Coluna que testemunhou o drama de Pedro e Inês ameaçada pela ruína
Parede onde assenta a peça em pedra que pertenceu a um palácio medieval está a abrir brechas e ameaça ruir. Donos do edifício, em Santarém, já foram notificados para fazerem obras e garantirem a preservação daquele património.
Reza a história que fez parte de um palácio em Santarém onde foram executados com requintes sádicos, em meados do século XIV, dois dos assassinos da dama galega Inês de Castro, protagonista de uma tórrida história de amor com o infante e posteriormente rei D. Pedro I, que terá assistido deleitado à vingança. O palácio desapareceu mas a multi-centenária coluna chegou aos nossos dias, estando agora ameaçada pela ruína, como pode testemunhar quem passa pelas Escadinhas das Figueiras. A parede base em que se sustenta a peça de pedra trabalhada apresenta fendas tão rasgadas como as que terão sido abertas pelo carrasco nos torsos dos dois assassinos da dama galega, para lhes serem arrancados os corações.
A coluna está colocada no terraço de uma casa que dá para as Escadinhas das Figueiras, um inclinado acesso que liga a Rua 31 de Janeiro à Travessa da Calçada das Figueiras, no centro da cidade. O imóvel pertenceu à Santa Casa da Misericórdia de Santarém até Outubro de 2019, quando foi vendido a emigrantes em França. Confina com outro edifício da Misericórdia, que pode ser afectado por uma eventual derrocada.
A situação está sinalizada pela Câmara de Santarém, que já fez uma vistoria ao local e contactou os proprietários para tomarem as medidas necessárias à preservação daquele património histórico. O engenheiro Fernando Trindade, técnico superior da Câmara de Santarém, disse a O MIRANTE que os proprietários vão voltar a ser notificados, dado que não houve resposta. Até lá deverá ser delimitado um perímetro de segurança para prevenir eventuais danos em caso de derrocada.
Há também a possibilidade legal de o município se substituir aos proprietários, realizando as necessárias obras e imputando depois os custos da intervenção. Mas essa solução poderá ser mais morosa, já que implica a posse administrativa do imóvel e solicitar orçamentos para os trabalhos, o que leva sempre o seu tempo. “Vamos ver se conseguimos resolver o assunto com os proprietários o mais rapidamente possível”, disse Fernando Trindade.
Memória gravada em azulejo
Segundo a wikipedia, dois dos assassinos de Inês de Castro, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves - que tinham fugido para Castela após a execução da dama galega a mando do rei D. Afonso IV (pai de D. Pedro) -, foram apanhados e executados em Santarém em 1360. O episódio é recordado num painel em azulejo na parede da casa onde se encontra a coluna. Segundo a lenda, já como rei de Portugal, D. Pedro I mandou arrancar o coração de um pelo peito e o do outro pelas costas, assistindo à execução enquanto se banqueteava.
Pedro e Inês protagonizaram um dos romances mais míticos da História de Portugal, estando os seus restos mortais sepultados no mosteiro de Alcobaça.