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“As pessoas chamam ladrões aos políticos  mas são roubadas pelas grandes empresas” 
Fernando Rodrigues é um rosto conhecido da Fundação CEBI de Alverca

“As pessoas chamam ladrões aos políticos  mas são roubadas pelas grandes empresas” 

Fernando Rodrigues, 73 anos, presidente da Assembleia-Geral da Liga dos Amigos do CEBI

Nascido em Paredes, um lugar da vila de Alenquer, Fernando Rodrigues passou a maior parte da vida no vizinho concelho de Vila Franca de Xira. Trabalhou na OGMA e na Fundação CEBI e foi dirigente da AISC - Associação de Intervenção Social e Comunitária. Pessoa que não se irrita facilmente, gosta de viajar e tinha voo marcado para a China, que teve de adiar à força por causa da pandemia. Diz que os políticos são vítimas de uma campanha de demonização que começou nos anos 80. E elogia o papel de O MIRANTE enquanto jornal que dá voz a uma grande região.

Temos de tentar respeitar o próximo. Por natureza sou uma pessoa calma e serena mas se alguém tiver uma atitude estúpida ou maldosa para comigo aí irrito-me de certeza. Não convivo bem com as injustiças. É certo que cada um tem delas uma percepção diferente e coisas que para alguns são injustas para outros são banais. Gostava de acompanhar o crescimento dos meus netos e ajudar a que sejam bons cidadãos.
Viajar é importante para conhecermos outras maneiras de ver o mundo. Antes da pandemia andava a viajar com frequência e já tinha marcado viagem para a China. A agência de viagens já tinha ficado com o sinal e o voo estava marcado para Abril. Começámos com algum receio e depois o confinamento acabou mesmo por impedir a viagem. O ano passado fui ao Irão e à Turquia.
Comecei a trabalhar aos 14 anos. Mais tarde, entrei nas oficinas da OGMA em Alverca, debaixo da ameaça de ter de ir para a guerra do Ultramar. Acabei por ficar na empresa até me reformar. Fui director de pessoal. Chegámos a ter mais de três mil trabalhadores, ultimamente são pouco mais de mil. Já reformado acabei por ser convidado para dar apoio técnico junto da administração da Fundação CEBI na área de pessoal, onde estive até Maio do ano passado.
Fui autarca durante 32 anos em Alenquer, mas foi em Alverca que passei a maior parte dos meus dias. Fazia parte da assembleia distrital do PS e fui escolhido para ser o representante das autarquias junto da Segurança Social. O meu filho já frequentava o CEBI e um dia o José Álvaro Vidal encontrou-me e apoiou algumas das intervenções que fiz nessa assembleia distrital. Desde então passei a ficar ligado ao CEBI.
Tenho óptimas memórias do José Vidal. Era uma pessoa excepcional, que não esquecemos com facilidade. O convívio com ele marcou-me para toda a vida. Tinha uma atitude, uma força de trabalho e perseverança, que o levava a andar para a frente com os projectos. Fosse contra quem fosse e sempre a favor do próximo, nunca a favor dele. O José Vidal viveu com pouco, mas deixou-nos muito a todos nós.
Alverca pode fazer mais para recordar o José Álvaro Vidal. Não me sinto em condições de reivindicar, mas é verdade que ele deve ser recordado. Mesmo depois de mortas as pessoas continuam a servir-nos, desde que nos recordemos delas. É importante continuarmos vivos na memória das outras pessoas porque é sinal que fizemos algo que as marcou pela positiva.
As pessoas andam desligadas do associativismo. Ao escolherem os órgãos sociais delegam e confiam neles a responsabilidade de gerir as colectividades. Se o trabalho é o que as pessoas têm em expectativa é natural que se deixem de preocupar em ir às assembleias e confrontar as direcções. Enquanto tudo corre bem é fácil. O CEBI é felizmente muito activo e um bom exemplo.
A Covid é perigosa mas não acordo a pensar nisso. Acredito que é uma doença em que temos de ter alguma preocupação mas não alinho em fantasias de que foi criada para nos controlar. Vivemos num país que tem uma vida democrática saudável e mesmo neste cenário de coronavírus têm sido tomadas atitudes de forma democrática. Até agora o nosso Governo não merece contestação.
Não venho de berço de ouro e tudo o que alcancei foi com muito trabalho. Comecei a trabalhar aos 14 anos, fiz o liceu e ainda tirei o curso de Direito enquanto trabalhava. Na altura nem havia o estatuto de trabalhador estudante. Foi uma vida dura. Tudo o que conquistei na vida foi com o meu trabalho.
As pessoas insurgem-se contra os políticos, chamam-lhes ladrões, mas são roubadas todos os dias pelas grandes empresas e pelos grandes grupos económicos. E tudo acontece enquanto estão de cara alegre sem se importarem com isso. Um dos problemas que existe é o do poder se ter deslocado dos políticos para o grande capital e para as grandes empresas. E ninguém tem isso em conta. Desde de 1980 que se começou a falar que os políticos ganhavam muito, quando se sabia que nas empresas se ganhava mais. Sentiu-se nessa altura uma intenção de denegrir a política e quem a fazia. Gosto de política, mas não tenho simpatia por políticos que nunca fizeram outra coisa senão isso. Um homem é político quando, acima de tudo, é um cidadão normal.
O MIRANTE faz um trabalho muito importante. É um jornal regional que dá informação numa região bastante alargada e onde há sempre muita coisa a acontecer. Têm uma importância grande em toda a comunidade que é de realçar e destacar.

“As pessoas chamam ladrões aos políticos  mas são roubadas pelas grandes empresas” 

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