Ter escravos ainda vá que não vá mas matar toiros na arena é uma barbaridade
Impiedoso Serafim das Neves
O pantomineiro António Rodrigues deve andar a consumir litradas de bebidas energéticas. Depois do lançamento do famoso calhamaço “A força do sentir”, o tal que inclui actas e relatórios de contas do tempo em que foi presidente da Câmara de Torres Novas, avançou agora, sem deixar a bola cair no chão, para a apresentação de um grupo de amigos que adora afagar-lhe o ego e que ostenta o criativo nome de “Movimento pela nossa terra”.
Com um visual à Avô Cantigas e a habitual linguagem de carroceiro disse, de dedo em riste e sem se rir, que, ao fim de quatro anos de aturada reflexão, ainda não decidiu se vai voltar a ser candidato à cadeira presidencial, onde alapou o traseiro durante duas décadas.
Foi uma sessão em que cantou o grande clássico da política nacional, “Chamar a Vaga”, a ver se a vaga de fundo aparece ou se o deixa na areia como em 2017, quando andou a gritar que o agarrassem se não ele ia... mas afinal não foi.
Como isco para os socialistas lá da terra, uns ingratos que não lhe têm ligado pevide, deixou o tradicional “alerta pacóvio”. Vejam lá, não demorem, olhem que os manda-chuva de Lisboa já me convidaram para ser candidato do PS em Santarém. Há quem diga que a pandemia também vai mudar a forma de fazer política em Portugal. Pode ser que sim, mas por aqueles lados não se nota nada.
O que já está a mudar é o absentismo dos funcionários da Câmara de Santarém. Segundo os dados oficiais aumentou cinco por cento. E não foi preciso chegar o vírus porque os dados são de 2019. Quero saudar o esforço do pessoal e o seu robusto exemplo. Tomara eu chegar-lhes aos calcanhares, mas nestas coisas essenciais para a vida sou uma lástima. Defendo que o homem não foi feito para trabalhar mas não faço outra coisa se não trabalhar. Um teórico é o que sou. Mas digo-te... se fosse funcionário da Câmara de Santarém outro galo cantaria. Ou achas que o Ronaldo seria o que é se tivesse continuado a jogar nos Pastilhas?
Morreu um toureiro de Vila Franca de Xira, chamado Mário Coelho. O falecido passou parte da vida a tourear e privou com celebridades como Picasso, Hemingway, Ava Gardner e até com Mário Soares ou Jorge Sampaio, que foram presidentes desta nossa República. Recebeu, em 2005, a Ordem de Mérito, que é uma coisa que nem eu nem tu receberemos. E recebeu também, a seguir à sua morte, o silêncio dos faladores Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa.
Alguns poderão achar que o Presidente da República e o primeiro-ministro estão a ser injustos, até porque, noutras alturas, já saíram em defesa de personagens pouco recomendáveis da nossa história. Quanto a mim não têm razão. Uma coisa é andar a queimar judeus em fogueiras ou a traficar negros para a escravatura, o que se aceita no contexto daquelas épocas. Outra bem diferente é andar a matar toiros com um estoque. Uma barbaridade, mesmo na pré-história, como sabes.
Li há dias a história de um cavalo que a dona deu como roubado, na zona de Marinhais, mas que foi recuperado pela GNR. Um acontecimento feliz em tempo de pandemia que até era ilustrado com foto. Estava a dona do cavalo, o cavalo e o GNR mas não havia nenhum ladrão nem a notícia falava dele. Teria sido libertado porque se provou que se limitara a apanhar um bocadinho de corda que viu no chão sem se aperceber que o animal estava agarrado a ela?
Saudações tauromáquicas
Manuel Serra d’Aire