Câmara de Azambuja só reage quando sente que as situações geram opiniões negativas
Henrique Gonçalves tem 22 anos e lidera a Juventude Social-Democrata de Azambuja. Em entrevista a O MIRANTE diz que Azambuja é um oásis de emprego jovem desperdiçado por políticas passivas e falta de visão estratégica. Refere que as obras na Secundária de Azambuja andam há demasiado tempo em banho-maria e lamenta que ainda haja quem se queira filiar numa juventude partidária para abrir caminho para um emprego.
Henrique Gonçalves não tem dúvidas que a falta de incentivo ao emprego jovem é uma doença crónica no país e Azambuja não foge à regra. Peca o Estado central e peca o município ao não criar incentivos para as empresas fixarem nos seus quadros as camadas mais jovens.
Acusa os socialistas que governam a Câmara de Azambuja desde o tempo em que ainda não era gente de repousarem à sombra de políticas reaccionárias, quando está em causa a qualidade de vida da população. E atira responsabilidades sobre o abate dos 540 animais na Quinta da Torre Bela.
O jovem, de 22 anos, recebeu O MIRANTE na sede do PSD de Azambuja, onde entrou pela primeira vez há quatro anos, convicto daquela que considera ser a sua missão: dar voz aos jovens, conseguir-lhes um futuro melhor e reforçar a sua participação cívica. Mas deixa o aviso: as jotas não são fábricas de empregos nem passaporte para uma carreira política.
O que o levou a integrar uma juventude partidária?
Sempre me interessei por política e desde muito novo comecei a procurar informação para pertencer a uma juventude partidária. A escolha pelo PSD veio porque entre os partidos políticos é o que melhor se adequa à realidade da sociedade portuguesa e, na minha opinião o mais livre, sem censura.
O que pretende com a política e o que acha que pode mudar com ela?
Embora uma juventude partidária não seja poder, o que pretendo é dentro do que está ao meu alcance ser a voz dos jovens de Azambuja, defender os seus interesses e incentivar à sua participação cívica. Os jovens precisam de ser aliciados para a política, voltar a acreditar nela e, para isso, é preciso mostrar-lhes que uma juventude partidária é um bom instrumento para combater desigualdades e fazer frente aos problemas.
Os “jotas” são a porta de entrada para um emprego fácil ou uma carreira política.
Infelizmente ainda há quem entre ou queira entrar na esperança de arranjar um emprego ou abrir caminho para uma carreira política, e isso dá uma má imagem às jotas e a quem está cá pelos motivos certos.
A JSD ainda não conseguiu que fossem feitas obras na Escola Secundária de Azambuja. Ligam pouco aos apelos dos jovens?
Há anos que a JSD anda a alertar para as más condições desta escola. Uma das medidas que tomámos passou por trazer os deputados do PSD na Assembleia da República. Já depois disso, as obras tiveram luz verde do Ministério da Educação, mas como a Câmara de Azambuja aceitou a transferência da competência da educação agora tem um orçamento de 1,5 milhões de euros para uma obra orçada em 3 milhões. Mais uma vez, a obra fica parada...
Aceitar competências na educação foi uma má opção do município?
Considero que a câmara municipal tem uma forma passiva de fazer política. É reaccionária, ou seja, só reage a um problema depois de se aperceber que está a gerar uma opinião negativa na população. E essa inacção torna a resolução dos problemas muito mais difícil.
Depois dos estudos, por norma, segue-se um estágio. Concorda com o actual sistema de estágios que servem para as empresas terem mão-de-obra barata?
Em Portugal há esse problema, em Azambuja inclusive. Enquanto noutros países da Europa os estágios são uma porta de entrada nas empresas e um forte estímulo ao emprego jovem, por cá, na maioria das vezes, o final de um estágio não vem acompanhado de um contrato de trabalho.
O Governo deve premiar as empresas que celebrem contratos no final de um estágio?
Por exemplo. Mas este Governo peca por gerir o país no agora, ao invés de o governar com visão de futuro. Não estimula a economia, nem arranja políticas para captar jovens talentos qualificados que, por falta de oportunidades no país acabam por emigrar e ter sucesso no estrangeiro.
Qual é o panorama de Azambuja em termos de emprego jovem?
Azambuja tem todo o potencial para ser um oásis para o emprego jovem. Está a 20 minutos de Lisboa, de um aeroporto e tem empresas enormes como a Sonae e a Jerónimo Martins, mas o município precisa de promover o emprego jovem. Além disso, para cá só vêm projectos como a lixeira ou as centrais fotovoltaicas que não acrescentam nada a esta população. Há falta de visão estratégica e proactividade para trazer melhores empresas para Azambuja. Esta câmara municipal aceita aquilo que lhe aparece e não cria condições para poder escolher o seu tecido empresarial.
A JSD de Azambuja atribuiu culpas à câmara municipal pela montaria na Torre Bela, porquê?
Não vou dizer que tem a culpa porque a Torre Bela é uma propriedade privada, mas a partir do momento que a Câmara de Azambuja aprovou o interesse público municipal mandou um sinal positivo lá para fora. Era lógico que algo tinha de acontecer, pois não é possível a coexistência de fauna e flora com painéis fotovoltaicos. Pode dizer-se que não foi conivente com a matança, mas tem algum grau de responsabilidade.
A polémica e descontentamento da população serão suficientes para travar este projecto?
Não, na minha opinião vai avante. Infelizmente mesmo depois destas pressões não acredito que o PS vá votar contra. Mas vão querer passar a ideia que não tiveram outra escolha porque o mal já estava feito. Fizeram o bolo e vão comê-lo também, dizendo que não queriam, mas teve que ser.
Para a JSD este é um erro equiparável ao do aterro às portas de Azambuja?
Este projecto não vai beneficiar a população, mas não será um erro tão crasso como o do aterro. Nunca vou perceber como se permite uma lixeira a menos de 500 metros de habitações, incluindo a minha. Não é fácil viver com um cheiro insuportável e pragas de insectos em casa.
O que faz falta aos jovens de Azambuja?
A habitação está quase tão cara como em Lisboa, não há emprego, não há actividades lúdicas ou culturais. Não temos cinema, teatro e nada muda. Lembro-me que quando andava de skate tinha de ir para o Cadaval... Juntámo-nos a uma petição dos jovens de Aveiras de Cima e através dos vereadores do PSD apresentámos uma moção a pedir um skate parque. Foi aprovada e espero que não vá para o lixo.
Qual é a próxima iniciativa da JSD de Azambuja?
Agora estamos a desenvolver iniciativas de incentivo ao voto. Vamos apresentar nas nossas redes socias todos os candidatos às presidenciais, numa tentativa de esclarecer e informar os jovens.
Um jovem das finanças que apanha pêras no Verão
Henrique Gonçalves nasceu a 2 de Março de 1998 na maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. Viveu o primeiro ano de vida em Moscavide, até se mudar com a família para Azambuja. É licenciado em gestão e frequenta o mestrado em Finanças, na Nova School of Business and Economics, anteriormente Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Nas férias do Verão costuma trabalhar na Sugal e na apanha da pêra, “como quase todos os jovens de Azambuja”. Estagiou na Marinha Portuguesa, numa empresa de metalomecânica e na missão permanente de Portugal junto da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Lidera há 11 meses os 70 jovens (entre os 14 e os 30 anos) que militam na JSD de Azambuja e, para já, não sonha com um cargo político mais alto no concelho. Mas, ressalva, “nunca se diz nunca”. Aos políticos que estão no activo não lhes inveja a “política incendiária” e em jeito de pedido diz que todos, sem excepção, deviam guerrilhar menos e pensar mais nos problemas do concelho.