Hoje é mais um dia que vivemos na Misericórdia, diferente de todos os que até então planeámos, mesmo com uma história de 520 anos nada nos levava a pensar que passaríamos tempos em que crianças e adultos estariam sujeitos a uma palavra que entrou de rompante no nosso léxico: confinamento! E porquê? Por causa de outra palavra que desconhecíamos, a Covid-19!
Foi tudo de repente, fomos obrigados a fazer o contrário do que gostamos, ou seja de conviver, de aproveitar cada dia, cada fim-de-semana para nos reunirmos, para os almoços, jantares em grupo onde discutíamos as nossas rotinas, as nossas novidades ou simplesmente para irmos a casa dos avós e aproveitar este tempo na construção das memórias da nossa infância, aquelas que nos fazem únicos, com experiências de vida mais ou menos ricas, mas sempre em relação com o mundo que nos rodeia.
Estivemos ausentes do convívio dos amigos, deixámos de voltar em cada manhã à “Escolinha”, como muitos ternamente chamam à Creche e Pré-escolar “Os Amiguinhos”, íamos olhando para o telemóvel, para o computador e com a ajuda dos adultos tentando explicar e perceber porque é que toda esta mudança estava a ocorrer, porque é que as pessoas que faziam parte das nossas rotinas, agora estavam longe, não se podiam tocar ou abraçar e simplesmente ver só através de um ecrã. Foram meses difíceis onde as saudades estavam muito presentes mas sempre com a esperança de que “ia ficar tudo bem…” só não se sabia, nem sabe quando.
Mas aprendemos, preparámo-nos e foi-nos dito que podíamos voltar a abrir as portas da nossa CASA para receber as “Nossas Crianças” (porque as sentimos um bocadinho como nossas e os pais, não se importam de que os afectos se partilhem…) a partir do meio de Maio, contudo como é prática na Misericórdia, decidimos que para o clima de confiança se manter, era preciso um esforço acrescido por parte dos profissionais para prepararem um regresso seguro, até porque as nossas relações estão agora acrescidas de constantes acções de prevenção, pois a protecção de cada um e a de todos tem de estar assegurada e exigiu mais tempo. E foi assim que a 1 de Junho, no “ Dia da Criança”, os recebemos, todos de máscara mas apesar disso, foi fácil ler as emoções nos olhos de adultos e crianças neste reencontro.
É bom voltar a ouvir gritos, correrias, canções e brincadeiras das crianças, na segurança do espaço dos Claustros. Olhar e vê-los rebolarem na relva ou sentadinhos a ouvirem histórias, cantilenas ou simplesmente a usufruírem do ar puro e da companhia dos “Amiguinhos” afinal, já tínhamos mesmo saudades uns dos outros e das coisas boas que Misericórdia de Santarém proporciona para enriquecer este caminho de brincar para um crescimento saudável.
MJC.