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A revisão da Lei Eleitoral para as autárquicas e os carreiristas

Na ciência política aprendemos que os partidos políticos não são mais do que máquinas de captura, exercício e manutenção do poder. Mas será que serão só isto? Claro que não. Lá dentro, entre paredes pelintras fabrica-se um modelo de pensamento que dá pelo nome de carreirismo.
Com a revisão da Lei Eleitoral os candidatos independentes a órgãos autárquicos ficam impedidos de lutar em pé de igualdade com as máquinas partidárias. Obstáculos burocráticos que desmotivarão a cidadania participativa, manobra que também em ciência política tem um capítulo especial de estudo designado como “clandestinidade do estado”.
Isto é o que toda agente vê, e não é preciso ir a Coimbra para o perceber. Todavia, é esta mesma revisão que nos obrigará a voltarmos ao carreirismo. Afastada a democracia teremos que levar com o carreirista, esse manequim da loja dos trezentos, essa figura a roçar a tristeza do pedinte de mão estendida à porta da igreja em dia de missa.
Em verdade, o carreirista não existe como pessoa. Ele é apenas um vírus oleoso que espreita a sua oportunidade. Andou anos e anos a levar na cabeça, passou até pela presidência de uma concelhia do partido, tentou espalhar charme numa de vereador confuso com a sua própria existência, mas nunca passou de um órfão de vontade, de ideias e de outras atitudes que só estão ao alcance dos eleitos. Em suma, não passa de publicidade barata a uma marca de shampoo com aromas inebriantes a queijo limiano.
O carreirista nunca será nada sem um apadrinhamento. Na altura certa, aparece-lhe sempre uma madrinha e é ela a primeira a bloquear qualquer questão atinente à qualidade do perfil do seu afilhado. Com ela, nunca ninguém questionará o seu percurso funcional igual a zero.
Mas os contribuintes irão pagar o ordenado a uma coisa destas? A pergunta é óbvia, mas a resposta não o será menos. A partir daqui os que foram preteridos para lhe dar passagem serão obrigados a não ter memória, mas sim uma vaga ideia. Que o tipo nunca fez nada na vida todos sabem, mas o que a madrinha não quer que se saiba antes das eleições é que o seu afilhado será, doravante, um convencido da vida que gritará a plenos pulmões o seu apoio ao comércio local, para em seguida licenciar uma grande superfície mesmo ali ao lado.
Foi este cenário que a revisão da Lei trabalhou para nós. Isto parece mesmo feito para “gozar com quem trabalha” mas não é. O que a madrinha também não sabe é que, oferecendo gato por lebre, é desta forma que se perdem eleições.
Alcino Elyseu

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