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“PS de Azambuja tem falta de visão política e faz obra para ganhar eleições”
David Mendes diz que Aveiras de Cima precisa de um investimento enorme e racional que não passe apenas por um novo centro cultural

“PS de Azambuja tem falta de visão política e faz obra para ganhar eleições”

Já se fartou da política mas voltou porque acha que é necessário. Em entrevista a O MIRANTE o vereador da CDU na Câmara de Azambuja, David Mendes, acusa a maioria socialista de falta de planeamento e o PSD de incrementar um discurso vazio e populista. Mas admite que só um “milagre” tira o PS do poder porque em Azambuja vota-se por “clubismo”.

David Mendes entende que o PS, que governa o município de Azambuja há mais de trinta anos, padece de uma grave doença muito comum na política: a “ausência total de planeamento”. O arquitecto e vereador da CDU não tem dúvidas de que as obras são feitas numa perspectiva de luta pelo voto fácil e tem a certeza de que a única alternativa para o concelho é a esquerda comunista.

À semelhança do que apregoa nas reuniões de câmara, considera que o PSD é adepto da política populista e enganadora. Defende que a oposição tem de ser responsável e viabilizar as propostas que pensam o desenvolvimento do território. Elege como único investimento mobilizador do concelho o futuro centro cultural em Aveiras de Cima, que vai nascer no antigo cinema construído pelo seu avô.

Durante duas horas de entrevista, que decorreu na casa onde vive, desenhada pelo próprio, David Mendes falou do passado e do futuro da política no concelho de Azambuja.

Está na oposição CDU desde 1995 e já foi duas vezes candidato a presidente de câmara. Não é cansativo estar sempre na mesma pele?

Em democracia ninguém perde, todos são necessários, inclusive a oposição que quando está contra deve participar em soluções diferentes. Ser vereador sem pelouro não é ingrato, mas é difícil, porque temos de acompanhar e estudar muito bem todos os dossiês... Leva muito tempo.

Foi por falta de tempo que este ano esteve cerca de seis meses ausente da política, a ser substituído por Mara Oliveira?

Ausentei-me porque já estava saturado da política e a saúde não andava muito bem.

Já não é a primeira vez que se farta da política...

Estive quatro anos de sabática de 2005 a 2009 e depois voltei porque acho que sou necessário. Farto-me porque a política atrai muitas moscas varejeiras que andam a apenas a representar os partidos.

Ultimamente parece que faz mais oposição ao PSD que aos socialistas que governam Azambuja.

Não concordo. O que acontece é que concerto acções com o PS, o que faz com que me coloque contra o PSD que perturba as sessões de câmara com discursos que espremidos não dão nada. O PSD lança ideias, mas não explica como é possível concretizá-las. Isso agrada a algumas pessoas mas não passa de um discurso populista e, por vezes, enganador.

Qual é na sua opinião a prioridade para o concelho de Azambuja?

Um projecto mobilizador que gere coesão no concelho. Tenho criticado muito a ausência total de planeamento do território. Faz falta a criação de um departamento de planeamento para poupar dinheiro ao município e racionalizar as acções políticas. Também é preciso acabar com a tendência natural para se fazerem investimentos na sede do município. E o problema é que a nossa está numa ponta do concelho.

Está projectado o centro cultural e o parque urbano da Milhariça, que embora sejam projectos com barbas vão finalmente avançar, e ambos são em Aveiras de Cima...

Aveiras precisa de um investimento enorme e racional. O novo centro cultural, no antigo cinema, vai fazer com que todo o concelho ganhe e o Luís de Sousa percebeu isso, porque Aveiras tem um dinamismo que Azambuja não tem. Quanto ao parque na Milhariça eledemonstra, mais uma vez, falta de planeamento. A Quinta do Mor seria melhor solução. A um político pede-se visão, não é para resolver os problemas do dia-a-dia.

Há falta de visão no executivo de Luís de Sousa?

Há. O PS tem falta de visão política e faz obra numa perspectiva de ganhar eleições e nunca para preparar o futuro daqui a 10 ou 20 anos. Este último mandato, então, foi uma desgraça, à execpção do centro cultural em Aveiras de Cima que é uma obra mobilizadora e com visão de futuro.

Fechar o aterro tem sido a luta política deste executivo, mas a O MIRANTE Teresa Almeida, presidente da CCDR de Lisboa e Vale do Tejo, já veio dizer que se as regras estiverem a ser cumpridas não há volta a dar. Acredita que ainda se pode chegar a bom porto?

Fechar é impossível. O aterro tem de continuar a existir durante alguns anos para gestão, mesmo que já não se coloquem lá mais resíduos. Outro problema é que o PSD serviu-se do problema politicamente e ampliou-o mal e agora a empresa que o gere barrou a entrada à comissão de acompanhamento e não dialoga com o município. Isso não podia acontecer, tal como antes não podia ter acontecido o interesse público municipal, o erro crasso que o Joaquim Ramos cometeu... E ainda não o ouvi dizer que errou, atitude que o Luís de Sousa já teve.

Esse erro pode comprometer a vitória do PS nas urnas em 2021?

Não sei. As pessoas votam nos partidos por afecto clubístico, não se reflectem as acções políticas e os erros que se cometem. Se o fizessem, o PS já tinha tido alguns dissabores, mas as clientelas que votam estão muito organizadas e retirar-lhes a câmara só com um milagre.

Vai tentar esse milagre?

Ainda é extemporâneo, mas tenho vontade de continuar. A CDU ainda não apresentou candidatos, mas o PS oficialmente também não. O Silvino Lúcio propôs-se e a passagem a vice-presidente é um sinal de que o PS, internamente, já pode ter concertado egos. Mas ainda a procissão vai no adro...têm demasiados egos e os cargos são poucos.

A avançar o Silvino Lúcio, vê nele qualidades para ser um bom presidente?

Precisa de aprender a controlar a agressividade que lhe tolda o pensamento. Quando se acha que se sabe tudo está-se completamente errado.

Acredita que o PSD pode surpreender nestas eleições?

Neste concelho a alternativa sempre foi a CDU, nunca o PSD que só ganhou uma vez duas juntas, uma delas com o Luís de Sousa a presidente. PS e PSD são dois gémeos siameses que querem as mesmas coisas e nunca podem ser alternativa um do outro.

Nunca é visto em corridas de toiros. É contra a tauromaquia?

Não sou contra, só não sou aficionado. Quando era criança fui a uma corrida de toiros. Por vontade própria não vou e estou convencido que irão acabar.

Mas é contra os apoios que o município dá à festa brava...

Existe um enorme exagero nos apoios que o município dá à tauromaquia em comparação com o que dá ao cinema, ao teatro, às artes no geral. A oferta cultural em Azambuja precisa de um reforço orçamental.

Um arquitecto crítico do ordenamento do território no concelho

David Mendes nasceu a 12 de Dezembro de 1954. Cresceu em Aveiras de Cima, vila onde mora e de onde apenas saiu para viver uma temporada com o pai no continente africano. Teve vinhas, vindimou e as portas da sua adega eram o pouso de todos os que lhe batessem à porta porque queriam degustar o vinho branco que produzia. Ia ao cinema da vila, que era do seu avô David Pinto. Casou tarde, aos 50 anos, e teve um filho, o único, já depois dessa idade.
É arquitecto e foi o pavor à falta de ordenamento do território em Azambuja que o levou até à política, com o empurrão da CDU. Nunca militou no PCP. Tem muitos amigos no partido, mas não partilham sempre a mesma opinião. Gostava que a democracia evoluísse no sentido de dar cada vez menos importância aos partidos políticos e permitir que um indivíduo, de forma isolada, pudesse concorrer, por exemplo, ao cargo de vereador.
Diz-se que nunca o encontram na rua e que dialoga pouco com os presidentes de junta da sua cor política. Defende-se, dizendo que todos os dias visita o alto do concelho e que é ele quem não encontra o presidente de junta. Não perde uma boa conversa, de preferência ao som de música calma, como o jazz que acompanhou esta entrevista. Na música, como na política, às vezes também perde a calma e faz tocar os Deep Purple e Led Zeppelin.

“PS de Azambuja tem falta de visão política e faz obra para ganhar eleições”

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