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Linhas de apoio psicológico das autarquias atenuam fragilidades do sistema
Núria Duarte, Catarina Gonçalves e Ana Morgado

Linhas de apoio psicológico das autarquias atenuam fragilidades do sistema

O estado de emergência terminou mas o medo do vírus continua presente, assim como o impacto da pandemia na saúde mental. O apoio psicológico dos municípios ajuda a prevenir males maiores quando a resposta dos hospitais esteve concentrada na Covid-19.

O reforço dos cuidados na saúde mental enquanto durar a pandemia de Covid-19 é fundamental para travar a ansiedade, desespero, dúvidas e incertezas. Foi para dar resposta a estas situações emergentes e para evitar perturbações no bem-estar psicológico que municípios da região como Vila Franca de Xira, Azambuja, Santarém, Tomar, Ourém, Alcanena, Coruche e Abrantes activaram linhas de apoio psicológico.
“Muitas pessoas apresentam sinais de incerteza e falam de receios e sentem que ao contactar a linha esperam do outro lado uma resposta técnica e diferente do que teriam de outra forma”, afirma Ana Morgado, psicóloga clínica da linha de apoio do município de Vila Franca de Xira, sublinhando que se tenta perceber o que está na base da ansiedade e a partir daí ajudar a criar mecanismos para destruir os bloqueios emocionais.
Lançada a 1 de Abril, a linha de apoio e encaminhamento psicológico deste município ribatejano recebeu 33 pedidos de ajuda, dos quais 20 beneficiaram de aconselhamento psicológico. Por que motivos telefonam as pessoas? Sobretudo devido a receios com o estado de saúde devido a diagnóstico, receio ou suspeita de infecção de quem liga ou de outro elemento do agregado familiar.
É também relevante a expressão de preocupações relativamente ao futuro em várias áreas, nomeadamente no que diz respeito à insegurança no vínculo laboral, perda de rendimentos e receios de contágio por via da actividade profissional, da utilização de transportes públicos ou até de uma ida ao supermercado.
As preocupações são transversais e derivam na maioria dos casos da pandemia, mas, nota Catarina Gonçalves, psicóloga na Câmara de Azambuja, “os casos de pânico e ansiedade têm sido mais recorrentes em pessoas que já tinham previamente fragilidade psicológica, quadros de depressão e bipolaridade”. E também em doentes crónicos “por perceberem que são um alvo fácil para o vírus” e que o contacto com outros passou a ser forte ameaça.
Além disso, acrescenta Núria Duarte, psicóloga da linha de apoio psicológico de Alcanena, “muitas vezes o medo do vírus fez com que não se recorresse aos serviços de saúde necessários para fazer exames, análises e fisioterapia, o que poderia auxiliar na promoção do estado de saúde mental”.

Aumento de depressões é expectável
Para Catarina Gonçalves, continuar o trabalho de prevenção é fundamental para evitar um aumento dos casos de depressão, expectáveis numa crise social e económica. A psicóloga alerta que o país tem uma rede de apoio psicológico e psiquiátrico muito frágil, com tempos de espera muito longos. E observa que muitos doentes deixaram de ter acesso a consultas de psicologia “porque os hospitais deixaram de as poder assegurar”, perdendo, com isso, as orientações médicas necessárias para travar o aumento do stress e ansiedade.
Desde a activação da linha de apoio da Câmara de Azambuja surgiram 55 pedidos, dos quais oito estão em apoio continuado. Em Santarém, em média, são atendidas 14 chamadas por dia pela linha de apoio psicossocial criada pelo município. A funcionar desde 27 de Março, com cinco psicólogos, a maioria das ligações recebidas foi feita por idosos com “episódios de crise ansiosa, activada pelas condições associadas ao isolamento social”, esclarece o município.
Coruche recebeu 16 chamadas, Alcanena 14 e Tomar 5, com uma incidência etária muito alargada, a variar entre os 17 e os 84 anos. Em Abrantes, das 651 chamadas telefónicas, numa linha comum que também pretende dar resposta a situações de carência económica e outras, apenas sete seguiram para acompanhamento psicológico, segundo Cláudia Paixão, técnica superior do município.
Fora deste padrão de procura, até 25 de Maio, a linha de apoio disponibilizada pela Câmara de Ourém, activada a 3 de Abril, não tinha recebido qualquer chamada. No entanto, esclarece o município, “os casos integrados num quadro de acompanhamento psicológico, registados antes do início da crise pandémica, continuaram a ser monitorizados via telefone”.

Criar rotinas para manter o controlo
Alterações à rotina precisam de tempo de adaptação, especialmente quando são impostas por uma ameaça à saúde pública que não é visível. O essencial, alertam as psicólogas, é criar ferramentas de trabalho e gestão familiar e emocional que ajudem a manter o controlo, assim como criar alternativas para a ocupação do tempo livre.
“Percebemos que a reorganização das rotinas é um processo difícil para muitas famílias”, seja porque passaram a “estar na mesma habitação 24 sob 24 horas, porque não se conseguem cumprir as responsabilidades económicas ou porque os pais não conseguem ajudar os filhos nas matérias da escola, nomeadamente a trabalhar com os programas informáticos [da telescola]”, observa Catarina Gonçalves.
O que tem acontecido, evidencia Ana Morgado, é que nestes “períodos de maior stress as pessoas ficam bloqueadas e deixam de conseguir reconhecer as soluções que têm à sua disposição”, sendo por isso importante perceber o que têm feito para minorar esse sentimento, como por exemplo contactar com as pessoas que lhes são mais próximas. Contudo, “muitas vezes estão numa espiral de stress tão grande que isso deixa de ser óbvio e ao falarem connosco permite focá-las e direccioná-las para uma melhor solução”, sublinha.
Esta situação de pandemia obrigou a que os psicólogos e estas linhas criadas pelos municípios sejam em formato de teleconsulta. Motivo pelo qual se se tratar de uma “situação que não dê para dar resposta por telefone é activado o protocolo de encaminhamento para ajudar a pessoa”, diz.

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