Farmacêuticos não querem vender drogas para uso recreativo
O tráfico de droga é um dos flagelos da sociedade moderna. O Estado gasta milhões com a recuperação dos toxicodependentes mas não tem uma política que facilite o comércio e continua a deixar que os traficantes sejam uma classe à parte, a maioria deles criminosos noutras áreas de negócio como o lenocínio e o tráfico de armas.
Se a utilização de drogas leves for para uso terapêutico devem ser vendidas nas farmácias mas se for para uso recreativo devem ser vendidas em lojas próprias. A opinião é de três farmacêuticas com quem O MIRANTE falou a propósito do Dia Internacional da Luta Contra o Uso e Tráfico Ilícito de Drogas que se assinalou a 26 de Junho. A directora técnica da Farmácia Central, em Almeirim, Helena Martinho Cláudio, afirma que este é um assunto muito delicado que precisa de um grande e sério debate para se tomar uma decisão.
Ilda Leitão, directora técnica da Farmácia São João, em São João da Ribeira, concelho de Rio Maior, acredita que o tráfico pode diminuir com a liberalização das drogas leves mas vai sempre continuar com o tráfico de drogas mais duras. “Já existem culturas de drogas utilizadas para fins terapêuticos e esses produtos são vendidos nas farmácias. Agora drogas para usos recreativos devem ser vendidas em lojas próprias como acontece na Holanda, por exemplo”, afirma Ilda Leitão.
Carla Santos, farmacêutica da Farmácia Barreto do Carmo, em Almeirim, considera que continuaria a existir tráfico de droga mesmo com a liberalização de estupefacientes. Na sua opinião, as drogas leves deveriam ser vendidas em lojas adequadas para esse tipo de produtos. Todos concordam que o uso de drogas com fins terapêuticos traz benefícios para os pacientes e devem ser vendidas nas farmácias.
A canábis foi descriminalizada em Portugal a 1 de Julho de 2001, numa lei aprovada pelo Parlamento, com sanções penais substituídas por sanções civis e programas de desvio. A posse de canábis é punida como contra-ordenação, caso se destine a consumo pessoal. Os limites são definidos por dez doses diárias e se forem excedidos é considerado crime por consumo ou tráfico de droga.
Pandemia alterou hábitos dos consumidores de droga
O Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência diz que já se notam impactos nos padrões de consumo e de preços dos estupefacientes. O Observatório da União Europeia lançou, na semana passada, um inquérito para conhecer ao pormenor o que já mudou no mundo da droga com a pandemia. Uma das conclusões é que antes da Covid-19 muitos consumiam droga fora de casa, com amigos, e agora fazem-no sozinhos.
Há menos dinheiro para comprar droga, devido à situação de lay-off de muitas empresas e desemprego, mas os preços dos estupefacientes estão mais altos devido ao facto das fronteiras estarem controladas ou das viagens se terem tornado menos comuns entre países. O MIRANTE falou com alguns consumidores que admitiram terem tido mais dificuldade em conseguir comprar droga com a mesma regularidade, mas os traficantes continuam a conseguir fazer chegar o seu produto aos consumidores.
“O preço da droga aumentou ligeiramente porque é mais difícil obter o produto, mas sempre que precisei sabia onde tinha que ir e ia sempre a pé”, conta um consumidor de drogas leves. Existem também os consumidores que têm pequenas estufas com drogas leves em casa para uso próprio.
No caso de drogas pesadas, como cocaína e heroína, os preços aumentaram bastante uma vez que chegam a Portugal via países da América do Sul; como não há voos, e as viagens marítimas também diminuíram, os traficantes têm menos margem de manobra.