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A contracepção é muito importante para uma vida sexual plena
Catarina Assunção, Arlete Bento e Zhanna Azimka

A contracepção é muito importante para uma vida sexual plena

Sessenta anos depois da criação da pílula em formato de comprimido, ainda há muita desinformação sobre os métodos contraceptivos e muita vergonha em questioná-los. A propósito do Dia Mundial da Contracepção, que se assinalou a 26 de Setembro, O MIRANTE conversou com uma médica de família e farmacêuticos.

Ainda há muita vergonha e desinformação entre os adolescentes sobre os principais métodos contraceptivos a usar antes das relações sexuais. A convicção é de Zhanna Azimka, médica da Unidade de Saúde Familiar (USF) de Vila Franca de Xira que é também responsável pelas consultas de planeamento familiar. “Os jovens têm vergonha em falar sobre estas questões, sobretudo com a família, mas também com os médicos. Acabam por informar-se entre eles e depois cometem erros que podem ser prejudiciais”, explica a O MIRANTE.
O resultado é, muitas vezes, a escolha de métodos errados e convicções perigosas, como a de que basta tomar a pílula e o rapaz já não precisa de usar preservativo, acabando por colocar em risco a saúde de ambos (uma vez que a pílula não previne o contágio de doenças sexualmente transmissíveis).
“As coisas estão melhores nos últimos anos, mas continua a falhar alguma informação, ainda temos raparigas que nos aparecem com gravidezes indesejadas. A vergonha acaba sempre por ser um problema”, lamenta. Zhanna Azimka entende que é preciso começar a falar com os jovens desde cedo, preferentemente a partir dos 12 anos, para que estejam plenamente informados dos métodos contraceptivos que têm ao dispor.
O ambiente familiar em que os jovens estão inseridos é também importante. “Já cheguei a mandar pais saírem do consultório para poder falar a sós com os jovens”, admite a médica, que defende um novo olhar e maior atenção das escolas para a divulgação dos métodos existentes.
O preservativo continua a ser o método contraceptivo mais usado, logo seguido da pílula e da pílula do dia seguinte. Mas tem-se verificado um aumento no consumo de pílulas do dia seguinte, tendência que a clínica avisa ser importante manter controlada. “A pílula do dia seguinte deve sempre ser o último recurso e temos de trabalhar nesse sentido. Só quando tudo falhou é que se deve usar, e o menor número de vezes possível, porque pode prejudicar a saúde da mulher. Mas há quem a tome com frequência”, avisa.
Nas consultas de planeamento familiar, Zhanna ajuda os casais a escolher o método contraceptivo adequado à mulher, tendo em conta a idade e precedentes clínicos. Com essas consultas tem prevenido gravidezes indesejadas e abortos. “A contracepção é muito importante para uma vida sexual plena”, considera.
Os casais que não querem ter filhos podem optar por sistemas intrauterinos ou implantes subcutâneos, que têm uma validade entre três e 10 anos. Nos homens os métodos barreira – como os preservativos – são os mais usados.
Os casos em que há gravidezes indesejadas e abortos ilegais são os que mais transtornam a médica. “Há casos de crianças que ainda estão no útero e os pais já estão separados e não têm apoio familiar”, lamenta. 

Pílula é o método em que as mulheres mais confiam
Apesar dos novos métodos contraceptivos existentes no mercado, como o dispositivo intrauterino (DIU), o implante hormonal ou o anel vaginal, é a pílula que continua a ocupar o lugar cimeiro nas preferências das mulheres. Segundo alguns farmacêuticos, este método contraceptivo é o mais vendido, logo seguido pelo preservativo. Os restantes métodos têm uma procura residual, pois requerem uma ida ao médico para colocar e retirar.
A pílula, que completou 60 anos de existência em Agosto deste ano, continua a somar pontos não só por ser o método em que as mulheres mais confiam para não engravidar, mas também pela evolução que teve ao longo das últimas décadas. O vasto leque de pílulas existentes agora no mercado permite que cada mulher tome a que mais se adeque ao seu metabolismo. “Esta evolução foi muito positiva. Além de serem pílulas muito menos agressivas, o médico pode receitar a uma mulher uma pílula que seja o mais adequada possível”, explica a farmacêutica Arlete Bento, proprietária da farmácia Flamma Vitae, em Santarém.
Os estudos para o fabrico de uma pílula masculina ainda foram feitos e chegou a prever-se a entrada no mercado entre 2018 e 2020, mas até agora ainda não existe comercialização deste método. A compra do preservativo ao balcão da farmácia caiu em desuso. “Não é que não se use, mas é pouco vendido ao balcão. Muita gente prefere tirar nos dispensadores automáticos ou comprar no supermercado. Ainda há uma certa vergonha”, refere Catarina Assunção directora técnica da Farmácia Veríssimo, em Santarém.

Muitas vezes são os parceiros que vão comprar a pílula do dia seguinte
Apesar de ser um contraceptivo de emergência, o uso da pílula do dia seguinte tem vindo a aumentar, principalmente entre as camadas mais jovens. Por receio ou vergonha as jovens pedem muitas vezes aos parceiros para serem eles a irem à farmácia comprar este medicamento. Algo que os farmacêuticos não aconselham. “Sempre que vem uma adolescente ou até mesmo uma mulher comprar esta pílula, tentamos puxá-la para o gabinete para ter uma pequena conversa e explicar como é que esta pílula funciona e perceber se a mulher tem algum tipo de alergias que possam fazer reacção”, explica. Se é um homem a ir até à farmácia “esta explicação não chega até à mulher e por vezes acontecem essas tais reacções, desnecessariamente”, sublinha.
Apesar de as farmácias serem uma porta aberta que poderia ser usada para esclarecer dúvidas na área da sexualidade, a verdade é que as jovens pouco procuram por aconselhamento. “Nunca querem tirar dúvidas ou ouvir os nossos conselhos, aliás, as adolescentes sabem sempre tudo”, ironiza Arlete Bento.
Os farmacêuticos têm o papel de informar sobre os medicamentos, neste caso as pílulas adequadas a cada uma das mulheres, mas são sempre quem direcciona as jovens adolescentes para uma primeira consulta de planeamento familiar. “Quando falamos nisto encolhem-se sempre um bocadinho. Pensam que as coisas ficam mais sérias e querem logo acabar com a conversa. Mas nenhuma jovem começa a toma de uma pílula por aconselhamento nosso ao balcão”, sublinha Catarina Assunção.

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