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Projecto inovador para alunos com incapacidade no Politécnico de Santarém
foto DR Maria Barbas, coordenadora do curso em Literacia Digital para o Mercado, numa sessão com os seus alunos

Projecto inovador para alunos com incapacidade no Politécnico de Santarém

O Politécnico de Santarém tem um projecto em desenvolvimento que visa dar competências e formação a alunos com incapacidade para ajudar nos processos de integração na vida profissional. Maria Barbas é professora na Escola Superior de Educação e coordenadora do curso em Literacia Digital para o Mercado de Trabalho. Em entrevista a O MIRANTE explica como o programa, único no país, está a fazer a diferença na vida dos alunos e dos pais.



O sucesso do curso em Literacia Digital para o Mercado de Trabalho, do Instituto Politécnico de Santarém (IPS), traduz-se nos resultados e na alegria que alunos, pais e professores não conseguem esconder. A Escola Superior de Educação (ESE) do IPS abriu o curso em Outubro de 2018 com o objectivo de dar as mesmas ferramentas e oportunidades a jovens com mais de 18 anos que tenham uma incapacidade intelectual igual ou superior a 60 %. O programa, que não confere um grau académico, é o primeiro modelo de ensino superior inclusivo no país e teve em Maria Barbas, professora coordenadora na ESE, a sua principal mentora.
A ideia surgiu depois da sua sobrinha Pilar, que tem Trissomia 21, a ter “criticado” por nunca ter colocado de pé um projecto que envolvesse jovens com realidades semelhantes à sua. “Sou uma criadora de projectos e gosto de pensar que todos eles trazem algo de diferente às pessoas e à sociedade. A provocação, no bom sentido, da minha sobrinha foi o ponto de partida para este projecto vencedor”, confessa a O MIRANTE, numa entrevista realizada por telefone a propósito do Dia Internacional do Estudante, que se celebra a 24 de Março.
O curso foi idealizado para dar resposta à necessidade de continuar o trabalho em prol do desenvolvimento destes alunos assim que saem do ensino secundário. “Tenho ouvido relatos de famílias a queixarem-se que os filhos passam muito tempo no sofá. A verdade é que o mercado de trabalho não oferece as mesmas oportunidades de formação e de empregabilidade a jovens com trissomia 21 ou outra incapacidade. Foi por isso que decidi abraçar este projecto”, reforça.
Maria Barbas explica que a formação é inspirada numa outra que funciona há vários anos na Universidade Autónoma de Madrid. O curso desenvolve-se em 19 unidades curriculares que, no final de dois anos, se traduzem em 120 ECTS (European Credit Transfer System), a unidade de medida do ensino superior pós-Bolonha. O primeiro ano serve para desenvolver nos alunos aspectos mais culturais e comunicacionais, enquanto o segundo ano é mais vocacionado para o estágio e para a interacção real com o mercado de trabalho.
“Fomos 20 pessoas a Madrid e regressámos com a ideia de que este curso tinha de existir em Portugal. Os professores leccionam na ESE/IPS e estão muito comprometidos com o projecto e felizes com a oportunidade de fazerem a diferença na vida dos alunos”, afirma a professora.

Jovens estagiaram em grandes empresas
Em 2018, quando o curso abriu, candidataram-se 18 pessoas, mas só puderam ficar 11 devido às dificuldades e exigência que existe em ensinar alunos com níveis elevados de incapacidade. Dois anos depois, os alunos vão receber o diploma de conclusão do curso no dia 25 de Junho numa cerimónia que, espera-se, conte com a presença de convidados.
“A nossa maior felicidade foi conseguir aguentar todos os alunos do princípio ao fim. O interesse dos conteúdos foi importante assim como a resiliência e poder de encaixe de todos os professores. Mas o mais importante foi a integração na comunidade e as cerca de duas centenas de voluntários que têm participado no projecto”, assegura Maria Barbas.
Os alunos ribatejanos que frequentaram o curso são naturais dos concelhos de Santarém, Entroncamento, Coruche e Cartaxo. Daniela Maurício, Diogo Rosário, Preciosa Ferreira, Maria Dias e Marta Cunha estagiaram, durante o último ano, em bancos, escolas, hospitais privados, hotéis, multinacionais e câmaras municipais. Alguns tinham o emprego quase garantido, mas a pandemia veio estragar os planos. “Foi uma pena, mas temos de pensar positivo. Estes jovens adquiriram muitos conhecimentos e estão hoje muito melhor preparados para enfrentar o mercado de trabalho. Daqui a uns meses vamos abrir um novo curso e tentar garantir o futuro a mais uma dezena de jovens”, promete Maria Barbas.

Empresas ajudam a pagar propinas

Uma boa parte dos alunos vive em Lisboa sendo que o transporte diário para o IPS foi garantido por uma carrinha, no âmbito de acordos com várias empresas que permitiu, durante os dois anos, o transporte dos jovens sem pagar combustível ou portagens. “O tecido empresarial tem sido muito importante. Há empresas que ajudaram a pagar propinas, por exemplo; a Câmara de Santarém também atribuiu um apoio importante; um dos alunos vinha de Évora e durante a semana ficava em Almeirim em casa de um senhor que conheceu a sua história. São os pequenos gestos que definem a grandeza das pessoas”, conclui.

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