Cães, gatos e até porcos podem ser como família
Natacha Fonk vê nos animais uma forma de aliviar a solidão e o sofrimento de um desgosto amoroso, Filipa Ferreira confessa que gosta mais dos animais do que de alguns familiares e Aurora Silva não se imagina a viver sem os seus amigos de quatro patas. Embora classificados como seres irracionais, os animais são amigos e família de muita gente.
“Vivo como se tivesse dois filhos dependentes de mim”
Natacha Fonk mudou-se para o Forte da Casa há cinco anos. Desde então partilha casa com Zarko, um pastor alemão, e Zhara, uma cadela arraçada de pitbull. “Passo praticamente 24 horas com eles, só os deixo hora e meia para ir ao ginásio”, confessa a O MIRANTE a cabeleireira de profissão, que trabalha em casa.
Natacha tem 48 anos e há 16 anos vive só, tendo por companhia apenas os animais de estimação. Os familiares mais próximos já faleceram e um desgosto amoroso terminou em separação. “Sabe quando uma pessoa fica sozinha e se agarra a algo para aliviar o sofrimento? Foi o que eu fiz”, confessa.
Partilha uma cama com Zarko, que a meio da noite a troca por uma outra na varanda. Nenhuma divisão da casa lhes é vedada, mas “há educação e respeito” pelas ordens. Para o sofá, por exemplo, só sobem com autorização. Passeiam no mínimo três vezes ao dia. No passeio da manhã percorrem cerca de seis quilómetros, com direito a pequeno-almoço na rua: um queque sem lactose e sem glúten. Comem rações adaptadas às suas necessidades, mas também arroz com salmão, presunto, pipocas e outras iguarias. “Há quem faça pratos para agradar ao marido ou ao namorado eu faço para os meus cães”, diz Natacha. Em alimentação, medicamentos e produtos de higiene para os animais gasta em média 300 euros por mês. Mais do que gasta consigo.
Um casal de porcos anões como animais de estimação
Romeu e Julieta são um casal de porcos anões que com um mês e meio foram adoptados por Filipa Ferreira para integrar o seio familiar como animais de estimação. Um fiel amigo diferente do habitual, mas que retribui o carinho, embora à sua maneira. “São muito trapalhões e destravados”, conta a dona entre risos. “Os cães já desarrumam tudo por onde passam... Um porco é mil vezes pior”.
Julieta é mais dada a festas e a fazer companhia. Ainda habitou no mesmo apartamento que a família, em Almeirim, mas com a pandemia mudaram-se para uma casa em São Vicente do Paul, concelho de Santarém, onde têm, além do casal de porcos, cinco cães e um gato. “Vejo todos como animais de estimação. É impensável olhar para o Romeu ou para a Julieta a pensar que os vou comer”, diz.
Foi através do OLX que teve conhecimento da porca que na altura era alimentada a biberão. Hoje tem mais de 40 quilos, mas Filipa diz que não acarreta muitos custos. Vai ao veterinário uma vez por ano levar a vacina, mas nada mais que isso. Ainda assim, admite que acaba por gastar mais dinheiro com os animais do que consigo. “Quando a Julieta era mais pequena comprava-lhe vestidos como os que os cães usam. Ia passear com ela à rua por uma trela e as pessoas olhavam duas vezes quando ela roncava. Era muito giro”, conta.
Julieta chegou a ter vestidos para cada ocasião especial, incluindo no Natal. “É ela que na noite de Natal põe o barrete e faz a festa connosco e tem sempre direito a prenda”. Também nas férias de Verão Julieta não é esquecida e acompanha os donos nas idas à praia. O pior é a viagem. Fica nervosa e acaba por fazer as necessidades no carro. No areal partilha o protector solar do filho de Filipa, para proteger a sua pele sensível.
“Quando morre um animal que já é parte da família, é uma tristeza muito grande”, confessa a dona, acrescentando que lhe parece muito bem a proposta da antiga representante parlamentar do PAN e actual deputada não-inscrita, Cristina Rodrigues, que sugere a alteração do regime de faltas de modo a garantir um dia de luto pelo falecimento do animal de estimação. “Gosto mais dos meus animais do que de alguns familiares”, confidencia.
“Os animais são uma terapia”
Para Aurora Silva, de Santarém, a vida sem animais de estimação, mais concretamente sem gatos, seria impensável. Desde muito nova, quando ainda vivia na Guiné, a sua casa sempre teve a porta aberta aos felinos. Já em Portugal chegou a ter oito gatos num apartamento. Actualmente tem meia dúzia. Brancos, pretos, às listas... Aurora tem de tudo, mas a sua loucura são os persas.
“Tenho a minha princesa que é a Pipoca. Uma persa linda. Muito meiguinha. Quando a ponho no meu colo e falo com ela, parece que me percebe. Os animais são mesmo uma terapia e os gatos percebem quando estamos tristes, assim que entramos em casa”, conta a dona.
Todos foram recolhidos na rua ou adoptados em instituições, regra que Natacha Fonk também segue. O mais velho é o Sebastião. Acompanha Aurora há 16 anos e esteve presente em episódios difíceis da sua vida. “Deu-me um apoio que nem ele imagina”, conta emocionada. “Quando tenho um dia menos bom e me sento no sofá, aos poucos, mesmo os mais ariscos, vêm para o meu colo”.
Aurora Silva nem faz as contas a quanto gasta por mês com os gatos. Mas admite que ter uma casa cheia de amigos de quatro patas não é pêra doce para a carteira. Entre alimentação e areia gasta “uma fortuna”. “Não comem qualquer coisa. A comida não pode ser de marca branca dos supermercados. Já experimentei comprar, mas eles notam logo e não comem. Mesmo se misturar, comem o que é de marca e deixam o resto. Gasto mais em alimentação com eles do que comigo”, admite.
Quando algum tem uma doença, Aurora não olha a meios nem pensa no dinheiro. Depois de passar o susto faz contas à vida, mas não se arrepende de um cêntimo gasto com os seus animais. Afinal, depois de feita a contabilidade emocional, sente que recebe mais do que paga.