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Pandemia não trouxe um acréscimo de funerais mas sim novas regras e muito medo 
Isilda Grilo. José Rego. Mário Conceição

Pandemia não trouxe um acréscimo de funerais mas sim novas regras e muito medo 

São pouco mais de uma dezena os funerais de pessoas que morreram por Covid realizados pelas três funerárias contactadas por O MIRANTE em Santarém, Abrantes e Benavente. As regras mudaram e o que mais custa a quem fica é não poder ver uma última vez quem parte.

A pandemia trouxe novas regras também para as funerárias. Como garantir a dignidade e o luto na hora da morte sem colocar em causa o risco de transmissão não é um equilíbrio fácil. O MIRANTE foi ao encontro de três funerárias da região que, em conjunto, não realizaram mais de uma dúzia de funerais de defuntos infectados com Covid-19. Um número baixo quando comparado com os funerais “normais”, mas responsável por medidas drásticas que trazem dor e sofrimento aos entes queridos de quem parte.
Mário Conceição, da Funerária Campeão, em Santarém, diz que mudaram muitas regras. Ainda no dia anterior à conversa com O MIRANTE tinha realizado o funeral de uma pessoa infectada com Covid-19 e não pôde estar ninguém presente. O corpo da idosa, de 97 anos, saiu directamente do Lar de São Domingos para o crematório, sem a presença de familiares. Apenas o padre fez uma pequena cerimónia religiosa na rua.
“Agora põem mil e uma restrições e quem sofre são as famílias porque não podem velar os seus entes queridos, nem vê-los uma última vez”, desabafa. “Têm que acreditar que é o falecido que vai dentro da urna”, remata Mário Conceição, agente funerário há mais de cinquenta anos.
Isilda Grilo, da Funerária Tramagal, em Abrantes, confessa que é difícil fazer a família perceber que não é o agente funerário quem faz as regras. “Somos as piores pessoas do mundo por não os deixarmos ver os seus entes queridos. A morte é sempre um momento complicado e doloroso e nesta altura ainda é pior”, conta-nos. Para não haver dúvidas sobre a identidade do corpo tira uma fotografia, sempre que possível.
Um procedimento que José Rego, da Funerária Senhora da Paz, em Samora Correia e Porto Alto, no concelho de Benavente, também diz que já se tornou habitual, mas que é complicado, uma vez que os corpos são entregues fechados em dois sacos. “Normalmente só conseguimos fotografar a etiqueta com o nome e isso já é o suficiente para tranquilizar os familiares”, diz.
Em cada uma destas três funerárias a média mensal de funerais manteve-se estável e ronda uma dezena. A pandemia não trouxe um acréscimo de serviços fúnebres, mas sim novos procedimentos e sobretudo muito medo. “Quando se entra na morgue reina o pavor ao olhar para os selos de contaminação colados nos sacos dos corpos, é assustador”, confidencia Isilda Grilo.
“Temos o culto dos mortos e agora tornou-se tudo numa coisa muito fria”, resume Mário Conceição. “Amanhã vou depositar as cinzas no cemitério de Santarém da senhora que ontem foi cremada, e a filha nem quer lá ir. As pessoas têm medo e defendem-se”, acrescenta. José Rego também lamenta esta nova realidade: “Não estávamos habituados a trabalhar assim, é muito triste não haver uma despedida condigna”.
A funerária de Isilda Grilo, no Tramagal, realizou apenas dois funerais de pessoas infectadas com Covid desde o início da pandemia. Em Santarém, Mário Conceição realizou três, e em Samora Correia e Porto Alto, José Rego contabiliza sete funerais Covid-19 desde Abril.

Pandemia não trouxe um acréscimo de funerais mas sim novas regras e muito medo 

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