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Em Alcanena a máscara protege da Covid  e ajuda a suportar os maus cheiros
Dezenas de populares compareceram ao protesto organizado por Ricardo Rodrigues (segundo à esquerda) entretanto cancelado

Em Alcanena a máscara protege da Covid  e ajuda a suportar os maus cheiros

Populares, dirigentes políticos e membros de associações ambientais responderam à chamada do movimento SOS Alcanena e marcaram presença junto ao Cine-Teatro São Pedro, meia hora antes do início da Assembleia Municipal de Alcanena, para manifestarem preocupação com a falta de qualidade do ar.

Sentados num dos bancos da Praça 8 de Maio e tentando cumprir o distanciamento social, José e Maria de Lurdes, marido e mulher, comentavam que havia mais guardas a postos para intervir do que participantes na manifestação convocada pelo movimento SOS Alcanena contra os maus cheiros que se têm feito sentir. O casal sempre viveu em Alcanena e desde que se recorda sofre com os maus cheiros, mas nunca como agora. “Antes cheirava mal junto às fábricas, agora o cheiro está em todo o lado e é diferente. É um cheiro a gases, que mata e dá cabo da garganta, olhos e nariz. Não se pode respirar nem abrir uma janela”, lamenta Maria de Lurdes.
José e Maria de Lurdes fazem parte do grupo de algumas dezenas de populares que acedeu ao apelo do movimento SOS Alcanena e, apesar da manifestação contra os maus cheiros ter sido cancelada, por incumprimento dos prazos legais, estiveram junto ao Cine-Teatro São Pedro, em Alcanena, ao final da tarde de sexta-feira, 24 de Julho, perto da hora marcada para a assembleia municipal que ali teria início às 20h30.
Ricardo Rodrigues, do movimento SOS Alcanena, mostrou-se agradado com a adesão popular. Reconhece que esta não é uma questão recente mas, tal como Maria de Lurdes, realça que “antigamente cheirava a porcaria” e hoje há um cheiro tóxico que deriva da exposição do ar ao sulfureto de hidrogénio, um gás perigoso para a saúde, com odor de ovos podres e carne em decomposição.
Rosa Vieira, moradora em Alcanena e proprietária do Museu da Boneca, desabafava a O MIRANTE que perdeu o pai por causa de um enfisema pulmonar. “Neste concelho há muito cancro e muita doença que deriva do que respiramos”, afirma, acrescentando que o município está a perder população e a ser contaminado. “Este protesto não tem cor política, estamos a lutar por uma coisa a que temos direito, que é respirar ar puro”, diz categórica enquanto ajeita a máscara que neste momento, refere, tem dupla função: previne da Covid e ajuda a suportar os maus cheiros.
Entre os manifestantes estiveram também membros de associações ambientais como a ProTejo e a CLAPA - Comissão de Luta Anti-Poluição do Alviela. Não faltaram ainda dirigentes políticos como o deputado do PCP António Filipe ou a deputada do Bloco de Esquerda Fabíola Cardoso. Partidos que enviaram recentemente perguntas ao ministro do Ambiente sobre que medidas vão ser tomadas para evitar que se repitam episódios de poluição ambiental no concelho e para pôr cobro a este “gravíssimo atentado ambiental”.

Assembleia municipal sem sobressaltos
Além de algum mau cheiro que teimou em entrar no Cine-Teatro São Pedro quando decorria o período de antes da ordem do dia, pouco há a registar da assembleia municipal que se previa agitada. O auditório ficou praticamente vazio estando ocupados apenas os lugares dos deputados, da comunicação social e de poucos populares.
A intervenção mais acalorada da noite coube a Rui Anastácio, líder da bancada dos Cidadãos por Alcanena, que interpelou a presidente do município referindo que o actual executivo não é inocente nem vítima e é responsável por tudo o que de bom e de mau tem acontecido desde 2009. Em resposta, a presidente da câmara, Fernanda Asseiceira (PS), reafirmou que o primeiro grande erro cometido no concelho foi a permissão de construção da ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) próximo das populações sem a devida cobertura.
A autarca referiu ainda como erro estratégico o ordenamento do território que deu permissão para que as empresas de curtumes se instalassem de forma dispersa no concelho e lembrou que a empresa municipal Aquanena apenas entrou em funcionamento há um ano, não lhe podendo ser imputadas responsabilidades anteriores.

À Margem

Em conversa com a presidente da Câmara de Alcanena, na manhã do dia em que estava agendada a manifestação, Fernanda Asseiceira confessava a O MIRANTE que tinha tido conhecimento do protesto pelo Facebook e que estava a saber do seu cancelamento pela jornalista com quem falava. O movimento SOS Alcanena, por desconhecimento, ou propositadamente, não enviou qualquer pedido à câmara ou à GNR, entidades competentes para autorizar este tipo de eventos que ocupam o espaço público. Ricardo Rodrigues, da organização, confirmou que faltou cumprir alguns requisitos legais e que o movimento assume humildemente a sua responsabilidade.

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