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Lesões ortopédicas: exercício faz bem mas pode correr mal se o passo for maior que a perna
Gonçalo Martinho, ortopedista no Hospital CUF Santarém

Lesões ortopédicas: exercício faz bem mas pode correr mal se o passo for maior que a perna

Gonçalo Martinho é ortopedista no Hospital CUF Santarém e foi um dos primeiros médicos a usar o bloco operatório, em 2011. Desde então muito mudou na forma de tratar as lesões graves e há cada vez mais crianças a aparecerem com problemas articulares, o que o leva a afirmar que as crianças devem brincar, e não serem atletas. Vivemos numa sociedade sedentária e é preciso estimular o exercício físico, mas para que não haja lesões o clínico alerta que é importante o acompanhamento e a supervisão.


Que efeitos tem a pressão colocada nas crianças para serem atletas de excelência?

Cada vez assistimos mais a mais crianças com lesões articulares. Somos um país de futebol e os miúdos querem ser jogadores. Pais e treinadores incentivam à prática em vez de diversificarem as actividades. Os riscos de lesão estão inerentes a esta prática muito concentrada e exigente numa idade muito precoce. Era importante mudar esta mentalidade. Com treinos quase todos os dias e jogos ao fim-de-semana, a exposição ao risco é maior. São muitas horas em cima dos tornozelos, dos joelhos e das ancas. As crianças devem brincar, e não ser atletas.

Com a pandemia, muitas pessoas que não praticavam qualquer actividade física começaram a fazê-lo. Têm maior risco de sofrer lesões?

Sim, porque a maior parte das pessoas começou sem qualquer acompanhamento profissional. É importante fazer o aquecimento e alongamentos. Qualquer desporto precisa de uma fase de adaptação, experiência e treino. Quando há um excesso de solicitação de determinada estrutura, seja um tendão ou um músculo, pode haver lesão.

Têm aparecido na CUF muitos casos desses?

É muito frequente aparecerem doentes com síndrome de sobrecarga que ocorrem nas pessoas menos preparadas. Quando queremos dar um passo maior que a perna pode correr mal. O exercício é bom para a saúde. Isso é indiscutível. Vivemos numa sociedade muito sedentária e é preciso estimular o exercício, mas para que não haja lesões é importante o acompanhamento e a supervisão.

A rotura do menisco é uma lesão comum nos desportistas?

As lesões ligamentares e lesões musculares que não carecem de tratamento cirúrgico são as mais frequentes. Dentro das que dão chatices e que exigem tratamento cirúrgico a lesão do menisco é a mais frequente. Habitualmente surge por um traumatismo directo do joelho, uma entorse ou uma torção.

Há desportos mais propícios a este tipo de lesão?

Acontece principalmente nos desportos de contacto como o rugby, o futebol, o basquetebol ou o andebol. Ou no ténis, padel e squash, onde há movimentos repentinos do joelho.

Quais as queixas associadas a esta lesão?

A dor é o sinal óbvio que algo não está bem. Mas nem sempre as lesões do menisco se traduzem no início por uma dor muito forte. Pode também ocorrer inchaço, incapacidade ou pouca tolerância para a marcha. Em casos mais complicados e mais raros o joelho fica bloqueado. Não é possível mexê-lo.

Como tem evoluído o tratamento desta patologia?

Todas as cirurgias têm uma aprendizagem inerente. Aperfeiçoamos técnicas que permitem reparar lesões que antes não conseguíamos. Diria que hoje estamos habilitados a fazer qualquer cirurgia ao menisco.

É importante agir o mais cedo possível?

No nosso corpo tudo tem o seu tempo. O que é o mais sensato, numa fase inicial, é esperar sete a dez dias com repouso e gelo. Uma dor e um inchaço que não passam numa semana devem ser avaliados por um médico especialista.

Com a pandemia aguenta-se mais a dor por receio de ir ao hospital?

As lesões do menisco devem ser reparadas nos primeiros três meses. Não faz sentido esperar, por receio da pandemia, porque o bloco operatório não representa riscos. Não é que não se possa fazer depois deste tempo, mas a taxa de sucesso diminui bastante. A taxa de sucesso depende também do ânimo do paciente.

É possível recuperar a actividade desportiva pré-lesão?

Antes de termos a possibilidade de reparar os meniscos o que fazíamos era removê-los. Se há pessoas que toleram razoavelmente bem a ausência dessa estrutura, há outras que não e deixam de praticar o desporto que praticavam antes da lesão. A longo prazo, a remoção de parte do menisco também tem consequências no desgaste da articulação. Tentamos fazer um restabelecimento da função daquela estrutura, o que permite depois voltar à prática desportiva normal.

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