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“O Politécnico de Santarém é uma federação de poderes”
Para João Moutão falta um projecto colectivo para o Politécnico de Santarém

“O Politécnico de Santarém é uma federação de poderes”

João Moutão, 42 anos, assumiu as funções de presidente interino do Politécnico de Santarém após a destituição do anterior presidente, José Potes, de quem foi vice-presidente. Está a prazo enquanto não é eleito novo líder e não pensa candidatar-se, dizendo-se focado na preparação do novo ano lectivo. Considera que é necessária união interna e um projecto colectivo para o IPSantarém se afirmar. Uma entrevista por ocasião do 40º aniversário do instituto.

Ser presidente do IPSantarém a prazo é uma missão ingrata?

Não me sinto presidente a prazo. Sinto que tive o voto de confiança do Conselho Geral para liderar o instituto neste momento. Sinto um dever de missão e uma responsabilidade muito grandes. Tenho um grande orgulho em estar neste projecto, com a equipa que tenho, e poder ajudar o politécnico. Estou essencialmente focado em garantir que esta transição ocorra da melhor forma e que o nosso politécnico saia deste processo incólume. E que o processo democrático, de discussão, de participação possa ocorrer sem problemas. A qualidade da liderança que vier dependerá muito da partilha de ideias e da reflexão crítica.

Pensa concorrer à presidência, para dar continuidade ao projecto que abraçou há dois anos, como vice-presidente de José Mira Potes?

Neste momento não. Só estou focado nesta missão que me foi incumbida e que pretendo terminar.

Sendo actualmente presidente seria lógico que pudesse ter a aspiração de querer continuar no cargo.

Poder podia, mas não tenho pensado nisso.

Não tem a ver com uma eventual falta de apoios ou por já haver uma candidatura anunciada, do professor Abel Santos, à presidência do IPSantarém?

Isso deixa-me um pouco mais despreocupado. Não faltam candidatos, há pelo menos um…

E se o desafiassem para uma candidatura alternativa a essa?

Como já disse, neste momento não penso nisso nem tenho essa preocupação. O que me foi solicitado é de grande responsabilidade e estou muito focado nisso.

Passou-lhe pela cabeça que pudesse haver um processo de destituição a meio de um mandato, tal como aconteceu este ano?

(risos) Isso não passa pela cabeça de ninguém…

Como é que viu esse processo?

Prefiro não comentar. Gosto de fazer pontes e de abrir portas. Tenho tentado fazer isso. Juntar as pessoas, ouvi-las, aproveitar oportunidades e trazer valor. O IPSantarém precisa de união.

Não acha que com este precedente, da destituição de um presidente e da sua equipa, essa união fica ainda mais difícil? Qualquer foco de contestação interna pode tentar seguir a mesma via que seguiram os que destituíram José Potes.

O Politécnico de Santarém tem um potencial enormíssimo. As próprias pessoas da instituição e da região, muitas vezes, não têm essa percepção. O que nos tem faltado é união, cooperação, um projecto colectivo.

Há demasiadas capelinhas?

Tem a ver com a nossa cultura organizacional muito centrada nas escolas. Há institutos em que há um presidente eleito que nomeia os directores das escolas, que por sua vez nomeiam os coordenadores de curso. Há uma cadeia de comando, há uma orientação. Aqui não é assim. Os nossos estatutos são diferentes. Prevêem uma autonomia administrativa, há assembleias de escola, os directores são eleitos pelas suas escolas.

Ou seja, o IPSantarém é uma espécie de federação de poderes.

Sim. Ou bem que há uma capacidade de liderança para unir ou não é possível desenvolver projectos de escala. E isso é o que faz a diferença neste momento. Esse era um dos nossos projectos e foi aí que as coisas começaram a correr mal. É um processo que tem que ser gerido com muita sensibilidade. A vantagem do actual modelo é que o poder está mais distribuído e as escolas acabam por ter maior liberdade de estratégia e de acção. Mas o reverso da medalha é que quando precisamos de reagir em termos institucionais, em termos de grupo, e ter massa crítica, não o conseguimos fazer. Não conseguimos cooperar entre nós. Olha-se para politécnicos como o de Leiria ou o de Setúbal e vemos que têm uma imagem corporativa.

Como se dá a volta a isso?

Temos que ter projectos entre as várias escolas, porque é aí que se ganha escala. E pensar em redes na região, com a Nersant e empresas, com as comunidades intermunicipais, com a sociedade, e redes institucionais em Portugal e na Europa. O Politécnico de Santarém tem de pensar grande. Há aqui algum atraso mas temos as bases lançadas para o futuro.

Para haver mudanças tem que haver disponibilidade para mudar

Politécnicos do interior, como o de Bragança, são um exemplo na captação de alunos, nomeadamente estrangeiros. Que tem feito o IPSantarém para atrair estudantes?

O Politécnico de Santarém aumentou mais de 400 alunos nos últimos dois anos. Tínhamos 3.578 alunos em 2017, passámos para 3.851 em 2018/2019 e em 2019/2020 tivemos 4.066 estudantes. Este aumento tem sido consistente e tem a ver com a qualidade da nossa oferta formativa e com a divulgação feita.

E tem a ver também com a procura de estudantes estrangeiros ou a procura é sobretudo de estudantes nacionais?

Tem sobretudo a ver com uma estratégia que se implementou de divulgação da oferta formativa e de comunicação. Tivemos no ano passado mais do dobro de candidatos em relação às vagas disponíveis nas licenciaturas.

No meio de tanta procura continuaram a existir cursos sem candidatos.

Pois… Temos vindo a reduzir o número de vagas para os nossos cursos nos últimos anos lectivos e o preenchimento das vagas que disponibilizámos aumentou significativamente. Nas licenciaturas tínhamos cerca de 85% de ocupação das vagas e este ano lectivo das 874 vagas preenchemos 860. Nos casos dos mestrados e dos TeSP (Cursos Técnicos Superiores Profissionais) as taxas também têm aumentado consistentemente nos últimos anos. Nos mestrados tivemos este ano 92% de candidatos face às vagas disponibilizadas, que eram 376.

Tem havido extinção de licenciaturas por não terem procura e foram criadas outras mais adequadas aos tempos que correm. Isso vai acontecer no próximo ano também?

Sim. Há cursos novos nos TeSP, nas licenciaturas – Marketing e Podologia - e nos mestrados, dois deles na área da enfermagem e outro na área da engenharia agronómica. Nestes três ciclos desenvolvemos acreditações para novas ofertas formativas. Tem havido um grande aumento de alunos nos TeSP e nos mestrados. Este ano tivemos 2.843 alunos em licenciaturas, 668 nos TeSP e 516 em mestrados.

A crise económica e social que se vive pode reflectir-se na procura por parte dos estudantes?

Essa é uma preocupação transversal a todo o sistema de ensino superior. O número de estudantes que se candidata ao ensino superior tem vindo a reduzir por causa da natalidade e se as condições económicas ficarem mais difíceis ainda se vai reduzir mais. É expectável que possa ter algum impacto. Mas estão a ser desenvolvidas algumas medidas que podem mitigar esse efeito.

Nomeadamente?

Através do acesso aos estudantes do ensino profissional, que vão ter um concurso específico. Não é um número de vagas muito elevado mas são algumas, 10 por cento. E Portugal tem aqui uma vantagem em relação a outros países, por termos vindo a lidar bem com a Covid-19. Há aqui oportunidade para que estudantes de outros países, por exemplo da América do Sul, onde há um grande descontrolo, possam escolher Portugal para estudar, por ser um país seguro.

Vai continuar a haver ensino à distância?

Sim. As recomendações da tutela é que se mantenha o sistema que mistura ensino presencial com ensino à distância. Temos obrigatoriamente de realizar 25% do trabalho em modo presencial. Vamos identificar quais as actividades que terão de ser realizadas presencialmente, porque não pode ser de outra maneira, e aquelas que podem ser dinamizadas à distância. Isso será feito escola a escola e área a área.

Que mensagem gostaria de deixar à comunidade académica?

Há uma mensagem importante que gostava de deixar: os recursos existem mas isto não se vai fazer de um dia para o outro. Mesmo a relação com as empresas, com a sociedade, demora anos a construir, a ganhar confiança. E tem que haver uma disponibilidade para as mudanças para que as coisas possam efectivamente mudar.

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