uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Se desaparecer a vontade de rir estamos perdidos 
Alberto Mesquita e Fernando Paulo com o cartoonista brasileiro Cau Gomez o convidado deste ano do Cartoonxira

Se desaparecer a vontade de rir estamos perdidos 

Cartoonistas também vivem tempos difíceis. Seja pelas dificuldades sentidas pela imprensa que lhes dá visibilidade seja porque os tempos que correm são duros para fazer humor. Este ano não houve pandemia que travasse a Cartoon Xira, que abriu portas no Celeiro da Patriarcal, continua a ter entrada livre e é visitável até Dezembro.


É importante saber rir dos problemas e dos desafios mais complicados para neles encontrar a força de superação necessária para virar a página dos tempos difíceis que se vivem. A convicção é de vários cartoonistas ouvidos por O MIRANTE no sábado, 3 de Outubro, à margem da inauguração de mais uma edição da Cartoon Xira, um dos maiores certames nacionais dedicados ao cartoon que está de portas abertas no Celeiro da Patriarcal até Dezembro.
Os cartoonistas não escaparam aos efeitos da pandemia e estão a sentir na pele as dificuldades. Seja pela escassez de assunto seja pelas dificuldades que a imprensa escrita também sente e que é, desde sempre, o maior veículo de promoção do cartoon.
“É difícil meter as pessoas a rir nestes tempos, mas o humor tem de estar sempre presente, nas tragédias e nas alegrias, porque é o sal da vida. Se perdermos o nosso sentido de humor estamos perdidos”, diz a O MIRANTE António Maia. O artista riomaiorense admite que não tem sido fácil encontrar assunto num país que vive com os olhos postos num vírus microscópico. “É chato ser uma pandemia e vivermos com a morte das pessoas, mas quanto mais conturbado e difícil for o ambiente mais fácil é para nós trabalhar. Alimentamo-nos dos tempos mais difíceis”, confessa o cartoonista, que não perdeu a oportunidade de criticar a classe política vigente.
“O nosso problema é termos uma classe política que não tem um pingo de sentido de humor. Há países em que os políticos se riem de si próprios e isso é um sinal de inteligência, aqui não, leva-se tudo a sério, não entendem as ironias, somos um país trágico nesse aspecto”, critica.
Para o vilafranquense António Antunes, que volta a comissariar a Cartoon Xira, o trabalho tem ficado mais dificultado mas como se trata de um “tempo cheio de contradições” vai sendo possível encontrar material para desenhar. “O trabalho ficou mais difícil porque a situação da imprensa escrita não é a melhor e há menos espaço para o cartoon e com menos tiragens”, diz a O MIRANTE o homem que irritou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quando o desenhou a passear o presidente israelita com uma trela. “Não devemos perder o sentido de humor. Rir é uma forma inteligente de abordar os problemas e isso é vital para a nossa existência”, diz. Para o ano, não tem dúvidas, o foco dos desenhos do Cartoon Xira vai ser o coronavírus.
Já Vasco Gargalo alinha nas mesmas preocupações, admitindo que durante o confinamento quando via a contagem de mortos isso influenciava negativamente a sua criatividade. O tema era sério demais para dar vontade de rir. “No início o meu tema era sempre o mesmo mas depois decidi que já chegava de desenhar sobre o vírus. Virei o meu foco para outro lado”, conta.

Quino evocado
O argentino Quino, criador entre outros desenhos das tiras da Mafalda, foi um dos convidados da Cartoon Xira em 2017 e morreu a 30 de Setembro aos 88 anos. Foi lembrado pelo presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita, como uma figura que inspirou gerações.
O convidado internacional deste ano é o brasileiro Cau Gomez, que mostra alguns dos melhores desenhos dos seus 32 anos de carreira. Para estar presente em Vila Franca de Xira teve de ser testado ao coronavírus e confessou ainda não saber quando poderá voltar ao Brasil. “Estar aqui é um momento histórico e inesquecível. Podia dizer fora Bolsonaro e fora Trump, mas vou optar por dar um viva aos cartoonistas, à liberdade de expressão e à democracia”, afirmou, perante forte aplauso.
Em exposição podem ser apreciados desenhos de António Antunes, Vasco Gargalo, André Carrinho, Cristina Sampaio, António Maia, Henrique Monteiro, Rodrigo Matos, Cristiano Salgado e, pela primeira vez, Nuno Saraiva. As entradas continuam a ser livres.

Se desaparecer a vontade de rir estamos perdidos 

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido