Hoteleiros de Fátima desolados com mais uma Páscoa sem turistas
Semana Santa era a porta de entrada para a época alta mas, pelo segundo ano consecutivo, não vai ter impacto nas receitas das unidades hoteleiras da cidade.
As celebrações da Páscoa, que tradicionalmente marcam o início da época alta em Fátima, não terão turistas pelo segundo ano consecutivo devido à pandemia de Covid-19, uma desolação para os hoteleiros da cidade-santuário.
“Esperava reabrir o hotel na Páscoa porque é uma data que diz tudo aos cristãos. Sinto-me desolada, desanimada”, disse à agência Lusa a directora do Hotel Alecrim, Natália Neves, considerando esta “uma época importantíssima, não pelo volume de negócios, mas pelo significado”.
Recordando que na Semana Santa se deslocavam a Fátima muitos espanhóis, Natália Neves salientou que era “um sinal importantíssimo na antecipação da época alta”. O ano passado, a unidade, de 53 quartos, abriu de Agosto ao final de Outubro todos os fins-de-semana e nos dias 12 e 13 quando coincidiam com dias úteis, mas com “um número insignificante de peregrinos”.
Este ano, a directora prevê reabrir a unidade até Maio. “Mas é sempre uma interrogação. Haverá 12 e 13 de Maio? E outras peregrinações vão ser permitidas? Há movimento para se criar um posto de trabalho?”, questionou.
“Este ano não conto abrir”
Menos dias esteve aberto o Hotel VillaFátima no ano passado. Aristides Mendes, o proprietário, concretizou: “Dois dias em Janeiro e dois dias em Fevereiro”. Os encargos elevados e a ausência de procura são as justificações para o encerramento quase pleno em 2020, mas também para este ano.
“Este ano não conto abrir”, confessou, reconhecendo “um certo desalento” no momento actual e dúvidas quanto ao futuro: “A recuperação [económica] vai demorar uns quatro anos, mas duvido que seja para níveis pré-pandemia”.
O vice-presidente da Associação de Hotelaria de Portugal, Alexandre Marto (na foto), admitiu que uma Páscoa sem turistas nem peregrinos é “o aprofundamento de resultados negativos para as empresas que laboram em turismo religioso”.
“Embora a sazonalidade do destino estivesse a esbater-se nos últimos anos, a Páscoa era, tradicionalmente, a porta de entrada para a época alta e esta porta não vai abrir este ano como não abriu o ano passado”, disse Alexandre Marto, director do grupo Fátima Hotels, que faz a representação comercial de 10 hotéis independentes em Fátima. O momento, diz, é de “um misto de ansiedade pela sobrevivência das empresas e de esperança pela resolução do tráfego internacional do turismo religioso”.
“O problema é esta incerteza”
O director do Steyler Fátima Hotel, a maior unidade hoteleira de Fátima, com 204 quartos, temporariamente fechada, destacou, por seu lado, a incerteza do momento actual. “O problema é esta incerteza, não podemos fazer programação nem projecções”, afirmou o padre José Augusto Leitão, adiantando que “tudo isto é muito volátil” e “assim como há reservas, também há cancelamentos”.
O director do Steyler Fátima Hotel, propriedade da congregação religiosa Verbo Divino, acrescentou que se este período de confinamento continuar a ser positivo talvez a partir de 5 de Abril a unidade possa reabrir, já passada a Páscoa, que era um “momento de viragem”.
Ao contrário, o Hotel Santa Maria não fechou portas no último ano. “Sempre tivemos clientes residentes habituais aos quais não poderíamos deixar, nestes tempos de pandemia, de continuar a oferecer os nossos serviços. É uma forma de agradecer o facto de nos continuarem a escolher, a procurar. Para além disso, temos também um nicho importante de mercado ‘corporate’ (de negócios), que usa regularmente o nosso hotel”, declarou a directora, Cristina Marto.
Sobre a ausência de peregrinos nesta Páscoa, Cristina Marto apontou que se tem de “procurar superar estes meses/ano de menor procura e ter esperança que o futuro permita, o mais breve possível, regressar à normalidade”, notando que o destino Fátima recebe visitantes de todo o mundo e “não é um nicho de turismo regional ou nacional”.