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O Enterro do Entrudo, do Galo, do Bacalhau ou do raio que o parta à moda do Serafim

Inspirado Manuel Serra d’Aire

Este ano o malvado vírus pôs de quarentena a tradição dos enterros do Entrudo, do Galo ou do Bacalhau, tantas são as denominações que existem para a cerimónia de Quarta-Feira de Cinzas, onde se corta forte e feio na casaca de políticos e outras personalidades que se destacam pelas suas façanhas públicas e privadas. Não houve carpideiras lúbricas agarradas a belos pedaços de loiça das Caldas nem cenas pecaminosas do género, mas cá estou eu para garantir os serviços mínimos em prol da nobre arte do escárnio e maldizer. É um trabalho sujo, sim, mas alguém tinha que o fazer.

O vereador de Torres Novas
É homem de má sina
E não houve ninguém a dizer-lhe
Para mandar lixar a vacina

Em Alpiarça o politburo
Deve andar em polvorosa
Para escolher o sucessor do Pereira
E não dar a câmara ao Rosa

A Chamusca tem um capataz
Que se chama Paulo Queimado
Mas se houvesse lógica nos nomes
Devia chamar-se Chamuscado

Samora é por muitos conhecida
Como terra de Carnavais
Mas já é tempo de mudar de título
Para capital dos lares ilegais

O PS de Santarém
Esteve calado o mandato inteiro
Só deu sinais de vida
Quando arrancaram as bolas do Barreiro

O pivete em Alcanena
É mesmo abaixo de cão
Desapareceu há uns tempos de cena
Para voltar lá para o Verão

Os lesados da Águas do Ribatejo
Não são um, nem dois nem três
Mas cá p’ra mim terão tanta sorte
Como os lesados do BES

No Cartaxo há grossa polémica
Com as facturas do gás natural
A trapalhada é tão patética
Que parece partida de Carnaval


Dois autarcas de Vila Franca
Parece que andaram à estalada
O caso foi para tribunal
E acabou por dar em nada

Nestas bravatas de políticos
Devia ser como em tempos ancestrais
Um duelo ao amanhecer
E deixar em paz os tribunais

Tomar tem um vereador
Que reúne em modo itinerante
O homem ganhou tal fama
Que já lhe chamam ás no volante

A calmaria tem imperado
Nas reuniões de Câmara de Abrantes
O homem dos burros foi dentro
E já nada é como dantes

Têm sido tempos negros
Lá para as bandas de Azambuja
Primeiro foi o fedor do aterro
Depois aquela caçada suja

Razão tem o presidente Sousa
Em descartar a autárquica teta
Com tanto imbróglio em mãos
Também eu me punha na alheta

Para a nossa classe política
Que nos inspira o ano inteiro
Vou encomendar em take-away
Doses de bicadas no traseiro

Depois destes singelos desabafos
Já me sinto como o aço
É hora de me despedir Manel
Do Serafim das Neves aquele abraço

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