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Ainda se lembram de Álvaro Guerra?
José Fidalgo

Ainda se lembram de Álvaro Guerra?

Um dia convidou-me para almoçar, para me perguntar “qual a razão de ter um transmontano como presidente da junta de freguesia da minha terra?”. Confidenciou-me que um dos seus grandes desejos era ver ligadas as comunidades desde a nascente até à foz do rio Tejo

Um dia convidou-me para almoçar, para me perguntar “qual a razão de ter um transmontano como presidente da junta de freguesia da minha terra?”. Confidenciou-me que um dos seus grandes desejos era ver ligadas as comunidades desde a nascente até à foz do rio Tejo
Lembram-se daquele que disse ter sido candidato a toureiro, mas que tendo jeito não tinha coração. Lembram-se daquele que direcionou o jeito para a ‘palavra’ e o coração para a terra que o viu nascer e tornar-se numa das figuras mais notáveis de Vila Franca de Xira ?
Lembram-se do HOMEM que viajou pelo mundo, numa primeira fase enquanto ‘condenado’ pelo regime ditatorial e, numa segunda fase, enquanto diplomata? Representou Portugal na antiga Jugoslávia, na Índia, no Zaire, em Estrasburgo e na Suécia e foi conselheiro do Presidente da República Ramalho Eanes. Quanto ao seu jeito para a palavra, colaborou no jornal “República”, no “Jornal do Caso República” e foi fundador do jornal “A Luta” e, ainda, diretor de informação da RTP. Como escritor, da sua vasta obra, saliento que o prefácio do seu romance “Os mastins”, foi assinado pelo respeitado Alves Redol, e que a “trilogia dos cafés” (Café Central, Café República e Café 25 de Abril), teve como palco de inspiração o “Café Central” da sua Vila Franca de Xira.
Todo este seu percurso invejável mereceu a atenção do Estado que o agraciou com o grau de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, em 1980, com o grau da Grã-Cruz da Ordem do Mérito em 1985 e, no mesmo ano, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade. As autarquias, junta de freguesia e câmara municipal também lhe prestaram homenagem. A mais recente aconteceu em outubro de 2017, aquando da comemoração do seu 80º aniversário, com a inauguração de uma escultura no cais, inspirada, ao lado da Fábrica das Palavras. Escultura cujo autor é outra figura notável de Vila Franca de Xira: António Antunes.
Mas, para mim, o maior registo da sua história de vida é o facto de ter tido sempre um acompanhamento presente à terra que o viu nascer, sempre preocupado com o futuro de Vila Franca de Xira. Um dia convidou-me para almoçar, para me perguntar “qual a razão de ter um transmontano como presidente da junta de freguesia da minha terra?”. Confidenciou-me que um dos seus grandes desejos, numa perspetiva socioeconómica, era ver ligadas as comunidades, desde a nascente até à foz do rio Tejo. Guardo, com grande carinho, a sua visão e o seu sentido simples e objetivo. O Álvaro Guerra que não queria o seu nome atribuído a uma rua ou praça, mas aceitaria que fosse atribuído a um jardim.
O HOMEM com uma paixão pela sua terra, com uma postura de lutador pela democracia e pelo desenvolvimento de Vila Franca de Xira. Achei que este era o momento para partilhar estas confidências, para lembrar que ainda é pouco o que se fez, em proporção com o valor e prestígio alcançado por Álvaro Guerra. Lembrar que as figuras notáveis de Vila Franca de Xira são uma fonte de inspiração. E, dentro desses notáveis, espero que os atuais e futuros autarcas e, sobretudo, a população de Vila Franca de Xira não se esqueçam do homem que gostava de quem gostava de Vila Franca de Xira, terra de que era um fervoroso defensor.

Ainda se lembram de Álvaro Guerra?

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