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Coveiro da Chamusca reformado trabalhou  de graça e sem férias mais de 10 anos
Jorge Sequeira trabalhou durante dez anos no cemitério da Chamusca como coveiro sem receber ordenado e sem ter direito a férias

Coveiro da Chamusca reformado trabalhou  de graça e sem férias mais de 10 anos

Jorge Sequeira trabalhou os últimos 10 anos da sua vida de graça e sem direito a férias. Voluntariou-se para o serviço de coveiro no cemitério da Chamusca depois de se ter reformado por invalidez, mas o município nunca lhe deu o devido valor. O desgaste e a falta de consideração ditaram a sua desistência.



A história dos últimos dez anos da vida de Jorge Sequeira podia servir de guião para um filme sobre os casos sociais da região ribatejana. Natural da Chamusca, Jorge Sequeira trabalhou durante esse período como um dos coveiros do cemitério municipal sem receber ordenado ou qualquer ajuda de custo e sem ter direito a férias. Trabalhava de sol a sol, sem nunca faltar, a abrir covas e a varrer o lixo do cemitério da Chamusca.
As pessoas que lhe são mais próximas foram, ao longo dos anos, alertando para o facto do seu esforço estar a ser pouco valorizado pela autarquia, mas Jorge lá foi continuando, cumprindo com as suas obrigações, como se fosse um dos mais de uma centena de funcionários públicos que trabalham para o município.
O MIRANTE foi à Chamusca conversar com Jorge Sequeira, de 54 anos, na tarde de terça-feira, 8 de Dezembro. As dificuldades de Jorge em comunicar verbalmente fazem dele um homem de poucas palavras, tímido e com uma tendência natural para fugir aos assuntos mais complexos. A sua condição de saúde antecipou a sua reforma há mais de uma dezena de anos depois de muito tempo a trabalhar numa fábrica de cortiça da Chamusca que entretanto fechou. Na juventude guardava gado e trabalhava na construção civil.
Foi depois de se reformar, por doença, que surgiu a oportunidade de ocupar os tempos livres como ajudante do coveiro principal do cemitério. O trabalho, como voluntário, não lhe permitia receber um ordenado mas o presidente da Câmara da Chamusca, na altura Sérgio Carrinho, ajudava-o pagando-lhe despesas de representação. Desde que Paulo Queimado assumiu a presidência da autarquia, em 2013, isso deixou de acontecer.
Jorge Sequeira recebe de reforma cerca de 300 euros por mês; a renda mensal da sua habitação custa 150 euros, fora o pagamento das contas da água, luz e gás; o pouco dinheiro que sobra não é suficiente para a sua alimentação, por isso recorre às ajudas da mãe e da junta de freguesia. A solidariedade de alguns amigos dá-lhe a possibilidade de ir fazendo umas horas a limpar telhados, quintais ou a enfardar palha, entre outros serviços.
Foi o acumular de mais de sete anos de trabalho sem compensações, das 08h00 às 17h00, todos os dias, sem faltas e sem férias, que ditou o fim da entrega de Jorge Sequeira à causa. Um ano depois da sua saída Jorge Sequeira ainda não recebeu uma palavra de apreço ou consideração por parte do executivo municipal. Em jeito de desabafo, diz a O MIRANTE que sente orgulho por ter ajudado, enquanto pôde, mas que já não aguentava mais.

À margem

Histórias como a do Jorge é o que não falta por aí entre vales e montes. Nem por isso devem ser caladas aquelas que nos chegam aos ouvidos e se metem pelos olhos. O poder político na Chamusca mudou há cerca de sete anos, mas há coisas que nenhuma política nem nenhum político permite mudar. Uma delas é a forma como se tratam os mais desfavorecidos da sociedade, os que por razões de saúde, e não só, são os órfãos de um Estado miserável e de um poder autárquico sem gente que tenha passado pela escola da vida. O executivo socialista da Chamusca deu o pior exemplo no caso do Jorge. Fica aqui a nota à margem para que os políticos percebam que governar não é só gerir vaidades; também é trabalhar e dar o exemplo.

Coveiro da Chamusca reformado trabalhou  de graça e sem férias mais de 10 anos

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