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Electrónica é hoje a dor de cabeça dos mecânicos
José Rafael Durão passa os dias na oficina observando o trabalho do filho Joaquim e lendo o jornal

Electrónica é hoje a dor de cabeça dos mecânicos

Mecânico desde que se lembra, Joaquim Durão deu continuidade à oficina criada pelo pai em Tremês. Na Auto Reparadora Central trata sobretudo de camiões e máquinas agrícolas, mas também de viaturas ligeiras. Confessa que os carros de hoje fazem mais quilómetros e são mais seguros mas por vezes por causa de um “fiozito” fazem o mecânico perder horas.

Joaquim Durão, proprietário da Auto Reparadora Central de Tremês, deu seguimento ao negócio do pai, José Rafael Durão, nesta localidade do concelho de Santarém, onde nasceu e cresceu. A infância foi passada a trabalhar na oficina a aprender o ofício. Saiu da escola com dez anos, depois de completar o segundo ano do ciclo (actual sexto ano). Do que gostava era do trabalho de mecânica e de mexer nos carros. Tirou a carta aos 18 anos porque foi obrigado, mas já sabia conduzir muito antes de atingir a maioridade.
A paixão pelos carros chegou cedo e recorda com saudosismo os tempos das corridas de rali em que participava na juventude. Foi assim que ganhou centenas de taças que agora exibe orgulhosamente num escaparate próprio no escritório da oficina. Eram os “ralis pirata”, como lhe chama. Deixou de participar há anos depois de um acidente grave que aconteceu em Pontével. Também lá estava e desde então não correu mais. As dores nas costas também contribuíram para abandonar a modalidade.
Joaquim já perdeu a conta ao número de carros que teve. Mas aquele que guarda com mais carinho na memória é um Saab 99 que o acompanhou durante boa parte da juventude. Era o carro das saídas e dos namoricos. “Já era velho quando o comprei, andei com ele uma dúzia de anos e morreu aí”, recorda. Carro de sonho nunca teve, embora durante anos tivesse tendência para as marcas japonesas e competisse nos ralis num Toyota.
A sua formação foi feita na oficina com o que foi vendo o pai fazer, mas confessa que evoluiu como mecânico também à conta das formações dadas pelas marcas com que trabalha, algumas fora do país. “As empresas de peças têm esse sistema, quando gastamos muito chamam-nos para apresentação de produtos e para formação, é assim que nos vamos mantendo actualizados”, explica.
Na Auto Reparadora Central de Tremês são reparados sobretudo camiões e máquinas agrícolas, embora também possam surgir alguns veículos ligeiros. Joaquim confessa que é dura a vida de mecânico. “É levantar às sete da manhã e sair da oficina às sete, oito ou nove da noite e ter o telefone sempre ligado. Não há fins-de-semana nem feriados”. Quando lhe telefonam durante a noite garante que responde sempre. Tem serviço de desempanagem e pronto-socorro.
Para o mecânico os carros de hoje são melhores que os de antigamente, fazem mais quilómetros e são mais seguros. Mas a componente electrónica pode ser uma dor de cabeça. “Muitos até avisam qual o problema quando há uma falha, mas depois o computador diz que a avaria podem ser dez coisas diferentes. Temos que procurar na mesma e muitas vezes é apenas um fiozito partido que não conseguimos detectar”, lamenta Joaquim acrescentando que todo o sistema de fios é mais frágil do que antigamente quando se usavam cabos e bichas facilmente detectáveis em caso de ruptura.
“A electrónica é que encarece a reparação de um motor. Sondas e fios… são só chatices”, lamenta. Mesmo assim refere que as coisas estão a melhorar e há regras que obrigam todas as marcas a ter materiais semelhantes enquanto antes cada uma tinha as suas próprias fichas e encaixes, por exemplo.
As avarias mais frequentes que aparecem na oficina prendem-se com o desgaste dos materiais como travões e embraiagens. Por vezes surgem outras, mas se envolverem muita electrónica “despacha-as” para os electricistas. “Têm mais paciência que eu, são miúdos que já nasceram com as novas tecnologias”, atira.
Mas muitas são as vezes que vai à noite sozinho para a oficina, matutar na avaria. E outras tantas as que dorme a pensar nela. Quando acorda de manhã faz-se luz. Chega mais fresco e consegue resolver. A maior parte das vezes é sozinho e com a prática que chega à solução. “Hoje em dia não se trocam muitas impressões”, confessa e admite que também ele guarda os seus segredos do ofício. Estaria disposto a passá-los aos filhos, mas estes enveredaram por caminhos diferentes. O mais velho seguiu engenharia informática e a mais nova engenharia mecânica. Ainda chegou a trabalhar com o pai, mas só no escritório.
O pai trabalhou até aos 74 anos. Teve um AVC e agora passa os dias na oficina, onde se distrai e lê o jornal. Já lá vão seis anos, os mesmos que Joaquim Durão, 54 anos, conta à frente do negócio.

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