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A dama de ferro que pôs as contas dos “amarelos” em dia
Maria do Céu Ramos, há seis anos na presidência da direcção, confessa que o clube ainda lhe tira o sono

A dama de ferro que pôs as contas dos “amarelos” em dia

Maria do Céu Ramos é presidente da direcção do Clube Desportivo de Torres Novas há seis anos. Uma mulher entre homens que uniu o clube e pagou uma dívida de cerca de 40 mil euros. Cozinha, cobra quotas e atende no bar. No meio de tudo isto ainda conseguiu o relvado sintético e a tão ambicionada sede.

Maria do Céu Ramos está há seis anos à frente do Clube Desportivo de Torres Novas (CDTN) e foi por ser uma força da natureza que hoje o clube pode andar de cara lavada. Os cerca de 40 mil euros de dívidas que herdou, em 2014, estão pagos. O grosso desta dívida era às Finanças, cerca de 16 mil euros, às firmas de advogados que o clube tinha contratado e a quem nunca pagou, ao tribunal e à Câmara de Torres Novas.
“Foi um trabalho árduo. Tive que andar a pedinchar às empresas do concelho, aos sócios e teve que haver muitos cortes em coisas superficiais, mas conseguimos”, conta Maria do Céu Ramos, que recebeu a reportagem de O MIRANTE naquela que considera a sua segunda casa: o Estádio Municipal Dr. Alves Vieira. Conhece os cantos como ninguém e toda a gente a conhece.
Aos 62 anos, conta 27 de dedicação ao clube como sócia, cerca de seis como tesoureira e outros seis como presidente da direcção. Mas desporto não é com ela. “Nunca pratiquei nada. Não sou nada de fazer desporto. Gosto mais de ver”, atira, com uma grande gargalhada. A aproximação aos “amarelos”, como é conhecida na gíria futebolística a equipa do CD Torres Novas, começou quando o marido, António José Costa, era jogador na equipa de futebol sénior e Maria do Céu não perdia um jogo ao domingo. Fosse fora ou em casa.
Reconhecido o seu amor à camisola, aceitou o repto do ex-presidente da comissão administrativa, João Martins, e avançou para uma primeira candidatura, numa altura em que não teve opositores. Foi ficando e diz que só vai embora em Junho de 2021, altura em que haverá novas eleições para a direcção, se aparecer alguém em quem confie. Caso contrário, recandidata-se.
O marido faleceu entretanto e já não assistiu ao assumir da presidência. “Se fosse vivo acredito que teria muito orgulho”, aponta. Nuno Costa é o filho que também faz parte da direcção. “Consegui que viesse ajudar-me, mas está sempre a perguntar quando é que eu saio para ele sair também. Parece que não, mas isto dá muito trabalho”, diz.
O filho ainda a avisou que iria arranjar “sarna para se coçar” e, de facto, arranjou, sublinha. “Este clube tira-me o sono. Quando comecei nunca pensei que a dívida fosse tão grande. E ainda hoje, já com tudo pago, não descanso enquanto não pago aos jogadores, mesmo que digam que pague quando puder”. Em 2014 o máximo que cada jogador recebia era 100 euros, valor que não foi aumentado nem será tão cedo, garante a presidente.
Os apoios financeiros vinham das receitas do bar, do que era facturado aos domingos na bilheteira, das quotas dos sócios, alguns patrocínios e um apoio anual da câmara, que em 2020 rondou os 5 mil euros.
Maria do Céu é assistente operacional no Hospital de Torres Novas. Trabalha, maioritariamente, no turno da noite para poder ter os dias livres para tratar dos assuntos do clube. A dama de ferro que pôs as contas do clube em dia não se coíbe de varrer, lavar loiça, atender no bar, fazer bifanas, vender bilhetes e ao domingo as colegas já sabem que não trabalha porque tem que ir à bola. “Aos domingos também sou cozinheira. Vejo os jogos e depois faço o almoço para a equipa”, relata com um tremendo orgulho.
Uma rotina que esteve suspensa durante sete meses devido à pandemia e ao confinamento que levaram ao cancelamento do distrital de futebol. A nova época começou este mês, ainda condicionada pela Covid-19.

Vitórias celebradas no balneário
A presidente conhece os cerca de 500 sócios pelo nome. Gerir um clube desportivo não é difícil se estiver acompanhada de pessoas com amor ao clube e ao associativismo. “O CDTN já passou uma grave crise de identidade com muitos sócios a pagarem quotas, mas a não irem aos jogos. Neste momento o clube está unido, temos que aproveitar estes momentos”, defende.
O CDTN tem as modalidades de futebol e patinagem artística desde os escalões iniciais, a partir dos 4 anos, até aos seniores. No futebol tem ainda a equipa de veteranos. No total são cerca de 400 atletas. Cerca de 200 em cada modalidade.
Cada jogo é um sofrimento, cada vitória uma alegria. “Quando fazem um grande jogo, entro pelo balneário dentro e nem me lembro de perguntar se estão nus ou vestidos. É festa e pronto”, conta entre mais uma gargalhada. Emoções que não consegue refrear mesmo quando é para enfrentar os árbitros na defesa dos seus jogadores. Já levou várias multas e castigos ao ponto de ser suspensa e não poder assistir aos jogos no banco.
A luta pela sede e pelo relvado sintético foram outros dos objectivos conquistados que ficam marcados na história do clube. Até ao fim deste ano a sede será inaugurada. Trata-se de um espaço perto do estádio municipal, cedido pela autarquia.

Direcção afasta treinador por incompatibilidades com coordenador técnico

Afonso Alves, ex-jogador do CDTN, treinou a equipa sénior de futebol durante duas temporadas e foi dispensado pela direcção em Setembro, sendo substituído por Pedro Pereira. Esta saída gerou alguma polémica, com o ex-treinador a revelar nas redes sociais e em entrevista a O MIRANTE que a decisão foi tomada pela direcção do clube.
Segundo Afonso Alves, apesar das dificuldades em lidar com “algumas pessoas” da direcção, por estas não quererem para a equipa “disciplina e regra”, o amor que tem à camisola falava mais alto. “Por mim, tinha ficado. Não me incompatibilizei com ninguém, ao contrário do que é dito”, sublinhou. O técnico critica que tenha entregue à direcção uma lista de jogadores que interessava captar para a equipa e que tenha sabido que poucos tinham sido contactados.
Maria do Céu Ramos lamenta a saída do treinador e diz que gostava que as coisas tivessem tido um rumo diferente. A presidente do CDTN contraria Afonso Alves e garante que o ex-treinador e o coordenador técnico, Nélson Ramos, incompatibilizaram-se ao ponto de não se falarem. “Era impensável que continuassem a trabalhar juntos. Não havia condições e tivemos que dispensar o Afonso”, explicou.
A presidente diz ainda que alguns dos jogadores que Afonso Alves lhe pediu foram contactados, mas recusaram o convite porque o dinheiro que o clube oferecia era pouco.

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