
O dia em que os campinos chegaram de máscara a Vila Franca de Xira
Aquela que seria a 88ª edição do Colete Encarnado vai ficar para a história por não se ter realizado devido a uma pandemia e onde, pela primeira vez na história, os campinos chegaram à cidade sem cavalos e de máscaras no rosto. Houve lágrimas e aplausos, acompanhados por um “até para o ano”, no único momento simbólico que marcou a data.
“Isto de andar com um açaime é muito mau. É aos cães que se metem açaimes, não é nas pessoas”, lamenta José Mimoso, 79 anos, enquanto tenta tirar a máscara do rosto junto ao monumento ao campino em Vila Franca de Xira. José e Luís Santos, foram os dois campinos presentes na cerimónia simbólica realizada em Vila Franca de Xira na manhã de sábado, 4 de Julho, que assinalou a 88ª edição do Colete Encarnado, uma das festas mais típicas do Ribatejo.
Uma festa que em 2020 fica para a história por não se ter realizado devido à pandemia de coronavírus que desaconselha ajuntamentos de pessoas. Foi apenas a quarta vez na história que o Colete Encarnado não se realizou. Mas foi a primeira em que os campinos apareceram sem cavalos e de máscaras cirúrgicas no rosto. “Sou um homem do campo e acho isto muito triste. Nunca vi nada como isto”, lamentou José, momentos antes da cerimónia preparada pela câmara municipal.
Foi um momento rápido, destinado a lembrar a festa e a homenagear a figura do campino, o seu rosto principal. A cidade provou que o espírito do Colete Encarnado não morreu com a pandemia, com dezenas de pessoas a enfeitar as varandas das suas casas com temas alusivos à festa. Nas ruas ouviu-se a música de sempre.
“O espírito do Colete está cá com a presença dos campinos. Esta homenagem é muito sentida mas muito dolorosa este ano porque o Colete não se faz na sua plenitude. Infelizmente é assim mas cá estaremos em 2021 para o celebrar na plenitude”, lembrou a O MIRANTE o presidente do município, Alberto Mesquita. Perante um ruidoso aplauso no final da cerimónia José Mimoso levantou um braço no ar e gritou um viva ao Colete Encarnado, perante as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto. O aplauso prolongou-se durante longos minutos.
“Estamos a ser obrigados a abater toiros”
O cancelamento de muitas corridas de toiros e de esperas e largadas em várias festas típicas do Ribatejo lançou o mundo agrícola e da campinagem em sérias dificuldades. Luís Santos, campino da Casa Palha, conta que a falta de corridas tem sido um drama. “Temos abatido muito gado”, refere com tristeza, lembrando que o toiro de lide só pode ir para a arena até aos cinco anos e que, por isso, em 2020 há muitas cabeças de gado que atingem esse limite de idade. “Vão ter de ser abatidos. É um golpe muito grande. Vejo o futuro muito negro, vamos ver se não se vai colocar em risco de extinção o toiro bravo, muita gente esquece-se disso”, lamenta.
O campino diz que a iniciativa do município de assinalar o Colete Encarnado é “muito importante” para homenagear os campinos já falecidos e ao mesmo tempo manter viva a tradição. A esperança é que para o ano esta já possa ser celebrada, com toiros nas ruas e na Praça Palha Blanco, como manda a tradição.
