas vivências é mais fácil fazer as filmagens primeiro. Emigrei com 200 euros e vivi numa tenda como se vê no videoclip. Já tinha uma ideia na minha cabeça sobre o que iria escrever. Esta pausa foi o que precisei para concluir algo que queria fazer há muito tempo”, sublinha.

Saudades de sardinhas e sopa da pedra
Há cerca de dois meses regressou ao jornalismo, onde trabalha no LusoTimes, um site em português para a comunidade de língua portuguesa que vive no Reino Unido. Ainda está a ponderar se depois do lay-off regressa ao hotel ou se fica só pelo jornalismo. “Estamos a viver tempos muito incertos. É um dia de cada vez e consoante os próximos tempos decido o que fazer. Se regresso à cozinha ou se me dedico ao jornalismo e à música. A cozinha é uma boa opção porque ganha-se bom dinheiro”, afirma.
Desde que emigrou nunca regressou a Portugal. A viver em Dublin diz que tem optado por passar férias noutros locais. Rivotti confessa que do que tem mais saudades é da família, dos amigos e da comida portuguesa. “Aqui não sabem cozinhar. É só peixe e batatas fritas, o chamado ‘fish and chips’, hambúrgueres e pizzas. Em casa faço comida portuguesa. Que saudades tenho de uma boa sopa da pedra... Chegava a ir de propósito de Tomar a Almeirim para comer sopa da pedra. Também sinto muita falta de comer sardinhas porque cá não há”, confessa.
Para o músico, Dublin é uma Lisboa em ponto mais pequeno, também com muitos turistas. Há também muitos brasileiros que vivem na capital irlandesa para aprenderem a falar inglês. Rivotti diz-se um homem do campo e vive a 20 quilómetros da capital, numa pequena vila que apelida da Golegã da Irlanda. Regressar definitivamente a Portugal está nos seus planos, só não sabe quando. Mas nunca será para viver numa grande cidade. Regressar a Tomar é uma das hipóteses.