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Banda de Santo Estêvão é um centro  de cultura que respira juventude
Por um dia, a Banda Filarmónica de Santo Estêvão voltou a encher cadeiras e a dar uso aos instrumentos que estiveram parados durante a pandemia

Banda de Santo Estêvão é um centro  de cultura que respira juventude

A Sociedade Filarmónica de Santo Estêvão é um pólo de dinamização cultural na aldeia mais a norte do concelho de Benavente que atrai dezenas de jovens. Com a pandemia tudo ficou em suspenso. O 46º aniversário da colectividade quebrou o silêncio dos músicos da banda.



A pandemia silenciou as bandas de música, como a Banda da Sociedade Filarmónica de Santo Estêvão que ficou sem as festas tradicionais e os espectáculos agendados, inclusive um com sala esgotada. No sábado, 31 de Outubro, os 37 músicos que constituem a banda, quase todos jovens, quebraram o silêncio para assinalar os 46 anos de vida da associação, onde também se dança e faz teatro. Ao concerto juntaram-se apenas 50 convidados e um apertado plano de contingência.
Francisco José, de 13 anos, é um dos elementos mais novos. Toca trompete e este seria o quinto ano em que iria tocar em salas de espectáculos esgotadas, festas e romarias. Conta que já sentia falta de tocar para o público e confessa que lá em casa onde também a mãe, os dois irmãos e o padrasto são músicos da banda, “chega a estar um em cada divisão a tocar para seu lado”.
Quando terminou o concerto foi o primeiro a tirar o casaco do fato, já “um pouco apertado e desconfortável”. Desse, diz, não tinha saudade. E apesar do tempo que esteve sem tocar em palco, garante não ter falhado uma única nota, ao contrário do primeiro concerto, onde “estava cheio de medo e do trompete nem saía som”. Depois avisa: “Aprender um instrumento musical é difícil, requer muito treino. Se não se quiser mesmo aprender não se vai a lado nenhum”.
Gonçalo Ribeiro, de 14 anos, concorda, mas acha que teve sorte no instrumento que lhe calhou. “Tocar percussão é mais fácil. Em três meses passei da banda juvenil para a banda filarmónica”, diz, sublinhando que por ser mais fácil não é menos importante, pois “marca o ritmo e há músicos que se guiam pela percussão”.
Começou há um ano a frequentar a escola de música da Filarmónica de Santo Estêvão por influência de um amigo e, não fosse a pandemia, este tinha sido o primeiro ano a tocar em palco com a banda. Caso diferente do de Marta Tavares, de 19 anos, que leva seis anos a tocar flauta transversal. Estuda Informática e Gestão de Empresas, em Lisboa, mas continua a viver na aldeia, em parte para poder continuar na banda.

Ainda há quem pense que uma filarmónica é uma banda de velhos
Inicialmente, confessa Marta, sentia vergonha quando dizia aos amigos que toca numa banda filarmónica. “De facto, o nome não é muito apelativo e leva as pessoas a pensar que isto é só para velhos, mas não é” justifica. Agora o que sente é saudade quando uma pandemia a impede de tocar e “muito orgulho” em dizer a toda a gente que toca flauta na banda. “É muito bom tocar e ao mesmo tempo fazer parte de um grupo onde se trabalha para um objectivo comum e se criam amizades para a vida”, frisa.
E se os músicos estavam ansiosos para voltar a tocar em público, o maestro João Raquel já não via a hora de dirigir um concerto da banda. “É muito importante os músicos trabalharem para objectivos. Aliás, não sei trabalhar com eles de outra forma. Porque hoje é muito fácil um jovem pegar no telemóvel e ficar em casa, mas se souber que a banda precisa dele porque há um objectivo, mais facilmente o trazemos até nós”.
O concerto de aniversário durou mais de uma hora e o repertório percorreu vários estilos musicais, como a música popular, marchas, música ligeira a arranjos de música rock e pop - objectivo para o qual a banda trabalhou desde Julho, altura em que recomeçaram os ensaios, no auditório da sede da associação.

Novo presidente e contas mais apertadas com a pandemia
A Sociedade Filarmónica de Santo Estêvão é liderada há sete meses por António Silva, que soma 26 anos noutros cargos da direcção. Na banda está desde os nove anos e é um dos seus músicos fundadores. Lembra-se do impacto que a fundação da banda teve na aldeia e de todas as fases por que passou, “desde uma banda envelhecida aos dias de hoje onde cerca de 80 por cento são jovens”.
O que não mudou ao longo de 46 anos da Sociedade Filarmónica, destaca, é continuar a ser “um pólo da cultura para Santo Estêvão e uma referência para o concelho pela sua dinâmica no associativismo e pela qualidade de todos os espectáculos apresentados seja com o teatro ou a banda”.
A pandemia veio atrapalhar um ano que vinha cheio de espectáculos e a aprendizagem dos 50 jovens inscritos na escola de música. “Tivemos que deixar 10 de fora, os mais novos, porque não tínhamos condições”, conta António Silva. Mas o orçamento, que se prevê fechar negativo no final do ano, é o que mais o preocupa. “Perdemos quatro mil euros em espectáculos e outras iniciativas previstas e levámos um corte de mil euros no subsídio que recebemos da Câmara de Benavente, por falta de actividade que não é culpa nossa, mas desta pandemia”, lamenta o líder da associação. À espera vai ter de ficar a renovação de alguns instrumentos que, em vez de ajudar, já atrapalham os músicos.

Banda de Santo Estêvão é um centro  de cultura que respira juventude

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