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Pandemia arrasou o tango porque para o dançar são sempre precisos dois
Miguel Nabeto e Cláudia Jesus praticam danças de salão há vários anos

Pandemia arrasou o tango porque para o dançar são sempre precisos dois

Aulas online não resultam e agora só dançam pares cujos elementos vivam juntos.

As danças de salão estão de volta mas com tantas regras que anulam a essência da modalidade. Nas escolas de dança do Centro Social do Sobralinho e Alunos de Apolo de Azambuja os dançarinos são menos e aos pares só se dança se os dois elementos viverem na mesma casa.

Na pista de dança do Centro Social do Sobralinho, concelho de Vila Franca de Xira, as luzes voltaram a acender-se e a música a tocar, mas são menos de metade os alunos que regressaram após a paragem por causa da pandemia. As novas regras obrigam a desfasar horários de treinos, a desinfecções constantes e impedem as danças a par a menos que os dançarinos que formam os pares vivam na mesma casa.
Fábio Trindade, professor de dança, vai tentando a custo motivar os alunos a não desistirem. Na pista dos Alunos de Apolo de Azambuja o cenário repete-se. Onde antes dançavam dezenas, a pares, agora há apenas um casal a cumprir a coreografia a quatro pés.
“As danças sociais e de salão foram as que sofreram mais com esta regra de não podermos dançar a pares. Muitos dos alunos não voltaram nem sabemos se voltarão quando isto passar”, diz Miguel Nabeto, professor e fundador da escola.
No salão onde treinam, no quartel dos Bombeiros Voluntários de Azambuja, não pode haver qualquer contacto entre dançarinos e elementos da corporação, mas as regras vão muito além disso. No máximo estão dez alunos por sala a dançar a três metros de distância, numa pista que é desinfectada entre cada treino. Só as máscaras, adereço chave da pandemia, fica de fora por não ser aconselhada a sua utilização durante a prática de actividade física.
O Dia Internacional do Tango assinalou-se a 11 de Dezembro e os professores e dançarinos não têm dúvidas. Este foi o pior ano para se dançar um tango, cuja essência vive do toque, das pernas entrelaçadas a contrastar com a elegância e dureza da expressão facial.
“São precisos dois para dançar o tango. Pode-se trabalhar mais a execução técnica, mas falta o toque, o comando, o contacto com a força que é exercida entre os pares”, sustenta Fábio Trindade revelando que o que geralmente acontece é que sem par os alunos rapidamente se fartam das danças.
Na altura do confinamento, para evitar que os alunos perdessem o interesse ou desligassem por completo da modalidade, Miguel Nabeto estreou-se nas aulas de dança online, mas a experiência não correu como o esperado. “Às vezes estava eu a dançar sozinho e os alunos parados a olhar para mim através de um computador. Não dá para ensinar ou aprender assim”, conta a O MIRANTE.
“Não é fácil manter as portas abertas quando a magia da dança se perdeu”, realça Fábio Trindade. A Federação Portuguesa de Dança Desportiva está a tentar chegar a um consenso para que a modalidade desça do risco elevado para baixo, para que as competições possam voltar a existir.
Nos Alunos de Apolo de Azambuja já se começou a tratar das inscrições para 2021, mas nada é certo para já. “Não é uma federação rica como a do futebol que pode pagar testes [à Covid-19] constantemente”, por isso, afirma Miguel Nabeto, é que os pés há muito que voltaram a chutar a bola, mas não podem dançar. Mesmo que no futebol o toque ocorra entre vinte e dois e na dança apenas entre dois.

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