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Casal de jovens da Carregueira quer vingar na agricultura
Depois do milho, Joel e Marta aventuraram-se na cultura de brócolos, pimentos e couves

Casal de jovens da Carregueira quer vingar na agricultura

Joel Mateus e Marta Duarte são um casal de jovens agricultores que trabalha nos campos da Carregueira e Golegã. A agricultura está-lhes no sangue e, dizem, não se imaginam a viver de outra coisa. Numa conversa com O MIRANTE explicam as dificuldades que têm em gerir um negócio começado do zero, com poucas ajudas, e confessam querer ser reconhecidos, no futuro, como dois grandes agricultores da região.


Joel Mateus, 24 anos, e Marta Duarte, 23, são um casal de agricultores da Carregueira, concelho da Chamusca, que já dá cartas na agricultura. São a prova de que a agricultura ainda está na moda entre os mais jovens, e de que o sector não vive apenas de negócios e testemunhos passados de geração em geração.
Em 2014, Joel Mateus, na altura com 18 anos, decidiu começar a trabalhar por conta própria e fundou a sua própria empresa. Diz que nunca gostou de estudar e que essa condição, embora não se orgulhe dela, acelerou o processo de querer começar a ganhar o próprio dinheiro.
O campo sempre fez parte da sua vida. Começou a trabalhar a sério aos nove anos quando acompanhava o avô, António Marques, quase diariamente nos cerca de cinco hectares de cultivo nos campos da Carregueira. Os primeiros trabalhos foram em cima de tractores, que aprendeu a conduzir com apenas 11 anos. Desde aí, a agricultura nunca mais deixou de lhe correr no sangue.
Foi para honrar o avô, entretanto já falecido, que decidiu ser empresário. “Quero mostrar que sou capaz de ganhar a vida com o meu trabalho; que as horas que o meu avô perdeu a ensinar-me não foram tempo perdido”, afirma, com convicção.
A conversa com O MIRANTE decorreu no estaleiro, na Carregueira, de que é proprietário. Enquanto conta a sua história ao repórter, a namorada Marta toma conta dos três cães e da porca Joaninha que teima, a todo o custo, em interromper a conversa.
Os desafios que o avô lhe colocou durante parte da sua adolescência fizeram dele um homem, garante. Os cinco hectares iniciais são hoje, seis anos depois, cinquenta. Antigamente só fazia milho, mas hoje também se aventura nas culturas de brócolos, pimentos e couves.
O casal confessa, com humildade, que iniciar um projecto de vida não é fácil e que tiveram de dar muitas cabeçadas para saberem o que sabem hoje. “Inicialmente não sabia os custos que fazer um hectare de terra acarretavam. Perdi muito dinheiro à conta disso. Agora, com a experiência, já fazemos as contas todas antes de começar a sementeira”, diz.
Joel Mateus anuncia, em primeira mão e sem o conhecimento da namorada, que vai comprar em breve o primeiro hectare de terra, uma vez que têm trabalhado em terras arrendadas. “Quem abre um negócio do zero tem de investir, correndo o risco de perder dinheiro. Vou investir porque quero produzir mais e melhor”, afirma, sem, no entanto, escapar ao olhar desconfiado de Marta que é o elemento do casal mais atento nestas matérias.
Quando questionados sobre como fazem para gerir a vida profissional com a pessoal, Marta Duarte toma as rédeas da conversa e responde: “Raramente estamos juntos durante o dia. Eu vou para o lado esquerdo e ele para o direito”, confessa, com um sorriso no rosto. Diz, agora mais a sério, que se apoiam mutuamente e que o facto de poderem partilhar em casa os problemas do trabalho é uma maisvalia tanto para a relação afectiva como para a profissional. Em jeito de conclusão, Joel e Marta pedem para deixar escrito que na agricultura, assim como na vida, “o importante é nunca desistir dos sonhos mesmo que pelo caminho existam umas curvas mais apertadas do que outras”.


Há vergonha em trabalhar na agricultura

Joel Mateus recrutou este ano, pela primeira vez, cerca de uma dezena de imigrantes para o ajudarem na apanha do pimento. Foi uma decisão que tomou depois de ter apanhado muitas desilusões com algumas pessoas, suas conhecidas, que chamava para trabalhar durante as campanhas. Uma grande maioria desistia ao final de uns dias porque, afirmavam, o trabalho é demasiado duro; outras queixavam-se dos baixos ordenados; mas aquilo que mais o indignava era comprometerem-se e depois, sem aviso prévio, não aparecerem para trabalhar.
Muito se fala que os empresários agrícolas se aproveitam dos imigrantes por serem mão-de-obra barata. Joel Mateus não desacredita esta teoria mas acrescenta: “Os imigrantes fazem o trabalho que os portugueses têm vergonha de fazer. No entanto, se formos ao estrangeiro, vemo-los a fazer o mesmo que podiam fazer aqui”, remata.

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