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A porra, o “downburst” e o vinho que dá de comer a tanta gente

Calejado Serafim das Neves
Chamas a atenção, no teu último e-mail, para a vitória de Almeirim na corrida dos crematórios, batendo Entroncamento e Santarém. Para mim, a corrida ainda não acabou. Esta foi apenas a primeira etapa. A da inauguração oficial que, por acaso, foi a correr como se toda a gente estivesse com medo de ser chamada para experimentar a geringonça, digamos assim.
Resta saber agora se Almeirim se aguenta no topo ou se irá permitir que um dos outros competidores comece a... cremar primeiro. Mas isso claro vai depender do povo em geral. E aqui não há o factor casa, porque, ao contrário dos cemitérios, onde só podem ser enterrados os recenseados no concelho, os crematórios não discriminam ninguém.
De Almeirim passo já para Fazendas de Almeirim, onde um dia destes, a meio de uma chuvada e queda de granizo, sopraram, durante uns minutinhos, ventos fortes e rasteirinhos, que partiram ramos de árvores e deitaram abaixo alguns candeeiros. O pessoal começou por falar num fenómeno meteorológico. Jornalistas especialistas correram a explicar que se tratou de um “downburst”.
Não sei qual foi o efeito da douta explicação, mas acredito que, desde essa altura, as pessoas lá da terra é só “downburst” para aqui, “downburst” para acolá, provando, mais uma vez, a importância da informação rigorosa e fidedigna.
Alguns puristas poderão criticar a coisa porque o palavrão está em inglês e até os ingleses não sabem muito bem o que aquilo é, mas isso é só a nossa eterna mania de criticar tudo o que lhes cheira a inovação linguística.
Como te lembras, aconteceu o mesmo com palavras que agora integram de pleno direito a língua portuguesa como stalking, carjacking, draft, bullying e que já ninguém consegue passar sem dizer várias vezes ao dia, quanto mais não seja para refrescar a boca.
Por falar em refrescar a boca e, já agora, a goela, lembro-me de haver quem acusava o ditador Salazar de ter incentivado o consumo de vinho quando dizia que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses. Lembrei-me disso ao ler um texto com o sugestivo título, “Bebam vinho, porra!”, da autoria, não de um ditador, mas de um jornalista e produtor de vinho, chamado Pedro Garcias.
Esta coisa da defesa das tradições não se resume à continuação das touradas ou do corte de fitas nas inaugurações oficiais, como noutros tempos. “Bebam vinho, porra!”, é uma actualização ou “upgrade”, se quisermos falar português moderno, do “beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses”.
Claro que Salazar não queria saber se os portugueses iriam beber carrascão do pipo ou “engarrafado, mas o jornalista produtor não quer que bebamos vinho “bag-in-box”, que são os garrafões de agora. Bom amigo dos consumidores ele defende que bebamos do bom, daquele que raramente aparece nos supermercados e que custa mais de vinte ou trinta euros por garrafa de sete e meio. Um amigão é o que ele é!!
Não sei se o alerta dele te sensibiliza mas estou determinado a fazer-lhe a vontade assim que passar a ganhar o triplo. A última coisa que quero é que os produtores passem mal. Ou, como ele diz, que se “arrisquem a morrer por excesso de consumo próprio, tamanho é o stock que possuem na adega”.
Saudações de origem controlada
Manuel Serra d’Aire

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