A passagem de nível do Peso, nos arredores de Santarém, continua fechada e sem soluções à vista quase seis meses depois do último acidente mortal ali registado, em 22 de Abril de 2020. Em resultado dessa fatalidade, em que um comboio colidiu com um camião, causando a morte do condutor deste, a empresa pública Infraestruturas de Portugal (IP) decidiu encerrar a travessia rodoviária, devido à sua perigosidade. E instada recentemente por O MIRANTE a esclarecer se a medida se tornou definitiva ou se há alguma solução prevista, a IP pouco ou nada adiantou.
A empresa pública refere que a passagem de nível “não necessita de obras” e que “as medidas necessárias são de âmbito rodoviário, quer pelo estreitamento da via quer pelo talude existente, que obriga à alteração da curva de forma a ser compatível com veículos rodoviários longos”. E a IP sublinha: “Estes trabalhos são da responsabilidade da Câmara Municipal de Santarém”.
A IP lembra ainda que a solução prevista e articulada com a autarquia, que não chegou a avançar, previa o alargamento da estrada, cuja tutela é da Câmara de Santarém. Só que o presidente do município veio entretanto dizer que a passagem de nível não tem condições para ser reaberta, escudando-se na lei. Pelo que a solução deverá ser outra. Em reunião de câmara, em Maio, Ricardo Gonçalves invocou a legislação (decreto-lei 568/99 de 3 de Dezembro) que determina a supressão das passagens de nível onde se “tenham registado dois ou mais acidentes nos últimos cinco anos”.
Na passagem de nível da estrada do Peso houve dois acidentes, cada um com uma vítima mortal, nos últimos quatro anos – um em 8 de Novembro de 2016 e outro em 22 de Abril de 2020. Em ambos os casos, camiões não conseguiram atravessar a ferrovia a tempo de evitar o embate do comboio por causa de uma curva estreita à saída da linha.
Contactado por O MIRANTE, o presidente da Câmara de Santarém diz que teve indicações recentes por parte da IP de que a solução poderá passar pela construção no local de uma passagem desnivelada. Uma opção que a câmara já vinha defendendo há alguns anos junto da IP.
No meio desta incerteza ficam os utilizadores da via e moradores da zona, que são agora obrigados a dar voltas maiores para chegarem aos seus destinos. E ninguém sabe dizer até quando.

IP justifica porque ignorou recomendações para tornar passagem mais segura

O MIRANTE questionou ainda a IP sobre as razões para não ter seguido nenhuma das três recomendações avançadas em 2018 pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários para reduzir o risco de atravessamento na passagem de nível do Peso. Recorde-se que esse gabinete sugeriu aumentar a temporização entre o aviso de chegada de um comboio e o momento em que as barreiras se fecham; colocar um guarda de passagem de nível para reforço da segurança; accionar um botão de alarme que faz parar os comboios sempre que houver obstáculos na via-férrea.
Na resposta, a IP diz que “o aumento do tempo de anúncio acresce novos riscos de acidente na passagem de nível, nomeadamente a tentativa de contornamento das barreiras face ao prolongamento do tempo de anúncio”. E acrescenta que “o aumento deste tempo conjugado com o número de comboios que circulam criará tempos de indisponibilidade ao atravessamento rodoviário incomportáveis com o tráfego existente antes do encerramento da passagem de nível”.
A IP reitera que “da análise ao constrangimento existente no local, verifica-se que os problemas encontram-se na via rodoviária e não na ferroviária”, sendo essas “as causas que devem ser anuladas para eliminação do risco de atravessamento” da passagem de nível.