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31 anos do jornal o Mirante
“O segredo da gestão de um restaurante  é não haver desperdícios nem quebras”
Filipe Aleixo enriqueceu o currículo com várias formações, uma delas é a de talhante de primeira

“O segredo da gestão de um restaurante  é não haver desperdícios nem quebras”

Filipe Aleixo, 31 anos, proprietário e chef do restaurante Coruja Chef, em Coruche.


Aos quatro anos já dava os primeiros passos na cozinha, sob influência da avó e da mãe. Quando teve que fazer uma opção para prosseguir os estudos, a cozinha e hotelaria foram a escolha natural para Filipe Aleixo. A inspiração chega dos que mais ama e é com amor, mas também com exigência e assertividade, que comanda o Coruja Chef, um restaurante que combina a cozinha tradicional portuguesa com os sabores mediterrânicos.

As suas primeiras memórias da cozinha começam aos 4 anos de roda do fogão, quando, por ser muito esquisito com a comida, a avó lhe disse “se não gostas faz tu”. Assim fez, e ia provocando um ataque cardíaco à mãe. Mais tarde a mãe deu-lhe algumas bases e liberdade para usar os tachos. O primeiro bolo que fez, aos 7 anos, foi para a forma sem qualquer unto. Ficou tudo pegado e queimado. Mais uma vez pregou um grande susto à dona Maria Antónia. Mãe e avó transmitiram-lhe os genes da cozinha e quando chegou a altura de fazer uma opção para prosseguir os estudos, a cozinha e hotelaria sobrepuseram-se à veterinária.
A infância foi passada em Coruche a brincar na quinta de São Martinho, ao lado do restaurante que agora possui, que antes era uma adega e onde Filipe Aleixo foi buscar inspiração para transformar o espaço num restaurante rústico. O edifício conheceu ainda outras funções, foi uma fábrica de cerâmica e depois uma discoteca.
Foi também em Coruche que estudou até entrar na Escola Profissional de Salvaterra de Magos. Lá tirou os cursos de Sala e Bar e Cozinha e Pastelaria, mais tarde acrescentou o diploma de Enologia, tirado em Peniche, e a carteira profissional de talhante de primeira, em Rio Maior.
Tentou ter o máximo de conhecimentos porque, confessa, gosta de evoluir e aprender todos os dias. Dando sentido a essa máxima estudou e trabalhou dos 16 aos 22 anos. Começou no restaurante O Forno, em Almeirim, passou pela discoteca O Capote, também em Almeirim, e seguiu para o Clube do Lago, em Benavente. Depois seguiram-se dois estágios, um na Pousada de São Filipe, em Setúbal, e outro num hotel em Lanzarote, nas ilhas Canárias.
Permaneceu em Espanha durante quatro anos, sentia-se feliz e realizado profissionalmente, mas não a nível pessoal. Faltava-lhe a família e os amigos. A avó faleceu nesse entretanto e não pôde vir ao funeral. Com a noção de que os anos vão passando e que o importante é estar perto dos que mais ama, regressou a Coruche e abraçou juntamente com a mãe e o irmão Ricardo, engenheiro electrotécnico de profissão, o projecto do Coruja Chef, em 2015.
O conceito do restaurante é cozinha tradicional portuguesa fundida com os sabores mediterrânicos. Nas traseiras há uma horta biológica certificada onde cultiva os próprios temperos. Aipo, segurelha, tomilho, hortelã-pimenta e muitos outros, são ali colhidos e, assegura o chef, fazem toda a diferença no prato.
No menu, têm mais saída os pratos típicos da região, como a vitela brava assada no tacho ou as bochechas de porco preto, temperadas à moda antiga com massa de pimentão. Para cada prato há uma ficha técnica elaborada a pensar na saúde e no bem-estar dos clientes. Por exemplo, explica Filipe, no prato de bochechas é retirada alguma gordura e é acompanhado com vegetais salteados e batata-doce.
Filipe é cobaia de todos os pratos. Experimenta cada um e espera algumas horas para perceber se fazem uma boa digestão. Quer servir refeições que saibam bem no momento em que são ingeridas, mas que não comprometam o bem-estar dos clientes. “O nosso maior orgulho é quando o cliente regressa. Quando volta e traz mais amigos ou familiares, essa é a melhor publicidade que podemos ter”.
No Coruja Chef não se usam caldos pré-fabricados, não há desperdícios e todos os restos são aproveitados para fazer os próprios molhos. “O segredo da gestão de um restaurante é não haver desperdícios nem quebras”, conta.
Filipe confidencia que adapta algumas ideias que vê nos programas de culinária na televisão, mas garante que a sua maior fonte de inspiração é ver a mãe, mestre doceira, todos os dias. Simpatiza com o chef de Pesadelo na Cozinha, Ljubomir Stanisic. “É exigente, e sem exigência hoje em dia nada se faz. É uma pessoa directa e assertiva, identifico-me com essas características”.
Com a pandemia o restaurante teve que se adaptar sobretudo na questão da lotação. Na higiene, garante, já cumpriam as regras mesmo antes de impostas, desinfectando tudo com regularidade. No Verão o prejuízo não foi grande porque o espaço tem uma grande esplanada que acolhe até meia centena de pessoas, mas Filipe está apreensivo com os meses de Inverno que se avizinham.
No restaurante tem saudades do stress de receber muitos clientes ao mesmo tempo. Da adrenalina da entrada de muitos pedidos na cozinha em simultâneo, a que se tem que dar resposta célere. “Agora não são permitidos grupos e as pessoas chegam a conta-gotas”.

“O segredo da gestão de um restaurante  é não haver desperdícios nem quebras”

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