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Sobrevivente do lar de Riachos  estava ferida e era sedada em excesso 
Irene Crisóstomo e a sua mãe já foram ouvidas pela Polícia Judiciária

Sobrevivente do lar de Riachos  estava ferida e era sedada em excesso 

Familiares e utentes do lar clandestino já foram ouvidos pela Polícia Judiciária. Filha conta que a mãe, de 86 anos, tinha as costas em ferida e era sedada em excesso para não incomodar.


Palmira tem 86 anos e foi uma das duas idosas evacuadas do lar ilegal em Riachos, Torres Novas, depois de serem descobertas duas mortes suspeitas nessa estrutura. Sobreviveu. Sarou as feridas que carregava nas costas, voltou a andar e já reconheceu os familiares. A proprietária do lar, que está em prisão preventiva, arrisca uma pena superior a dez anos, por maus tratos agravados que resultaram em duas mortes, profanação de cadáver e maus tratos infligidos a Palmira e a outra idosa.
Dois dias depois de ter sido ouvida pela Polícia Judiciária (PJ), a filha da sobrevivente, Irene Crisóstomo, diz a O MIRANTE que a idosa estava mal tratada e era impedida de falar a sós com os familiares. A proprietária do lar só lhe “pedia comprimidos para dormir”. Irene recusava, dizia que à sua “mãe só quando fosse mesmo necessário”. Só agora percebe: “A minha mãe não estava a ficar com demência. Estava tão sedada que nem sequer reagia ou me conhecia”.
Irene Crisóstomo conta que quando contactou a proprietária do lar para saber como estava a mãe esta lhe disse que estava tudo bem e para não se preocupar. Afinal, estava tudo mal: “Já as autoridades estavam a investigá-la e a minha mãe estava a ser levada para o hospital. Mentiu-me. E só me apercebi quando a GNR ligou a informar-me do que se passava”.
A idosa foi imediatamente hospitalizada. “Nesse dia fui vê-la e nem sequer me reconheceu, não falava”. As costas estavam em ferida, fazendo suspeitar que passava demasiado tempo deitada e com a mesma fralda horas a fio. “Uma vez disse-me que lhe doíam as costas, mas não tinha hipótese de se queixar mais porque ela [a proprietária] nunca nos deixava a sós”, conta Irene.

“A minha mãe podia ter sido
a próxima a morrer”
Foi a morte de duas idosas no início de Março deste ano que desvendou a existência da estrutura clandestina, no bairro Sopovo, em Riachos, e os alegados maus tratos infligidos pela proprietária. O discurso de Irene Crisóstomo é de choque, medo e revolta. “Passei várias noites sem dormir a tentar imaginar o que se passou naquele lar e na cabeça daquela mulher. A minha mãe podia ter sido a próxima a morrer”, diz.
Palmira está desde 5 de Março num lar em Alcanena, onde a mensalidade é mais avultada, mas onde há certezas de que é bem cuidada. Tinha sido, juntamente com outra idosa, a primeira utente a dar entrada no lar ilegal, em Junho de 2020, depois de a estrutura onde se encontrava e onde Ana Alves era funcionária ter encerrado. Segundo a filha, foi a idosa quem pediu para se mudar para “a casa de acolhimento que Ana ia abrir” uma vez que já conhecia a proprietária e era por ela bem cuidada.
Além dos crimes de que está acusada pelo Ministério Público, Ana Alves pode ainda vir a ser responsabilizada por uma terceira morte ocorrida em Dezembro de 2020. Recorde-se que depois de ter sido detida, a familiar deste idoso apresentou queixa às autoridades tendo já sido ouvida pela (PJ).

Peças em ouro estão desaparecidas

As peças em ouro que Palmira tinha em sua posse no lar de Riachos estão desaparecidas. Tratava-se de duas alianças em ouro que deveriam estar numa pequena mala onde eram guardados outros pertences. Foi a filha quem se apercebeu do desaparecimento das peças quando foi ao apartamento buscar os bens da idosa. O caso foi reportado às autoridades.

Sobrevivente do lar de Riachos  estava ferida e era sedada em excesso 

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