Das voltas pelo mundo até aterrar na missão social do CASBA
Paulo Bonina é um rosto conhecido em Alverca e é presidente da assembleia-geral do Centro de Apoio Social do Bom Sucesso e Arcena há três mandatos. Foi mestre de carga dos aviões C-130 da Força Aérea Portuguesa e percorreu o mundo em missões, algumas de guerra, que deixaram memórias traumatizantes. Quando passou à reserva trabalhou em empresas de aviação. Dar algo de si à comunidade foi o que o motivou há oito anos a envolver-se no movimento associativo.
Toda a gente com disponibilidade devia envolver-se no movimento associativo e com isso ajudar a melhorar a vida e o bem-estar da comunidade. A opinião é de Paulo Bonina, 56 anos, presidente da assembleia-geral do Centro de Apoio Social do Bom Sucesso e Arcena (CASBA). Está no cargo há oito anos, ou seja, três mandatos.
“Devemos ajudar quem mais precisa, seja em projectos ou instituições. O CASBA é uma instituição ímpar em Alverca e no concelho. É importante contribuirmos para o bem-estar da comunidade de forma abnegada, sem a intenção de daí tirarmos dividendos. Infelizmente ainda vemos muitas situações em que as pessoas não servem a causa, servem-se dela para os seus interesses”, refere a O MIRANTE.
O dirigente diz que já não imagina ver Alverca sem o CASBA, que tem tido um percurso sólido de crescimento no apoio à área social e da infância na cidade. “Só com muito rigor e obtendo bons resultados financeiros se consegue ter capacidade para investir em novas valências sem recorrer a instituições bancárias como estamos a fazer na área dos idosos. Os corpos sociais não são eternos, embora às vezes pareça que sim. Dependemos sempre da vontade dos sócios. Mas acredito que em equipa que ganha não se mexe e se o Fernando Rosa (presidente da direcção) me convidar estarei disponível novamente”, afirma.
Paulo Bonina é natural da freguesia de Santa Maria Maior, na Covilhã, mas está na zona de Alverca desde os 17 anos, altura em que se alistou na Força Aérea Portuguesa (FAP). Na altura a Covilhã estava a atravessar uma grave crise com falta de empregos e Paulo teve de avançar para alternativas. Como é apaixonado por aviões ingressou na FAP. Foi mestre de carga da tripulação dos maiores aviões de carga do mundo, os Lockheed C-130. Foi aí que conheceu praticamente todo o mundo a voar em missões e estava sediado nas bases do Montijo e Lajes, nos Açores.
Apanhou alguns sustos valentes
Esteve envolvido no processo de transição de Timor-Leste, no repatriamento de portugueses de Angola para Portugal, e serviu na guerra do Afeganistão, que confessa ter sido uma experiência traumatizante. “Viver num clima de guerra, em que esperamos uma sirene para ir para um bunker e defendermos a nossa vida, não é agradável”, confessa. Nesse período chegou a ter de viver dois meses em Karachi, no Paquistão, num hotel do aeroporto com condições precárias. “Dormíamos vários militares num quarto diminuto com um chuveiro em que tomávamos banho em apneia porque a água tinha todos os dejectos possíveis e imaginários”, recorda.
Paulo admite que apanhou “alguns sustos valentes” em missões mas sobreviveu para contar a história. Depois de passar à reserva continuou a trabalhar no ramo da aviação, quer na OGMA, em Alverca, a fazer voos de experiência dos aviões que acabavam as inspecções, quer mais tarde numa outra empresa que estava a desenhar um avião de carga baseado no Boeing 767-300, onde teve de viver em Miami, nos Estados Unidos da América, e em Beirute, no Líbano, enquanto o projecto se desenvolvia. Casado, pensa um dia vir a escrever as suas memórias para deixar aos dois filhos.
Paulo Bonina diz sentir orgulho por ter visto crescer a missão social do CASBA nos últimos anos. “Todos os alverquenses e os habitantes do concelho se devem orgulhar do que tem sido feito. Tem havido uma gestão de qualidade e seriedade com o Fernando a tratar a instituição com um profissionalismo doentio”, elogia.
A sua profissão de sonho era ser veterinário por gostar imenso de animais, em particular de aves. Tira-o do sério a desonestidade e a falta de sentido de lealdade. Diz que Alverca, devido ao clima de sapal, não pode ser uma boa alternativa para o futuro aeroporto de Lisboa. “Havia manhãs em que não podíamos voar por causa do nevoeiro. E muitas vezes havia inundações que impediam que se passasse. Para mim, Alcochete é a melhor solução”, conclui.