
Morreu Mário Coelho “um príncipe entre os príncipes do mundo”
Toureiro de VFX morreu no dia 5 de Julho. Em vida foi agraciado pelo Estado mas na hora da morte foi ignorado
O toureiro Mário Coelho, morreu no domingo, 5 de Julho, no Hospital da sua terra natal, Vila Franca de Xira, onde estava internado com uma doença respiratória grave. Tinha 84 anos. No dia do seu falecimento assinalava-se mais uma edição do Colete Encarnado, festa tauromáquica da cidade, cancelada devido à pandemia.
Os testes realizados no hospital mostraram que o toureiro, de 84 anos, considerado uma figura maior da cidade, estava infectado com Covid-19. A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, através do seu presidente, Alberto Mesquita, lamentou publicamente o desaparecimento. do matador de toiros.
Estado condecorou-o em vida mas ignorou-o na morte
Mário Coelho foi alvo de reconhecimento do Estado Português a 20 de Setembro de 1990, tendo recebido, por iniciativa do então secretário de Estado da Cultura, Pedro Santana Lopes, a Medalha de Mérito Cultural e a 23 de Junho de 2005, quando foi agraciado pelo Presidente da República Jorge Sampaio, com a condecoração de Comendador da Ordem do Mérito, mas a notícia do seu falecimento não suscitou qualquer comentário, nem do Governo, nem do Presidente da República.
O toureiro de Vila Franca de Xira, que participou em mais de mil corridas, em muitos países, ao longo de quarenta anos de actividade, cruzou-se com grandes personalidades de outras artes, tendo privado com Hemingway, Orson Welles, Ava Gardner, Audrey Hepburn ou Picasso, que lhe desenhou o motivo de um traje de luzes.
Numa entrevista a O MIRANTE em 2005, disponível no site do jornal, Mário Coelho falou do seu amor incondicional à tauromaquia. “Orgulho-me da minha carreira e valeu a pena este percurso. Não há outra profissão na vida tão completa e tão nobre como a de toureiro. É um sonho permanente com uma entrega total, humildade, grandeza, alegria e uma paixão infinita. Representei a minha terra e o meu país em vários pontos do mundo e senti uma grande alegria pela forma como fui reconhecido”.
Mário Coelho nasceu a 25 de Março de 1936, na Rua do Alecrim, no centro de Vila Franca de Xira, onde, na altura, viviam campinos, trabalhadores que lidavam com toiros na Lezíria. Cedo se deixou influenciar pelo ambiente taurino da cidade e, aos 14 anos, estreou-se na praça Palha Blanco como praticante tendo aos 22 anos tomado alternativa como bandarilheiro.
Nas décadas de 50 e 60 do século XX atingiu prestígio internacional como bandarilheiro das principais figuras portuguesas do toureio a pé, tanto nacionais como internacionais. A 25 de julho de 1967 tomou a alternativa como matador em Badajoz, confirmando-a em 1975 na Monumental do México e em 1980 em Las Ventas, Madrid. Em 1990 despediu-se das arenas, no Campo Pequeno, em Lisboa.
Em Outubro de 2001, na casa onde nasceu, abriu ao público a Casa Museu Mário Coelho, que mantém as portas abertas através de uma parceria com a câmara municipal e a junta de freguesia. Em Outubro de 2019, foi inaugurado um busto à sua memória no Largo Conde Ferreira, em Vila Franca de Xira.
Em 2005, assinalando 50 anos de toureio, publicou o livro autobiográfico “Da Prata ao Ouro”, com prefácio da escritora, Agustina Bessa-Luís.
Uma das últimas aparições públicas de Mário Coelho foi em Fevereiro deste ano, no Campo Pequeno, onde Manuel Alegre, poeta e histórico militante do PS, fez a apresentação da sua biografia, “Mário Coelho – Um Homem Inteiro”, da autoria de António de Sousa Duarte.
Foi também Manuel Alegre quem emitiu, na segunda-feira, 6 de Julho, uma das poucas mensagens de pesar pelo falecimento do toureiro, referindo-se-lhe como “um príncipe entre os príncipes do mundo”.
