Os rostos esquecidos da pandemia
Os técnicos auxiliares de saúde são dos rostos mais importantes na linha da frente contra a pandemia, mesmo sem serem reconhecidos como profissionais de saúde, nem terem uma profissão digna, usufruíndo de um ordenado mais condigno que a exigência da profissão assim o requer.
Estamos a viver tempos nunca antes vivenciados tendo em conta a pandemia que assolou o mundo inteiro, e que parece não querer dar tréguas. Os governos desdobram-se em medidas (umas mais assertivas que outras) para fazer face a esta grande guerra contra um inimigo invisível.
Têm também surgido aqui e ali diversos elogios - bem merecidos - aos profissionais de saúde que têm estado na linha da frente de combate a este vírus, pois sem estes profissionais que não têm parado, as proporções seriam muito mais avassaladoras.
Mas, infelizmente, têm-se esquecido de tantos profissionais tão importantes para o combate ao vírus, quanto os profissionais de saúde, que também não pararam por um único momento, e que, digo eu, estão ainda mais na linha da frente.
Refiro-me por exemplo aos bombeiros, que são os primeiros a ser chamados para uma ocorrência, sem saber se estarão ou não em contacto com contaminados, e aos auxiliares de acção médica que são os primeiros a receber as pessoas nos lares e nos hospitais, e cujo contributo é imprescindível para que os médicos e enfermeiros possam desempenhar esse papel.
Hoje gostaria de homenagear os auxiliares de acção médica, e numa próxima publicação fazê-lo aos bombeiros por quem tenho uma estima e uma consideração muito grande.
Os ex-auxiliares de ação médica, atualmente denominados de assistentes operacionais, são pessoas que diariamente dão de si em prol dos outros, são eles que fazem com que as estruturas de apoio aos nossos doentes/utentes, (hospitais e lares) funcionem.
A eles é-lhes exigido, que ajudem na higiene diária dos nossos familiares, apoiem quando necessário na alimentação, troquem fraldas e coloquem aparadeiras, façam a desinfecção das unidades dos doentes, e muitas vezes até outras limpezas que deveriam estar a cargo de equipas destinadas para o mesmo.
Muitas vezes são os que dão consolo e conforto aos nossos familiares, além de escutarem as queixas dos mesmos, acumulando assim uma subcarga emocional intensa, pois lidam diariamente, e cada vez mais, com doentes com as mais variadas demências.
Apoiam os enfermeiros nos tratamentos, ajudam também os técnicos de diagnóstico na preparação dos doentes para os exames, em certos casos também na toma de medicamentos, fazem quilómetros todos os dias em recados, ora a levar amostras biológicas, ou medicação, e transporte de doentes, entre outras situações, com a agravante de que passam muito mais horas com os doentes/utentes, consequentemente com um risco mais elevado de contrair qualquer infecção.
Estes profissionais não tem fins-de-semana, trabalham em rotatividade 24 horas diárias, 365 dias por ano, não podem contar passar o Natal, Ano Novo, ou outras festividades em casa, com os seus familiares, as férias não são por si escolhidas, mas sim por um plano de escala anual, e fazem muitas vezes turnos de 10, 12 ou 14 horas seguidas.
Tudo isto, sem serem reconhecidos como profissionais de saúde, nem terem uma profissão digna, usufruíndo de um ordenado mais condigno que a exigência da profissão assim o requer.
Estes são o rosto esquecido da pandemia, é hora de lhes prestar a devida homenagem, não com palmas, mas sim com a criação da mais que merecida e justa carreira profissional (Técnicos Auxiliares de Saúde)!
Pedro Pardal Henriques.