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O mundo das pedreiras de Ourém também pertence às mulheres
Romeu Soares e Bruna Santos são os responsáveis da Filstone, a maior pedreira do concelho de Ourém

O mundo das pedreiras de Ourém também pertence às mulheres

A falta de informação sobre como trabalham as empresas da extracção de pedra em Ourém é assunto recorrente na comunidade e classe política local. A Filstone é uma das maiores empresas do concelho, e a mais prestigiada, com cerca de 180 trabalhadores, sendo que mais de três dezenas são mulheres. Romeu Soares e Bruna Santos receberam O MIRANTE para esclarecer algumas dúvidas e explicar como funciona um negócio que movimenta milhões de euros por ano.


O núcleo de Casal Farto, aldeia situada no concelho de Ourém, tem cerca de 15 empresas que se dedicam ao negócio da extracção da pedra. A forma com é realizada a exploração do recurso natural divide opiniões, nomeadamente no que diz respeito às áreas de expansão e aos problemas que oferecem aos moradores das aldeias vizinhas, relacionados com o ruído, poeiras e o tráfego das centenas de camiões que circulam dentro das localidades.
Romeu Soares e Bruna Santos, responsáveis pela comunicação da Filstone, a maior empresa do núcleo, receberam o repórter de O MIRANTE para esclarecer algumas dúvidas e explicar como funciona o negócio que, garantem, tem uma preocupação constante com o ambiente e com a comunidade local. O percurso pela pedreira durou uma manhã e foi realizado num “buggy” eléctrico, idêntico aos que se utilizam nos campos de golfe.
A Filstone trabalha com dois segmentos: o da rocha ornamental, que se apresenta em forma de blocos de pedra gigantes; e o segmento das britas industriais, produzidas através do material que não é utilizado para bloco. O último sector está em fase de crescimento e surgiu da necessidade de se aproveitar todo o material extraído da natureza a fim de cumprir o seu compromisso ambiental, sem desperdícios.
Os subprodutos são utilizados para a construção de obras públicas, produtos para a cal e para a indústria cimenteira. “Respeitamos o que a natureza nos dá e preocupamo-nos com o ambiente. Vamos agora iniciar um novo projecto que implica o aproveitamento das terras que caem no momento da extracção uma vez que são muito ricas em sais minerais para a agricultura”, explica Romeu Soares.
Enquanto se desce a encosta, onde estão os funcionários a comandar as máquinas, Romeu vai explicando como funciona o processo de extracção. O trabalho é realizado recorrendo a máquinas de fio e corte; os explosivos, nomeadamente a dinamite, nunca fizeram parte do processo. O primeiro passo implica um corte junto ao solo para a parede ficar descolada em baixo; de seguida fura-se a parede com uma sonda e passa-se fio diamantado para separar a massa da montanha. “Não há qualquer tipo de má utilização da rocha”, sublinha.
Depois de descolada inflama-se a parede, que é derrubada para cima de uma cama de alvenaria; a talhada corta-se aos bocados formando os blocos que, depois de seleccionados, são colocados dentro de contentores e enviados para as empresas. Mais de 90% do produto é exportado para países como China, Tailândia, Inglaterra, Itália e Estados Unidos da América. Em Portugal, quem quiser adquirir a pedra da Filstone tem de recorrer a empresas parceiras que, só no concelho de Ourém e Leiria, são mais de uma dezena.
PREOCUPAÇÃO COM A COMUNIDADE E COM A IGUALDADE DE GÉNERO
A Filstone abriu portas em 2002 pelas mãos de Ricardo Filipe, actual administrador, e do seu pai e avô, Alfredo e Daniel Filipe. Só em 2008 se implementou no núcleo de Casal Farto, situado em plena Serra de Aire e Candeeiros. Como todas as famílias que crescem, a Filstone passou, nos últimos quatro anos, de 40 para 180 trabalhadores. O papel das mulheres na empresa tem ganho importância, aumentando, no mesmo período, de seis para mais de três dezenas de funcionárias.
Lúcia Oliveira, por exemplo, é uma jovem engenheira que veio de Almada para a aldeia da Maxieira, onde encontrou tranquilidade e a amabilidade dos seus novos vizinhos que “oferecem regularmente produtos das suas hortas”. Xadilma Santos, natural de Angola, trocou a azáfama de Lisboa, pela calmaria da aldeia de Boleiros, situada a poucos quilómetros da pedreira. “Trabalhar nas pedreiras já não é tão duro como antigamente. A tecnologia tem sido fundamental como complemento à mão-de-obra. A média de idade dos trabalhadores é de 38 anos e todos vestem a camisola como se a empresa fosse deles”, assegura, Bruna Santos.
Da mesma maneira que a empresa não distingue, em termos laborais, homens e mulheres, também não o faz no que diz respeito à sua nacionalidade. “Gostamos de receber pessoas vindas dos quatro cantos do mundo. A nossa família é composta por venezuelanos, australianos, romenos, brasileiros, franceses, entre outras nacionalidades”, menciona.
A expansão da área de exploração das pedreiras é um assunto que está sempre na ordem do dia, mas os responsáveis garantem que todo o processo é legal e que o “barulho” que se vai ouvindo acontece sempre que há períodos de campanha eleitoral. O recrutamento de novos quadros dá prioridade a quem vive no concelho de Ourém e os que vêm de fora mudam a residência para as freguesias vizinhas contribuindo para a economia.
Sobre a participação da Filstone no desenvolvimento do concelho, Romeu Soares garante que já foram construídas estradas, plantam-se árvores com regularidade e criaram-se barreiras para reduzir o impacto visual das pedreiras e garantir que as poeiras não saem para o exterior. “Também demos um grande apoio para a requalificação do Centro de Dia em Boleiros e colaboramos activamente com todas as instituições desportivas e de solidariedade social das aldeias vizinhas. Não divulgamos tudo porque não faz parte da maneira de estar da nossa administração”, conclui.
O mundo das pedreiras movimenta milhões de euros por ano e há quem diga que as empresas estão a enriquecer à custa do recurso natural. Romeu Soares desmente: “É mentira! Gastamos milhões de euros em aquisições, taxas autárquicas, e somos, com certeza, uma das empresas do país que mais gasta em equipamentos de extracção para reduzir poeiras. Trabalhamos com electricidade em vez de combustão para não poluir o ambiente. Temos a porta aberta para quem nos quiser visitar e ver com os próprios olhos o trabalho que fazemos”, conclui.

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