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A frustração de quem vive isolado sem Internet e rede móvel
Manuel Alves, José Martins, Paulo Dias e Nelson Norte

A frustração de quem vive isolado sem Internet e rede móvel

A dificuldade no acesso à Internet e rede móvel é motivo de preocupação em alguns pontos da região. O teletrabalho enviou muita gente para casa que não tem as ferramentas necessárias para trabalhar. O MIRANTE conversou com alguns presidentes de junta que dizem sentir-se frustrados, e cansados, de tanto se queixarem e de as entidades nada fazerem para resolver o problema.



O confinamento e o teletrabalho agravaram os problemas do acesso à Internet e redes móveis em algumas das aldeias mais isoladas da região ribatejana. O facto de as pessoas passarem mais tempo em casa implicou um aumento significativo no tráfego de Internet, retirando ainda mais força a um sinal que já era fraquinho.
Na União de Freguesias de Mação, Penhascoso e Aboboreira, a população vive o drama de quase ter de subir à serra para poder fazer uma chamada telefónica. Quem o diz é José Martins (PS), presidente da junta, que lamenta os constrangimentos que esta situação causa, principalmente, na população activa.
“Se der uma volta pelas aldeias, vai ver telemóveis colados às janelas porque é o único sítio onde apanham sinal. O telemóvel, mais do que qualquer outra coisa, é uma ferramenta de trabalho. Temos um terço da população da freguesia em teletrabalho e não há rede móvel”, explica o autarca com indignação.
O pior cenário vive-se nas aldeias de Queixoperra e Pereiro de Mação, onde a população é maioritariamente jovem e não tem como frequentar o ensino online devido à falta de Internet. “Quando o Governo anunciou que ia oferecer computadores aos alunos, sorri de forma irónica. Se não há Internet, de que lhes serve? É como comprar um carro e ele não ter rodas para andar”, declara.
A união de freguesias a que José Martins preside tem cerca de 3.000 habitantes. O autarca diz que tem feito muita pressão junto das entidades responsáveis, mas sem ter efeitos práticos. Cadete de Matos, presidente da Anacom, entidade que regula as telecomunicações, é seu amigo pessoal, mas “não tem sido feliz na tarefa de convencer as operadoras a investirem nas aldeias mais isoladas do interior”, afirma.

“As operadoras só pensam
em realizar lucro”
No concelho vizinho de Abrantes, Manuel Alves, presidente da Junta de Freguesia da Bemposta, diz sentir-se “frustrado” por andar há anos a batalhar para que as entidades sejam responsabilizadas por se esquecerem dos que vivem fora dos grandes centros urbanos. “As operadoras só pensam em realizar lucro. Com certeza, não vão investir em territórios com poucos habitantes, onde grande parte da população tem mais de 50 anos”, reconhece.
O autarca não tem dúvidas ao afirmar que uma das razões para a desertificação do interior é não haver condições para que as famílias se fixem nas localidades. A população das aldeias de Chaminé, Vale de Açor, Vale de Horta, e Foz são as mais prejudicadas pela falta de Internet e rede móvel. A freguesia da Bemposta tem cerca de 1.500 habitantes, mas em 2001 eram mais de 2.200.
Na freguesia de Alcobertas, concelho de Rio Maior, a população tem-se unido frequentemente para reclamar contra as operadoras, mas nunca recebem resposta de volta. A junta de freguesia, como representante dos cerca de um milhar de eleitores, tem realizado todas as diligências possíveis à procura de resolver ou, pelo menos, minimizar os problemas com o acesso ao sinal de Internet e rede móvel.
“Os nossos alunos não conseguem marcar presença nas aulas online. Temos muitas pessoas que são obrigadas a ir para os escritórios das suas empresas, em Lisboa, porque não conseguem trabalhar em casa. É um problema que dura há anos, que os políticos dizem ter conhecimento, mas depois assobiam para o lado”, lamenta Paulo Dias, presidente da junta.
Alcobertas situa-se a norte do concelho de Rio Maior, a cerca de 12 quilómetros da cidade. Tem cerca de 1.200 habitantes, tendo perdido cerca de 800 nos últimos dez anos. “Os jovens que crescem nas nossas 12 pequenas localidades vão estudar para as grandes cidades e não regressam, porque não têm condições para formarem o seu futuro”, reforça.

Problema resolvido em Santo Estêvão
Em oposição às situações vividas nas freguesias já referidas, Santo Estêvão, no concelho de Benavente, não tem problemas com os sinais de Internet e rede móvel. Já o tiveram, mas foram resolvidos recentemente com a instalação de fibra óptica em quase todas as localidades da freguesia, segundo explica Nelson Norte, presidente da junta.
“Todas as crianças têm computador e Internet. Os idosos têm um espaço Internet ao seu dispor e aprendem informática na universidade sénior. Estamos a trabalhar para dar mais literacia à nossa população e continuar a fazer crescer a freguesia. Santo Estêvão tem cerca de dois mil habitantes, tendo crescido mais do dobro nos últimos 20 anos. “A ruralidade, a segurança e qualidade de vida, aliadas à proximidade com Lisboa, fazem de Santo Estêvão um lugar apetecível para construir família”, sublinha, com orgulho.

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