uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
2020 – a nossa odisseia
Vítor Costa

2020 – a nossa odisseia

Vítor Costa - Diretor da Escola Superior de Gestão e Tecnologia de Santarém


O presente ano de 2020 trouxe importantes desafios na escala individual, desde logo pelos impactos da potencial, e boa parte das vezes generalizada, perda de rendimentos dos agentes económicos assim como pelas consequências graves vistas pela perspetiva da saúde e bem-estar de todos nós.
De igual modo, junto das empresas e das organizações se observaram constrangimentos de toda a ordem, verdadeiros obstáculos à concretização dos objetivos estratégicos e às determinantes de cariz operacional desenhados para o desenvolvimento económico e para o crescimento institucional em cada caso.
Por estas razões que opto por não detalhar simplesmente por reconhecer em toda a sociedade um profundo cansaço nesta matéria, é seguro afirmar que 2020 não deixará saudades em nenhum de nós e representará seguramente uma memória dolorosa. Contudo, gostaria de centrar esta minha intervenção no que também se tornou claro durante todos o presente ano.
No início de qualquer caracterização económica do nosso país encontramos sempre referências ao défice de qualificações crónico assim como aos efeitos de uma “pobreza estrutural” como fatores que limitam o potencial de desenvolvimento económico e social, trazendo-o para padrões verdadeiramente europeus e compatíveis com as expectativas de todos.
Sendo esta premissa verdadeira, a presente destruição de valor e a adoção de novos modelos de desenvolvimento, mais sustentáveis e suportados em tecnologia, permitem equalizar boa parte das diferenças pré-existentes. O ano de 2020 trouxe por isso, no momento atual, a oportunidade de um recomeço e um momento de reinício dos processos de desenvolvimento.
O reforço da coesão interna nas organizações e o cerrar de fileiras entre todos nas empresas e nas demais instituições para conceber e concretizar novos modos de assegurar a continuidade das operações deve ver-se como notável. A mobilização da ciência e do conhecimento na procura de soluções complexas, mas viáveis e passíveis de implementação no curto prazo, demonstram plenamente as razões pelas quais, nós nas escolas superiores, de há tão longo tempo afirmámos a importância da qualificação da sociedade.
A inteligência coletiva, resultado dos contributos individuais qualificados é mesmo um ativo fundamental. Para os problemas complexos não há respostas simples que não resultem do conhecimento aprofundado e da mobilização do conhecimento e da ciência. Em 2020 conseguimos observar efetivamente o valor da ciência e a importância da transferência do conhecimento para aplicações concretas nos vários domínios.
Com este enquadramento, realço agora o que nos deve motivar para este processo. O presente ano letivo trouxe ao ensino superior um reforço na procura, para todos os graus e ciclos de estudos, e para a generalidade das ofertas formativas. Um aumento superior a 15% no número de estudantes colocados, o reforço das colocações em 1ª opção e a permanência destes nas colocações são os resultados de referência. É importante que a sociedade, perante tão grandes constrangimentos como a perda de rendimentos ou a resposta pandémica, procure respostas no ensino (em particular no ensino superior), mobilizando a melhor resposta das instituições.
A flexibilização dos procedimentos, tantas vezes excessivamente pesados e mal suportados em tecnologias, a adaptação introduzida nos processos de ensino-aprendizagem é já uma aposta ganha. Muito do que temos feito dentro das escolas superiores já não terá recuo. A pandemia trouxe oportunidades de desenvolvimento institucional, sobretudo porque acelerou o tempo necessário para a introdução gradual das alterações, das quais o futuro não prescindirá.
Também no tecido empresarial se operaram transformações notáveis. A adaptação dos modelos de funcionamento, a introdução massiva de recursos tecnológicos, a reavaliação da forma como estão presentes nos mercados e a introdução de uma verdadeira cultura de flexibilidade, deixará para todas as empresas que por fim subsistirem, sementes onde apoiar um futuro de promissor crescimento empresarial.
Daqui também resulta claro que os processos de recrutamento e seleção de colaboradores e a atração e a retenção de talento nas organizações não deixarão de estar no centro da decisão executiva. Devemos mesmo concluir que em 2020, de forma quase instantânea, se operaram transformações que no ritmo anterior só poderíamos esperar como contributo de uma década inteira.
Termino com a certeza de que a resiliência de que demos provas, tanto na escala individual como na escala institucional preparam-nos para um futuro exigente, naturalmente incerto. Em 2020 tivemos todos uma oportunidade para melhorar as nossas respostas. De que outro modo lá poderíamos ter chegado, sem nos termos desafiado no presente ano?
Votos de boa saúde
e feliz Ano Novo para todos.

2020 – a nossa odisseia

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido