uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
“A lei não devia obrigar as pessoas a trabalhar até estarem caducas”
Isabel Ferreira da Silva entrou na Cercipóvoa em 1978 e é hoje o rosto mais antigo da instituição

“A lei não devia obrigar as pessoas a trabalhar até estarem caducas”

Isabel Ferreira da Silva é administrativa na Cercipóvoa, instituição que apoia pessoas com deficiência da Póvoa de Santa Iria. Natural da cidade, recorda os tempos em que os prédios ainda não existiam e era seguro sair à noite. O seu emprego de sonho passava pela arquitectura e belas artes.

Não está correcto que a legislação obrigue os trabalhadores a estar ao serviço até uma idade avançada e deveria haver uma forma de dar lugar aos mais jovens quando estes mais precisam de emprego. A convicção é de Isabel Ferreira da Silva, 60 anos, administrativa da Cercipóvoa, instituição da Póvoa de Santa Iria que apoia pessoas com deficiência.
“A nossa legislação obriga as pessoas a trabalhar até estarem caducas. Devíamos reformar-nos mais cedo e podermos dar lugar a pessoas mais jovens. Sei que na conjuntura actual isso não seria viável financeiramente, mas uma pessoa com mais de 60 anos já merecia ter o seu descanso. E até seria boa essa partilha dos mais novos com os mais velhos, transmitindo os conhecimentos técnicos”, refere.
O primeiro emprego de Isabel Ferreira da Silva foi na Cercipóvoa, onde entrou há 42 anos como administrativa, numa altura em que a instituição só tinha dez colaboradores e estava longe da dimensão actual. “A Cercipóvoa é como a cidade: foi sempre crescendo. E eu cresci com ela, primeiro como dactilógrafa, depois evoluindo até chegar a chefe de serviços administrativos. Ultimamente, o que faço é dar apoio e colaboração à direcção e à parte administrativa”, conta.
Isabel explica que o trabalho é por vezes empolgante e outras vezes frustrante. “Às vezes pergunto-me se profissionalmente foi a melhor escolha que poderia ter feito. Na vertente humana é um trabalho muito gratificante e reconfortante, mas na vertente profissional posso dizer que poderia ter feito outras escolhas. Às vezes arrependo-me mas depois, pesando o deve e o haver, a pessoa vê que, no fundo, não fez de todo uma má escolha”, conta a O MIRANTE.
Isabel é natural da Póvoa de Santa Iria, terra onde cresceu e constituiu família. Diz que a cidade em nada se compara ao que era no passado. “Guardo muitas e boas memórias desse tempo. Sobretudo em relação às pessoas, que são o que mais nos marca. Todos nos conhecíamos e as famílias interligavam-se muito, hoje é diferente”, defende.
Isabel confessa ter gostado de ver a Póvoa crescer nos últimos anos, embora não haja bela sem senão. “Perderam-se algumas coisas boas que havia e que são transversais em sítios onde as pessoas têm o seu centro. A falta de segurança é transversal mas antigamente podia-se facilmente sair de casa de noite que não havia perigo. É uma diferença abismal entre o que era e é hoje. Mas não é por ser a Póvoa, é o próprio mundo, evoluiu muito”, refere.

Voluntariado é importante mas tem que haver profissionalismo
É uma mulher que gosta de desafios e de tudo o que implica desbravar novos caminhos em termos profissionais. Diz que estar na Cercipóvoa não é apenas um trabalho mas sobretudo uma missão social, onde em todo o seu percurso profissional teve de lidar com os altos e baixos da própria instituição. “Houve uma altura, em 1989, em que a associação esteve no fio da navalha para fechar”, recorda.
Afirma que a visão da sociedade sobre a pessoa com deficiência tem mudado para melhor nos últimos anos. “Já vejo as pessoas mais preocupadas com a integração do que com a marginalização”, nota. A profissional, que também passou pela direcção da associação na década de 1990, diz que o espírito do voluntariado é importante mas que cada vez mais é fundamental existir profissionalismo. “Não é possível olhar para uma instituição deste tipo sem a ver como uma empresa. Um dia, se a direcção, no seu todo ou em parte, for constituída por pessoas pagas pela instituição terá outras condições para melhorar”, defende.
O seu emprego de sonho está ligado à arquitectura e belas artes, que é a sua área de formação. Tira-a do sério a deslealdade. O empenho e dedicação são os seus valores fundamentais no trabalho. “A Póvoa de Santa Iria reconhece o trabalho da Cercipóvoa mas ainda precisamos de nos aproximar mais para que haja uma real percepção da importância da nossa missão. Temos hoje uma visibilidade diferente mas precisamos de continuar a aproximar-nos da comunidade”, defende.

“A lei não devia obrigar as pessoas a trabalhar até estarem caducas”

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido