Começou a escrever histórias em criança e nunca mais parou
Luís Mendes Pombinho é um autodidacta apaixonado por palavras e folhas em branco, que gosta de colocar no papel as histórias saídas da sua imaginação.
Luís Mendes Pombinho tinha cinco anos quando o avô materno lhe pediu para escrever uma história. A imaginação levou-o a escrever sobre um cão preto e um cão castanho. O avô achou graça à narração e enviou-a para o jornal Diário Popular. Acabou por ganhar um concurso que lhe valeu um diploma e uma caneta de tinta permanente. Luís perdeu o rasto ao papel onde escreveu a história e ao diploma, mas guardou tudo na memória. Não se considera um escritor mas sim um autodidacta apaixonado por palavras e folhas em branco.
Natural de Tramagal, concelho de Abrantes, aos 74 anos tem 14 livros escritos que imprime na gráfica de uns amigos e pede apenas oito exemplares para oferecer aos filhos, netos e amigos mais chegados. Não tem a pretensão de ser escritor reconhecido. Apenas gosta de puxar pela imaginação e encher as páginas de um documento no computador.
Luís Mendes Pombinho teve uma infância feliz mas difícil. O dinheiro não abonava. Com mais quatro irmãos, havia muitas bocas para alimentar em casa. Foi também por esse motivo que aos quatro anos foi viver uns tempos com os avós maternos em Santa Cita, concelho de Tomar. Lá descobriu o gosto pela leitura e pela escrita ainda antes de entrar para a escola. Paixão que partilhava com a sua mãe. Regressou ao Tramagal para fazer a escola primária e pediu aos pais para prosseguir com os estudos, mas a família não tinha posses para isso.
Aos 12 anos começou a trabalhar na Metalúrgica Duarte Ferreira, na sua terra natal, e aos 16 decidiu estudar à noite. Tinha terminado o quarto ano quando, aos 20 anos, foi para a tropa. Primeiro para Elvas depois para Sacavém e para a Guerra do Ultramar, em Angola, onde esteve dois anos e dois meses. Não gosta de falar sobre o período da guerra porque diz que ninguém deveria assistir às coisas que lá se passaram.
Uma falsa dor de dentes e um desgosto de amor
Pombinho só não gostava de estar no mato, porque as férias que passou em Luanda, capital de Angola, ficaram-lhe na memória e estão escritas num dos seus livros. Na primeira visita a Luanda conheceu uma jovem por quem se deslumbrou. Entretanto, teve que regressar ao mato. Passados dois meses inventou uma dor de dentes para poder regressar à cidade. Quando lá chegou reencontrou a rapariga, mas o encanto deu lugar ao desgosto quando ela lhe apresentou o namorado. E no final ainda teve que arrancar um dente que fingiu doer-lhe para poder viajar. Nunca mais voltou a ver a jovem, mas o livro “Um dente por Paixão” conta essa história.
Regressado da Guerra voltou ao Tramagal e ao trabalho na Metalúrgica. Terminou o curso industrial e a secção preparatória. Entretanto casou e teve dois filhos. Aos 29 anos agarrou a oportunidade de trabalhar numa fábrica de cartonagem em Leiria, onde chefiou o gabinete técnico. Viveu em Leiria quase 25 anos, altura em que se reformou e decidiu regressar à terra natal, onde vive há sete anos. Os dois filhos e quatro netos vivem na Marinha Grande.
Os tempos livres são passados a pescar ou a escrever. O primeiro livro, intitulado “Factos da minha vida”, foi publicado em 2009 apesar de estar escrito há muito tempo. Alguns relatam factos reais, mas a maioria é ficção. Actualmente está a escrever uma história sobre um filho que matou o pai. Tudo fruto da sua imaginação. O enredo passa-se em vários locais do concelho de Abrantes. Se tudo correr bem, e a pandemia deixar, pretende lançá-lo no início do próximo ano. Recentemente, ofereceu um exemplar de cada livro à Câmara de Abrantes para fazer parte do acervo da Biblioteca Municipal António Botto.
Tramagal está a definhar porque falta emprego e casas que atraiam jovens
Luís Pombinho foi dirigente associativo durante 26 anos. Começou como vogal da Sociedade Artística Tramagalense (SAT) aos 18 anos. Foi fundador do clube desportivo da empresa onde trabalhava, em Leiria. Nessa cidade também foi vice-presidente do Sport Clube Leiria e Marrazes e do Hóquei Clube de Leiria. Ainda é vice-presidente da Associação de Patinagem de Leiria.
Lamenta que o associativismo esteja a morrer e considera que o Estado deveria dar incentivos, não monetários, aos dirigentes associativos porque, diz, são eles que se estão a substituir ao próprio Estado na educação desportiva. “A continuar assim ninguém quer tomar conta dos clubes e colectividades”, critica.
Quando regressou ao Tramagal escreveu o musical “E foi assim” para a Sociedade Artística Tramagalense. Da juventude recorda os tempos em que jogou futebol no Tramagal Sport União, mas admite que não tinha grande jeito para a bola. Em relação à sua terra é com tristeza que a vê definhar. “Quando a Metalúrgica funcionava era uma vila cheia de vida. Depois foi morrendo aos poucos porque as pessoas saíram daqui à procura de emprego. Além disso, não há casas para alugar ou comprar e o município durante muito tempo só se preocupou com a cidade e esqueceu-se das freguesias. Essa decisão tem como consequência, o abandono das vilas e aldeias das suas freguesias”, conclui.