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Diz o roto ao nu
Santana-Maia Leonardo

Diz o roto ao nu

Como pode Cavaco Silva falar em Portugal Amordaçado, quando, sendo economista e quadro do Banco de Portugal, permitiu como Presidente em cooperação estratégica com o Governo de Sócrates, que políticos incompetentes e/ou corruptos, banqueiros ávidos de lucros fáceis e impossíveis de gerar por uma economia sustentável, construtores e especuladores imobiliários, consultores e escritórios de advogados levassem o país à bancarrota, com esquemas de despesas absolutamente criminosas e a uma escala gigantesca?

A expressão popular “diz o roto ao nu” resume na perfeição as intervenções a que assistimos no espaço público: seja no Parlamento, na comunicação social ou nas redes sociais. O nosso grande e grave problema tem a ver precisamente com a chamada “cultura da exigência”. E, como todos já devíamos saber, o exemplo é a única forma de ensinar.
Acontece que os portugueses, de uma forma geral, apenas são exigentes quando se trata de cobrar aos outros, exigindo-lhes aquilo que nunca praticaram, nem exigem aos seus. Aliás, a si e aos seus, toleram e justificam tudo, não tendo sequer pejo de usar a expressão típica dos canalhas, quando são apanhados com a boca na botija: “os outros, se cá estivessem, faziam o mesmo”.
Por exemplo: como pode o PSD exigir a demissão da ministra da Justiça, quando não demitiu a sua ministra da Justiça, após a tragédia da reforma do mapa judiciário? (Para já não falar do resto...).
E como pode Cavaco Silva, falar em Portugal Amordaçado, quando, sendo economista e quadro do Banco de Portugal, permitiu como Presidente (para já não irmos mais longe), em cooperação estratégica com o Governo de Sócrates, que políticos incompetentes e/ou corruptos, banqueiros ávidos de lucros fáceis e impossíveis de gerar por uma economia sustentável, construtores e especuladores imobiliários, consultores e escritórios de advogados levassem o país à bancarrota, com esquemas de despesas absolutamente criminosas e a uma escala gigantesca?
Se Portugal é hoje um país amordaçado é precisamente por causa daqueles que tiveram a oportunidade de reformar Portugal, tornando-o num país próspero, com uma sociedade civil livre e independente do poder político, e em vez disso levaram o país à bancarrota e à miséria, tornando a esmagadora maioria dos portugueses dependente do erário e da esmola pública a quem têm obrigatoriamente de vender o voto para poder sobreviver.
O descrédito da política portuguesa reside precisamente nesta dualidade de critérios: exige-se aos outros o que não se pratica em casa.
No futebol, passa-se precisamente o mesmo ou não fossem os protagonistas feitos da mesma massa, quando não são os mesmos: os maiores críticos e os que mais se indignaram e indignam com os comportamentos do Apito Dourado são precisamente os que mais toleram comportamentos idênticos do seu clube. É caso para dizer, parafraseando o nosso actual Presidente da República, que, no campeonato da hipocrisia e do cinismo, os portugueses são os melhores dos melhores.

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